Idosos esperam até 12 horas para marcar atendimento em posto de saúde de Gravataí
Moradores do bairro Vera Cruz têm demanda maior que a oferta da unidade básica de saúde da região
Antes das 19h, Adelaide Cândido, 63 anos, já aguardava o abrir das portas do posto de saúde Vera Cruz, às 7h do dia seguinte. Além dela, outras 11 pessoas formavam a fila na espera das fichas para marcar atendimento na unidade de saúde do bairro Vera Cruz, em Gravataí, na quinta-feira, 3 de maio. À 1h30min da madrugada, várias cadeiras e cobertores estavam lado a lado, colocadas para ajudar a enfrentar uma longa noite de espera.
Todas as quintas-feiras são destinadas à retirada de fichas de atendimento às pessoas maiores de 60 anos. As quartas-feiras são destinadas às maracações do restante da população. Todo atendimento, mesmo o retorno de exames, precisa da retirada de novas senhas. “Já teve gente que veio ao meio-dia para conseguir ficha”, conta Cristina Leal, 47 anos, que, acompanhada do filho, vem tirar ficha para uma vizinha.
Conforme as pessoas vão chegando, a fila toma forma. Lenita Oliveira, 70 anos, já é acostumada com a situação. “Venho pra cá há mais de 20 anos e nunca mudou. É um milagre eles ligarem as luzes, ficávamos ainda mais no escuro”, relata. Ela e Doraci Santos, 71 anos, apostam na descontração para passar a noite. “Meu marido disse: ‘tu não está doente, não é cheia de doença para passar a noite lá’”, diz Doraci. “Ah, o meu deu graças a Deus que eu vou passar a noite fora”, conta Lenita, fazendo todos gargalharem. E assim passam a noite: rezando para não chover, pois a cobertura — feita pela comunidade — não é suficiente para aguentar uma possível chuva forte; conversando; rindo; degustando o café e os salgados doados pelo vizinho do posto; e torcendo para a noite passar o mais rápido possível.
Pela manhã, a fila havia tomado proporções ainda maiores. Cerca de 45 pessoas formavam três filas na porta do posto. Com dois novos médicos clínicos, as fichas — que desde fevereiro eram apenas 10 — agora chegam a 42 por semana. “O bairro tem uma demanda de quase 10 mil pessoas, é muita procura para pouca disposição”’, relata Lissandra Bravo, 42 anos, técnica em enfermagem, há 11 anos trabalhando no posto Vera Cruz.
O posto Vera Cruz, apesar da grande procura, ainda não é contemplado pelo tele-agendamento, adotado pela prefeitura municipal desde 2016. Apenas cinco dos 29 postos oferecem tal serviço. Mas, segundo Lissandra e a Secretaria Municipal da Saúde, isso tende a mudar logo. “Eu soube que mês que vem já tem agendamento pelo telefone aqui no posto, nós estamos na expectativa”, diz Lissandra.
Advogado e procurador-geral do Município, Jean Torman, 35 anos, também é secretário da Saúde de Gravataí desde novembro de 2017, e afirma que a população não está desassistida. Ao contrário, vê um avanço na assistência da saúde à população gravataiense. Segundo Jean, o tele-agendamento necessita de um grande investimento e suporte tecnológico para a implementação em outros postos, mas ele prevê a adoção do serviço pelo posto Vera Cruz e outros postos no próximo semestre. Veja: