Profissionais da saúde oferecem serviços online em tempos de pandemia

Áreas como Psicologia, Nutrição, Fonoaudiologia e Educação Física mudam suas rotinas presenciais para obedecer ao isolamento social

Ketlindesiqueira
Redação Beta
8 min readApr 14, 2020

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Atendimentos online são prestados durante isolamento social. (Foto: Peter Kniez/Shutterstock)

Devido à recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o isolamento social como melhor forma de evitar a COVID-19, se ampliam os atendimentos online no Brasil como grandes aliados dos profissionais da área da saúde para não expor seus pacientes aos riscos da doença. Até esta terça-feira, 14 de abril, as secretarias estaduais de saúde contabilizam 25.424 infectados e 1.549 mortos. O Rio Grande do Sul já soma 700 casos confirmados, com 18 mortes.

Durante o isolamento se faz ainda mais necessário falar sobre saúde mental e física, alertam especialistas em páginas de instituições de saúde e lives em veículos de comunicação e redes sociais. Mas, o que mudou no trabalho e na rotina dos profissionais da área da saúde, que antes atendiam presencialmente? A consulta por videoconferência ou chamada de vídeo e áudio oferece ganhos similares aos pacientes? A Beta Redação conversou com profissionais da Nutrição, da Psicologia, da Fonoaudiologia e da Educação Física sobre estas questões.

Cuidados com a Nutrição durante a pandemia

Até o dia 31 de agosto de 2020 o Conselho Federal de Nutricionistas (CFN) deliberou, na Resolução CFN nº 646, de 18 de março de 2020, por autorizar a assistência nutricional exclusivamente por meio não presencial, incluindo consultas de avaliação e diagnóstico nutricional.

Os profissionais foram orientados a analisar o cenário e os decretos locais para considerar atendimentos com ausência da avaliação e contato físico com o paciente. A ideia é buscar a melhor modalidade de atendimento para uma adequada assistência na área da Nutrição, sem comprometer a saúde do profissional e do paciente.

A maioria dos pacientes de Veruska Scomazzon ainda preferem ser atendidos presencialmente. (Foto: Ketlin de Siqueira/Beta Redação)

A nutricionista Veruska Scomazzon, 40 anos, pós-graduada em Psicologia e Comportamento Alimentar, conta que os seus atendimentos estão sendo realizados de forma online, via ferramenta Skype ou chamada de vídeo usando o aplicativo Whatsapp. No entanto, ressalta que não teve grande adesão por parte dos pacientes com este tipo de atendimento. “As pessoas que tinham consulta agendada para os dias 20 de março, quando foi publicado o decreto municipal em Garibaldi, preferiram cancelar a consulta presencial. Elas achavam que tudo iria se restabelecer logo”, aponta.

Após alguns dias, os pacientes de Veruska retornaram o contato para remarcar as consultas. “A ansiedade começou a se agravar e me procuraram para solicitar atendimento, pois não paravam de comer em casa. Mas vejo que o pessoal do município prefere o atendimento presencial, pois ele permite que o paciente se pese e se expresse melhor, já que grande parte da minha consulta é voltada para uma conversa”, explica a profissional.

A nutricionista alerta que cuidar da alimentação é uma rotina de extrema importância atualmente, especialmente na manutenção da saúde e para manter o sistema imunológico em ótimas condições. Veruska aponta algumas dicas para planejar as compras no supermercado, que podem ajudar na economia e na segurança das famílias, evitando o esquecimento de itens ou a realização de compras por impulso:

* Minimize a ida aos centros de abastecimento e, quando for, use máscara;

* Se tiver um espaço, comece uma pequena horta em casa;

* Faça compras sozinho, em horários alternativos e evite aglomerações;

* Opte por fazer compras usando sistemas online e de delivery, oferecidos por estabelecimentos de sua cidade;

*Considere alternativas de baixo custo (prefira alimentos da época) e faça o consumo na sua forma integral (muitas cascas e talos nutritivos podem ser utilizados);

*Limite a compra de produtos industrializados, como batatas fritas, refrigerantes, biscoitos e sorvetes.

“Lembre-se que a obesidade é fator de risco para várias doenças, como hipertensão arterial, doenças cardiovasculares e diabetes tipo 2. São doenças que colocam as pessoas em grupos de risco quando se trata da Covid-19”, reforça a nutricionista Veruska Scomazzon.

Psicologia em tempos da Covid- 19

Ao contrário dos nutricionistas, os psicólogos podem realizar atendimentos mediados por tecnologias de comunicação à distância desde a Resolução do Conselho Federal de Psicologia (CFP) nº 11, publicada em 2018. Devem ser observadas, no entanto, as exigências previstas pela profissão, como a necessidade de cumprimento do Código de Ética e a obrigatoriedade de cadastro na plataforma digital e-Psi.

O psicólogo Luan Paris Feijó já atendia online a maior parcela de seus pacientes antes mesmo da pandemia (Foto: Arquivo pessoal)

O psicólogo clínico Luan Paris Feijó, 29 anos, destaca que sua rotina de trabalho diante da pandemia foi alterada, exigindo a adaptação ao atendimento online em um curto espaço de tempo. O especialista em Teoria Psicanalítica e em Neuropsicopedagogia, que é mestre em Psicologia Clínica e atualmente finaliza seu doutorado, comenta que apesar de já trabalhar com alguns pacientes desta forma precisou investir ainda mais em segurança da informação. Ele já utilizava uma plataforma paga de atendimento online, que é e certificada por instituições internacionais de segurança da informação. Mas teve que ampliar seu investimento em conexão de internet, para assegurar que não ocorram falhas técnicas durante os atendimentos, como a interrupção do sinal e quedas de conexão.

