Comparecimento de idosos às urnas gera expectativa
Com a pandemia, especialistas projetam queda no envolvimento da fatia do eleitorado acima de 70 anos, desobrigadas de comparecer à votação
Com a aproximação das eleições de 2020, surgem questionamentos acerca dos protocolos de segurança que devem ser implementados para garantir a presença dos eleitores nos dias 15 e 29 de novembro às urnas. Informações do Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul (TRE/RS) apontam que 8.423.308 pessoas estão aptas a votar no Estado. Destas, aproximadamente 11,16% possuem idade acima de 70 anos, público que não tem mais a obrigatoriedade do voto por conta da faixa etária.
O voto facultativo fará com que a população mais idosa deixe de comparecer ao pleito? Considerada por especialistas a parcela mais consciente do eleitorado, os idosos acreditam que as medidas de segurança frente à Covid-19 poderão garantir sua participação mesmo diante da pandemia.
Rael Vargas, 72 anos, morador de São Leopoldo, no Vale do Sinos, pretende participar das eleições como de costume. Devido à pandemia, ele acredita que alguns cuidados com certeza devem ser tomados, como o uso de máscaras e o distanciamento controlado, medidas obrigatórias em todo o país. Rael, que costuma votar na parte da tarde, considera o horário adequado por ter menos fluxo de pessoas. “Sei que na minha idade já não sou mais obrigado a ir, mas sinto que tenho o dever. Se eu não votar, com que cara vou cobrar quem for eleito?”, comenta.
Embora Rael prefira votar na parte da tarde, o cenário pode mudar, exigindo que ele vá mais cedo à Escola Paul Harris. Isso porque a Justiça Eleitoral apresentou recentemente o Plano de Segurança Sanitária, um projeto que contou com consultoria de especialistas em saúde, epidemiologistas e médicos sanitaristas.
Conforme o presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul (TRE/RS), André Villarinho, será adotado um horário especial para as pessoas com mais de 60 anos, que terão preferência para votar entre 7h e 10h da manhã. A medida busca atrair a participação da terceira idade no pleito. Villarinho espera que não haja alteração significativa no número de idosos nas urnas, especialmente em função da adoção do horário especial.
Dados extraídos do Cadastro Nacional de Eleitores (CNE) e consolidados pelo TSE mês a mês apontam que o público com faixa etária entre 60 e 79 anos na região Sul chega a 19,37%, dado superior aos números da região Norte do Brasil, que registra 12,88%.
Em Porto Alegre, o percentual de eleitores com idades entre 60 e 79 anos, com base no levantamento de agosto de 2020, é de 22,74%. Já no Rio Grande do Sul, o percentual de eleitores na mesma faixa etária é de 21,36%. Ou seja, com base nisso, é possível afirmar que a Capital concentra, percentualmente, maior eleitorado entre 60 e 79 anos.
Para o diretor do Instituto de Pesquisa Eleitoral Methodus, José Carlos Sauer, a proposta da Justiça Eleitoral é uma forma de expressar cuidado e cautela com o eleitor. Ao mesmo tempo, Sauer considera que mesmo com a oferta de horários alternativos para um determinado grupo, o estímulo do eleitor vai mudar em relação aos outros pleitos. “O eleitor vai pensar duas vezes antes de sair de casa.” Sauer considera que, atrelada à situação de pandemia, há uma descrença relacionada ao processo eleitoral como um todo, em que as disputas políticas têm mais afastado do que aproximado o eleitor. “Se fizermos um recorte em cima dos mais idosos, somado à pandemia, tenho uma leitura de que é bem provável que tenhamos uma redução por parte desse eleitor na participação do voto”, destaca o diretor.
