Hospital de Estância Velha realiza apenas partos de emergência há três meses

Curto-circuito gerou danos na ala obstétrica e não há previsão para a normalização dos serviços

Stephany Foscarini
Redação Beta
6 min readSep 10, 2019

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Fachada do Hospital Municipal Getúlio Vargas (HMGV) de Estância Velha. (Foto: Stephany Foscarini/Beta Redação)

Com Lianna Kelly Kunst

Desde junho de 2019, gestantes de Estância Velha, Lindolfo Collor, Ivoti, São José do Hortêncio e Presidente Lucena precisam se deslocar para hospitais de cidades próximas para realizar um parto. O problema é ocasionado devido a um curto-circuito que ocorreu há três meses no Hospital Municipal Getúlio Vargas (HMGV), em Estância Velha. Com isso, muitas mulheres estão sendo transferidas para Esteio e Sapucaia do Sul.

De acordo com o coordenador da Atenção Básica, Edson Couto, a rede elétrica do hospital está sendo substituída, mas não há previsão de quando o problema será resolvido. Mesmo assim, revelou que os processos para a reconstrução da ala atingida pelo pequeno incêndio são demorados, pois tudo precisa de licitação. Como solução, a administração municipal decidiu transferir as gestantes para cidades vizinhas.

A secretária municipal da Saúde, Lenir Reichert, confirmou a declaração de Edson e disse que trabalha para manter a tranquilidade e oferecer serviços de qualidades, tanto para a mãe como para o bebê, mesmo fora do município. “Recebemos do Estado a determinação de que as cidades que iriam nos auxiliar seriam Esteio e Sapucaia do Sul”, declara.

Ambos lamentam a falta de informações sobre quando a situação do hospital será restabelecida. Couto lembra que há um bloco cirúrgico para ser inaugurado nos próximos dias em Estância Velha, fazendo com que o hospital passe por um processo de fiscalização, tanto do Estado, como do município. “Em função disso temos que cumprir as diretrizes obrigatórias. Portanto, não sabemos quando a obra será finalizada”, explica.

Transferência de risco

No dia 5 de julho, a gestante Mayara Franciele Torok, 23 anos, foi até o Hospital Municipal Getúlio Vargas para realizar exames. Seu diagnóstico apontou alterações nas artérias da placenta, indicando pressão arterial alterada. Após realizar procedimentos, o médico de plantão pediu para que retornasse no dia seguinte.

Cecília nasceu com 2.475 Kg e 46 cm, de 36+5 semanas. (Foto: Arquivo Pessoal/Denner Bickel)

Mayara retornou ao hospital na data estabelecida e realizou exames complementares que, novamente, indicaram pressão alta. Em função dessas alterações, os médicos decidiram interná-la, efetuando duas vezes ao dia o exame de cardiotocografia.

Após ser internada, Mayara descobriu que o hospital realizava somente partos de urgência. Dessa forma, os médicos tentaram controlar a sua hipertensão até a 38º semana de gestação para, então, transferi-la para outra cidade. Porém, isso não aconteceu.

Conduzida para um parto de urgência na manhã do dia 9 de julho, Mayara conta que manteve a calma durante o procedimento. “Fiquei tranquila, pois já trabalhei na área da saúde e conheço os médicos que atendem no hospital, então confiei e acreditei que daria tudo certo”, acrescenta. Hoje com dois meses de idade, Cecília Bickel está forte e saudável.

Dois meses após o nascimento, mãe e filha passam bem, acompanhadas do pai Denner. (Foto: Arquivo Pessoal/Sara Machado)

Quando a incerteza aumenta a aflição

“O pior de tudo era simplesmente não saber onde minha filha iria nascer”.

A dona de casa e mãe da Lis, Daniela Beatris Kappel, 32 anos, foi informada que o hospital de Estância Velha estava em reforma e que, quando fechassem as semanas necessárias para a cesárea, seria encaminhada para outro hospital. “Poderia ser em Sapucaia do Sul, Esteio ou Campo Bom. O pior de tudo era simplesmente não saber onde minha filha iria nascer”, afirma.

