Inflação sobre automóveis e serviços dispara na região metropolitana

Cristina Bieger
Redação Beta
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4 min readMay 12, 2022

Porto Alegre é a que mais registrou alta de preços sobre automóveis novos e óleo lubrificante, entre as dez capitais pesquisadas pelo IBGE

(Arte: Cristina Bieger/Beta Redação)

O sonho do carro próprio ficou mais distante para os brasileiros nos últimos 12 meses. Seja na compra ou na manutenção, a inflação sobre os produtos e serviços tem pesado no bolso do consumidor. A variação acumulada em 12 meses, divulgada em abril, mostra que nos automóveis novos a inflação registrada foi de 20,85%. Já para os carros usados, o percentual foi de 17,66%; sobre o óleo lubrificante, o acumulado chegou a quase 31% (30,8%).

Para a economista Juliana Inhasz, são dois os fatores que explicam esses aumentos. Nos caso dos automóveis, a desarticulação da cadeia produtiva dificultou a produção de carros zero km, supervalorizando o preço dos carros no mercado, tanto novos quanto usados.

“A crise dos semicondutores é um dos exemplos dessa desarticulação, que reduziu a oferta de componentes essenciais para produção, e encareceu o custo, gerando repasses significativos em preços. Por outro lado, também tivemos pressão dos preços do petróleo no mercado mundial, o que pressionou o custo de produção e venda de inúmeros derivados, como o combustível e o óleo lubrificante”, explicou a especialista, em entrevista por e-mail.

Apesar de ter registrado o menor aumento de preço entre as capitais pesquisadas, ainda assim a inflação acumulada sobre os pneus foi de 22,46%. Juliana explica que “no caso dos pneus, os produtores relatam que a matéria prima está mais rara e, por isso, mais cara, o que encarece o produto final”.

Porto Alegre também foi a cidade que registrou menor índice de aumento no preço da gasolina, inflação acumulada de 17,56% em 12 meses. Para os motoristas que abastecem a percepção do aumento é semanal. Conforme pesquisa feita pelo G1 em março, os preços, nos postos de combustíveis, variavam entre R$ 6,39 a R$ 7,29 em postos de Porto Alegre.

Gráfico sobre os percentuais de inflação em dez capitais brasileiras (Fonte: IBGE)

Para quem deseja comprar um carro e está em dúvida entre um zero km ou usado, a economista comenta que olhando pelo ponto econômico, os dois estão mais caros, mas que “uma vez que a desvalorização dos carros novos é maior no primeiro ano da aquisição frente aos usados, muitos consumidores preferem os usados, também levando em consideração custos de IPVA e seguro. No entanto, é importante levar em conta as condições do carro usado (como a existência de garantia, os comprovantes de manutenção), e as condições de financiamento, se esse for o caso”, explica Juliana.

Para Eduardo Hensel, que possui uma mecânica para reparos automotivos há quatro anos, o custo de manutenção dos carros novos é maior nos itens seguro e IPVA. “A manutenção de um carro popular não é cara, pois as peças são mais em conta, e mantendo as revisões em dia, seria a melhor opção”, comenta.

Fatores externos e internos

Para a especialista, podemos esperar uma desaceleração da inflação para os próximos meses, no entanto, esse movimento será lento e os percentuais devem se manter elevados pelo menos até o final do ano. Isso porque ainda estamos passando por desarticulações e dificuldades de retomada em algumas cadeias produtivas, mantendo a pressão sobre os preços.

“Estamos vivenciando momentos incertos e arriscados nas economias externas, tais como o conflito entre Ucrânia e Rússia e a inflação mundial, que alimentam a pressão de preços no Brasil. Aliado a isso, também precisamos citar as pressões sobre o preço do petróleo, que encarece as produções e o consumo de maneira generalizada”, comenta Juliana.

Controle de gastos na ponta do lápis

Com a alta descontrolada da inflação, a alternativa, para os consumidores, é registrar os preços e fazer comparativos mensais dos gastos, de modo a avaliar onde se pode reduzir e onde se gasta mais. É o caso de Aurelio Giovane Blos, de 59 anos. Ele possui os registros de gastos ao longo de 21 anos em que ficou com o Fiat Siena Fire 1.0. O carro foi comprado zero km, e a prática de anotar os custos foi adotada desde o primeiro mês de aquisição. O costume não veio por acaso.

Sr. Aurelio anota todas as despesas da casa em seus cadernos (Foto: Laura Roseli Blos)

“Eu tinha um Gol 1997, comprei usado, gastava muito em mecânica. A quilometragem era baixa quando comprei, e desconfiei que fosse falcatrua”.

Aurelio precisou trocar de carro agora em abril, mas antes disso fez um levantamento do valor total gasto ao longo de todos esses anos com o Siena, incluindo gasolina, manutenção, pedágios e seguro. Somado, o valor chegou a R$ 76.778,06 em 7.648 dias de uso. A quilometragem chegou a 140.518. A média de gasto por dia ficou em R$ 10,03, o que para ele foi satisfatório, se comparado aos gastos que teria com táxi ou transporte por aplicativo.

As formas para fazer esse controle e anotações são inúmeras e com a possibilidade de customizar da forma que precisar. Aurelio opta por meios analógicos. “Prefiro meu caderno. Procurei várias planilhas, mas nenhuma me apresenta um resultado como meu caderno. Brigo com as traças para que não comam meus cadernos e, desde 2001, são alguns cadernos…”, comenta.

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