Idosos esperam até 12 horas para marcar atendimento em posto de saúde de Gravataí

Moradores do bairro Vera Cruz têm demanda maior que a oferta da unidade básica de saúde da região

Milene Magnus
Redação Beta
3 min readMay 15, 2018

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Posto Vera Cruz, em Gravataí, tem filas horas antes da abertura dos serviços. (Foto: Milene Magnus/Beta Redação)

Antes das 19h, Adelaide Cândido, 63 anos, já aguardava o abrir das portas do posto de saúde Vera Cruz, às 7h do dia seguinte. Além dela, outras 11 pessoas formavam a fila na espera das fichas para marcar atendimento na unidade de saúde do bairro Vera Cruz, em Gravataí, na quinta-feira, 3 de maio. À 1h30min da madrugada, várias cadeiras e cobertores estavam lado a lado, colocadas para ajudar a enfrentar uma longa noite de espera.

Todas as quintas-feiras são destinadas à retirada de fichas de atendimento às pessoas maiores de 60 anos. As quartas-feiras são destinadas às maracações do restante da população. Todo atendimento, mesmo o retorno de exames, precisa da retirada de novas senhas. “Já teve gente que veio ao meio-dia para conseguir ficha”, conta Cristina Leal, 47 anos, que, acompanhada do filho, vem tirar ficha para uma vizinha.

Funcionários do posto deixam as luzes acesas para as filas da madrugada. (Foto: Milene Magnus/Beta Redação)

Conforme as pessoas vão chegando, a fila toma forma. Lenita Oliveira, 70 anos, já é acostumada com a situação. “Venho pra cá há mais de 20 anos e nunca mudou. É um milagre eles ligarem as luzes, ficávamos ainda mais no escuro”, relata. Ela e Doraci Santos, 71 anos, apostam na descontração para passar a noite. “Meu marido disse: ‘tu não está doente, não é cheia de doença para passar a noite lá’”, diz Doraci. “Ah, o meu deu graças a Deus que eu vou passar a noite fora”, conta Lenita, fazendo todos gargalharem. E assim passam a noite: rezando para não chover, pois a cobertura — feita pela comunidade — não é suficiente para aguentar uma possível chuva forte; conversando; rindo; degustando o café e os salgados doados pelo vizinho do posto; e torcendo para a noite passar o mais rápido possível.

Idosos formam filas distintas para os três médicos que atendem no posto (Foto: Milene Magnus/Beta Redação)

Pela manhã, a fila havia tomado proporções ainda maiores. Cerca de 45 pessoas formavam três filas na porta do posto. Com dois novos médicos clínicos, as fichas — que desde fevereiro eram apenas 10 — agora chegam a 42 por semana. “O bairro tem uma demanda de quase 10 mil pessoas, é muita procura para pouca disposição”’, relata Lissandra Bravo, 42 anos, técnica em enfermagem, há 11 anos trabalhando no posto Vera Cruz.

Idosas aguardam na fila a retirada de fichas no Posto Vera Cruz. (Foto: Milene Magnus/Beta Redação)

O posto Vera Cruz, apesar da grande procura, ainda não é contemplado pelo tele-agendamento, adotado pela prefeitura municipal desde 2016. Apenas cinco dos 29 postos oferecem tal serviço. Mas, segundo Lissandra e a Secretaria Municipal da Saúde, isso tende a mudar logo. “Eu soube que mês que vem já tem agendamento pelo telefone aqui no posto, nós estamos na expectativa”, diz Lissandra.

Advogado e procurador-geral do Município, Jean Torman, 35 anos, também é secretário da Saúde de Gravataí desde novembro de 2017, e afirma que a população não está desassistida. Ao contrário, vê um avanço na assistência da saúde à população gravataiense. Segundo Jean, o tele-agendamento necessita de um grande investimento e suporte tecnológico para a implementação em outros postos, mas ele prevê a adoção do serviço pelo posto Vera Cruz e outros postos no próximo semestre. Veja:

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Milene Magnus
Redação Beta

Jornalista formada pela Unisinos. Apaixonada por contar histórias, por esportes, por moda.