Imperadores do Samba é a campeã do Carnaval 2019

Império do Sol sobe para a Série Ouro; apuração ocorreu com duas horas de atraso

Jéssica Mendes
Redação Beta
4 min readMar 17, 2019

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Por Jéssica Mendes

Com enredo sobre seus 60 anos, Imperadores do Samba venceu o Carnaval 2019 de Porto Alegre. Foto: Liane Oliveira/Beta Redação

Passavam das 17h30 quando a campeã dos Desfiles da Escola de Porto Alegre foi anunciada, na tarde deste domingo, 17, no Porto Seco. Após jejum de dois anos, já que o último desfile foi em 2017 — e o do ano passado foi cancelado — , a Imperadores do Samba ganhou a competição e o bicampeonato. Em janeiro a escola comemorou 60 anos de fundação, e neste Carnaval levou sua história para a avenida, desde o seu chão, África, até o seu reconhecimento como patrimônio da cultura em Porto Alegre.

“A gente vem para a avenida sempre com a expectativa de fazer um bom espetáculo, as pessoas esperam isso da Imperadores. Trouxemos uma proposta e conseguimos apresentar aquilo que tínhamos planejado. Fizemos um grande trabalho!”, comemora o diretor de Carnaval da escola, Junior Gonçalves. Neste ano, não houve premiação e desfile das campeãs. Os componentes e torcedores se dirigiram para a Avenida Padre Cacique, na Capital, para comemorar o resultado.

Com o enredo “Em terras tinguerreiras prevalece a verdade, quem foi rei nunca perde a majestade!”, a Estado Maior da Restinga levou o segundo lugar. A agremiação, que já foi nove vezes campeã do grupo especial, ficou com quatro décimos de diferença da primeira. A terceira colocada, Império da Zona Norte, contou a história de São João Batista, levando para a pista elementos da tradicional festa de São João.

A campeã da Série Prata foi a Império do Sol, que passa a desfilar na Série Ouro a partir do próximo ano. A escola de São Leopoldo levou à avenida referências à religião africana do candomblé, com o enredo “África! Um canto negro de louvação e fé! Salve Otampê Ojarô, Princesa africana, Rainha do Candomblé”. O segundo lugar ficou com a Vila Isabel, seguida pela Fidalgos e Aristocratas, que levou o terceiro lugar.

As notas foram deferidas por 14 jurados, que avaliaram sete quesitos: Bateria, Samba-Enredo, Harmonia musical, Tema-Enredo, Fantasia, Evolução e Mestre-sala e Porta-bandeira. Apesar do quesito Alegoria ter sido suprimido da competição, todas as escolas desfilaram ao menos com um carro alegórico. Neste ano, também não houve rebaixamento.

Porta-bandeira da Imperadores do Samba. Foto: Liane Oliveira/Beta Redação

Tensão na apuração

A União da Tinga ficou na lanterna da Série Prata devido a duas notas zero que levou no quesito Samba Enredo, por não apresentá-lo na ficha entregue aos jurados. Por determinação do artigo 5 do regulamento, no entanto, é considerado como mínima a nota 9 para o caso do julgador atribuir nota inferior a 9 pontos para qualquer quesito. Houve tumulto após a leitura das duas notas, que ao retorno da locução foram esclarecidas ao público.

Apesar de ter sido escolhida como campeã, a Imperadores do Samba teve duas notas 10, no quesito evolução, criticadas. A comentarista Paula Peixoto, da Rádio Arquibancada, acompanhou o desfile da Imperadores, sua escola do coração. Ela criticou a avaliação dos jurados e disse ter percebido ao menos duas alas passando correndo pelo módulo 1, o que prejudicaria a evolução do desfile.

Apesar de o quesito Alegorias não ter sido avaliado este ano, escolas levaram carros alegóricos ao Porto Seco. Foto: Liane Oliveira/Beta Redação

Carnaval da resistência

Com muitas dificuldades financeiras e mudanças no regulamento, em 2019 as escolas de samba de Porto Alegre encerraram o final de semana de desfiles com a sensação de dever cumprido. Depois de não ter desfilado no ano passado, as escolas da Série Ouro se uniram para voltar ao Porto Seco sem o aporte do poder público e o apoio da Liga Independente das Escolas de Samba de Porto Alegre (Liespa), num Carnaval que trouxe em seus materiais a palavra “resistência” estampada.

Apesar da falta de recursos, as lideranças das escolas avaliam de forma positiva o desfile deste ano. “Só o fato de termos conseguido colocar as escolas de samba na avenida já foi uma vitória, por toda a dificuldade que tinha. Algumas escolas nem mesmo conseguem realizar seus ensaios como deveria, então essa resistência, essa luta que tomamos a frente, é uma luta do Carnaval como um todo”, aponta Junior Gonçalves, da Imperadores do Samba.

Junior também critica um movimento de repressão à cultura popular que, conforme ele, tem ocorrido nos último tempos. “Parece que é uma onda contra o Carnaval. E a Imperadores luta contra isso. A nossa história é de resistência, e as outras escolas abraçaram essa ideia (de realização do Carnaval) e vieram junto com a gente mesmo com tudo indo contra”, diz.

Sobre o próximo ano, Junior aponta que a luta continua. “Agora é trabalhar a partir de amanhã para conseguir realizar o Carnaval de 2020 e proporcionar uma melhor estrutura ao nosso povo”, avalia.

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