De acordo com a diretora do Instituto de Pesquisa de Opinião (IPO), Elis Radmann, o momento é de muita incerteza para todos, em especial, para aqueles que integram o grupo de risco. “Até o momento, as pesquisas realizadas pelo IPO verificam que 1/3 dos gaúchos pode não comparecer às urnas se a pandemia estiver no mesmo nível de agora. E nesse grupo se destacam as pessoas do grupo de risco”, pontua. A socióloga acredita que esse índice pode diminuir se as pessoas se sentirem seguras com os protocolos da Justiça Eleitoral e se houver diminuição de incidência do vírus. “Vai depender da situação de cada município no momento do pleito”, enfatiza.
A participação como um dever
A socióloga Elis Radmann acredita que o cenário de negação da política é crescente, mas enxerga uma representação forte dos idosos. “Eles falam mais de política e se interessam mais sobre o tema do que os jovens de 16 a 24 anos. São mais propensos a participar dos processos eleitorais por terem bases de moral e cívica e saberem o significado da ditadura militar. Eles acreditam que a participação é uma obrigação com a nação, um dever”, ressalta a diretora do IPO, que ainda analisa o perfil do eleitor mais velho. “Via de regra, o eleitor tem defendido mais as causas sociais, como saúde e educação. Além disso, há uma atenção na parte da infraestrutura, mobilidade social e, com a pandemia, há uma preocupação com temas como isolamento social e a questão da precarização financeira de sua família”, completa Radmann.
José Carlos Sauer, diretor do Methodus, alerta para o interesse do público mais idoso na participação do pleito. Para ele, essa é a parcela mais consciente do eleitorado. “São pessoas mais experientes no processo eleitoral e que possuem um um voto mais cativo”, comenta.
Jordani Daitx da Silveira, 76 anos, e a esposa Izolda Zeluir Abreu da Silveira, 75, também participarão do pleito. Para o casal, a votação será na Escola de Ensino Fundamental Coronel Sarmento, na localidade de Contendas, em Glorinha. Eles acreditam que haverá uma diminuição na participação das eleições por conta da Covid-19, mas consideram que com os novos protocolos haverá a segurança necessária.
Jordani e Izolda costumam votar em horários onde há menos circulação de pessoas, geralmente próximo ao meio-dia. Para Jordani, a intenção de participar do pleito parte do desejo de contribuir para uma melhora no cenário político. “A coisa anda muito danada ultimamente. Quase não acreditamos mais nos nossos candidatos. Queremos participar porque queremos dar o voto às novas pessoas, com novas intenções, que têm condições de melhorar bastante a vida da gente”, destaca.
Jordani ainda destaca que apesar da idade e da não obrigatoriedade de estar presente, ele e a esposa sentem que têm o dever de participar do pleito. “O voto, apesar de tudo, ainda é uma maneira de ajudar a salvar o país e os nossos municípios. Com nosso voto, vamos colocar pessoas que achamos melhores para governar. Não dá mais pra continuar acontecendo o que ocorre na nossa política”, frisa.
Atenção para os protocolos de segurança
O presidente do TRE, Andre Villarinho, alerta para os protocolos de segurança que podem garantir um pleito mais tranquilo para todos os públicos, principalmente para as pessoas a partir dos 60 anos.
Além disso, ele destaca que a principal novidade em relação aos idosos será o horário das 7h às 10h da manhã como preferencial para maiores de 60 anos. “Os demais eleitores poderão votar também neste horário, mas devem, se possível, comparecer a partir das 10h, respeitando a preferência”.
Villarinho ainda reforça que o tempo de votação nas eleições de 2020 foi ampliado em uma hora: será das 7h às 17h. Todas as seções eleitorais terão álcool em gel para limpeza das mãos dos eleitores, antes e depois da votação, e os mesários receberão máscaras, face shield (protetor facial) e álcool em gel para proteção individual.
O eleitor deverá permanecer de máscara desde o momento em que sair de casa, observando uma distância mínima de um metro de outras pessoas e evitando levar crianças e acompanhantes no dia da votação. “A Justiça Eleitoral oportunamente divulgará esses protocolos de modo a esclarecer e ressaltar aos eleitores a importância dessas medidas para garantir a segurança e a saúde de todos nesse momento singular que atravessamos”, ressalta Villarinho.