Uma semana depois Daniela e a filha Lis estão bem em casa. (Foto: Arquivo Pessoal/Lucas Panzenhagen)

Para ela, o impacto causado por essa situação vai além dos transtornos associados a transferências e remoções. “Na maioria das vezes, a gestante não conhece o hospital para onde será transferida. A insegurança atrapalha nessa hora, que é única e especial. Não temos como nos preocupar com o que realmente é importante naquele momento: o nascimento, tão esperado durante todo esse tempo”, lamenta.

Daniela ficou sabendo na semana anterior ao parto que o mesmo não aconteceria no Hospital de Estância Velha. “Para o meu desespero, pois já havia planejado como seria em função de acompanhante e do meu filho mais novo”, relata aos risos.

Como os seus dois partos anteriores foram cesarianas, este também estava previsto da mesma forma. Assim, a partir da 39º semana de gestação, poderiam fazer a cirurgia, sem que ela entrasse em trabalho de parto natural. “Chegando em Estância Velha realizaram o procedimento e a médica que me atendeu entrou em contato com o centro obstétrico de Sapucaia, que aceitou a minha transferência”, lembra. No dia 31 de agosto, às 11h51, a Lis nasceu, com 4.060 kg e 50 cm.

Outro fator destacado por Daniela é a superlotação dos hospitais para os quais as gestantes são encaminhadas. “A ala obstétrica do hospital de Sapucaia do Sul havia entrado em reforma e estava um caos”, ressalta.

Daniela relata que todo esse processo gerou bastante estresse por morar longe dos hospitais para onde poderia ser transferida. “Ainda mais por ter um filho pequeno, que também precisa de cuidados, sendo que estaríamos mais distantes de casa”, comenta.

A visão Estado

Edson ressalta que o atendimento às grávidas até o momento do parto continua sendo feito no hospital Getúlio Vargas. “Nosso dever é passar tranquilidade às mães. Se elas forem para Esteio ou Sapucaia do Sul serão bem atendidas”, relata.

Já Lenir afirma que muitas gestantes que se dirigem ao hospital da cidade questionam a previsão de normalidade dos serviços obstétricos. A secretária esclarece que todas as unidades de saúde do município oferecem orientações sobre os procedimentos de parto até a regularização do hospital. “As enfermeiras conversam com as gestantes. O intuito não é apavorar ninguém. Todas as crianças irão nascer no melhor lugar possível”, acrescenta.

Para as mulheres que precisam de transporte, o município garante o deslocamento até o outro hospital. Em casos graves, como sangramento, por exemplo, ou quando a paciente chega no hospital dando à luz, o parto é realizado em Estância Velha para que a transferência não prejudique o procedimento médico. “Em casos de emergência realizamos o parto no local mesmo pensando na vida da mãe e do bebê. Em situações normais preferimos a forma mais adequada e providenciamos o deslocamento da gestante”, ressalta Couto.

Impacto na região

Estância Velha é considerada referência para quatro cidades da região: Lindolfo Collor, Ivoti, São José do Hortêncio e Presidente Lucena. Na opinião de Lenir, o Estado tem a responsabilidade de disponibilizar serviços de qualidade a fim de atender todas as gestantes. “Daqui um tempo alguns hospitais, por falta de recursos, não conseguirão mais realizar partos. Por isto as grávidas deverão ir até um hospital maior, capaz de suprir todas as necessidades”, enfatiza. Couto completa que no futuro as famílias entenderão os motivos, mesmo que atualmente grande parte da comunidade acredita que é uma perda nos municípios.

Confira no quadro abaixo os números de partos realizados no HMGV de Estância Velha de janeiro a agosto de 2019.

Fonte: faturamento HMGV de Estância Velha.

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