Na opinião de Feijó, o momento atual não se mostra o melhor para parar com os acompanhamentos psicológicos, pois estamos vulneráveis devido ao confinamento e diante de desafios que talvez não tenhamos enfrentado em outras situações da vida. “Embora muitos tenham recursos pessoais internos, que às vezes até desconhecem para lidar com o momento, o melhor seria continuar investindo também em saúde mental, para que não adoeçamos após passar a pandemia”, explica.

“Nesse período eu não recebi nenhum paciente novo. Entretanto, vários profissionais da saúde, inclusive eu, estão realizando uma força tarefa para oferecer atendimento psicológico solidário, social ou gratuito, em um formato breve no tempo e limitado a questão da pandemia e do isolamento social. A ideia é minimizar os possíveis impactos psicológicos negativos nas pessoas. Entretanto, cabe ao profissional da psicologia a avaliação da viabilidade técnica para o atendimento dos sujeitos que procuram a terapia online”, explica Luan Paris Feijó.

A Fonoaudiologia e as teleconsultas

Fonoaudióloga Anelise Possan conta que a maioria dos seus pacientes preferem as atividades presenciais, principalmente os idosos. (Foto: Arquivo Pessoal)

Desde março de 2013 os fonoaudiólogos podem prestar serviços por teleconsulta e telemonitoramento, de acordo com a Resolução Conselho Federal de Fonoaudiologia, nº 427. A recomendação atual é de que os profissionais busquem garantir os cuidados de saúde considerados urgentes ou essenciais, e o fonoaudiólogo que prestar este serviço deve garantir uma qualidade equivalente ao atendimento presencial e as boas práticas da área de atuação.

A fonoaudióloga Anelise Possan, 36 anos, especialista em Audiologia Clínica e Ocupacional, conta que sua rotina de trabalho está com horários reduzidos e muitos reagendamentos de consultas presencias. “Não houve grande adesão para consultas online, então me propus a enviar orientações via WhatsApp para que os pacientes não ficassem sem estímulos e nem deixassem de treinar”, esclarece. Conforme Anelise, a maior procura é para exames de recém-nascidos, que foram reagendados para esta semana, entre 14 e 17 de abril.

“Acredito que nunca mais vamos voltar ao normal, vamos atravessar este período e retornar com muito mais cuidados do que antes”, pondera a fonoaudióloga Anelise Possan.

Educação física, pilates e yoga para o isolamento

Após as medidas emergenciais de suspensão de atividades, a educadora física Digiane Passaia, 31 anos, passou a gravar para seus alunos vídeo-aulas com exercícios adaptados para a prática em casa. “Cada aluno tem suas necessidades, limitações e objetivos, e para que eles não se acomodem estou montando e encaminhando os treinos para cada um dos que aceitaram treinar. Então, a forma de trabalho está totalmente diferente do que faço na academia, pois sou acostumada a ter contato físico com o aluno para poder explicar o exercício corretamente e com segurança”, salienta.

A educadora física Digiane Passaia explica sua rotina de trabalho com as modalidades de musculação e pilates. (vídeo: Arquivo pessoal)

A educadora ressalta que quando o profissional está ao lado, auxiliando no exercício, a aula se torna mais fácil e o aluno mais confiante. Ela destaca que a maioria dos alunos se adaptou a essa mudança, apesar de alguns não aceitarem a proposta de aulas por videoconferência ou vídeo gravado, optando por esperar a volta das atividades presenciais. "Mas nesta semana, os alunos que ficaram parados mudaram de ideia, e entraram em contato pedindo auxílio para que pudessem voltar a fazer atividade física mesmo que fosse online", conta Digiane.

Além de professora de Educação Física, Digiane trabalha há seis anos como instrutora de pilates, e sugere em vídeo alguns exercícios posturais para o fortalecimento da musculatura das costas, que atualmente estão enfrentando muitas horas de tensionamento devido ao regime de home office.

A educadora física Digiane Passaia dá dicas de exercícios de pilates. (vídeo: Arquivo pessoal)

“Quando as pessoas estão acostumadas com atividade física, elas acabam tendo uma vida mais saudável, pois o exercício nos proporciona bem-estar físico e mental. Na falta dele, para quem já tem uma rotina semanal de treinos, podemos perceber que a disposição já não será mais a mesma, e consequentemente a saúde física e mental também serão prejudicadas. A falta de atividade física tem um peso enorme de incidência de doenças”, afirma Digiane Passaia.

Já a educadora física e instrutora de yoga, Viviane Marcon, 57 anos, conta que atualmente vem trabalhando por videoconferência com seus alunos, mas a grande oferta de aulas gratuitas de yoga pelas redes sociais tem acarretado dificuldades no entendimento dos alunos quanto ao pagamento de seus serviços. Nesta segunda, 13 de abril, o Conselho Regional de Educação Física solicitou ao Governo do Estado a inclusão da área no rol dos serviços essenciais, o que possibilitaria a abertura de academias, centros de treinamento e ao ar livre, voltados para a prática de atividades físicas. Mas mesmo que isso não ocorra, Viviane acredita que tudo na vida tem um propósito, e o período de isolamento passará sem grandes perdas financeiras para sua vida profissional.

Instrutora de yoga em videoconferência com um casal de alunos ( foto: Arquivo Pessoal)
Instrutora de yoga Viviane Marcon em videoconferência com um casal de alunos. (foto: Arquivo Pessoal)

“Sempre temos a oportunidade de ir além, e estamos vivendo um momento no qual é importante lembrarmos disso. Como o medo do desconhecido é um de nossos medos básicos e nos gera insegurança e bloqueios, que possamos sempre nos lembrar da força e do amor que habita em nossos corações e seguir com coragem e confiança pela vida”, aconselha Viviane Marcon.

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