Inserção de pessoas trans no mercado de trabalho não é pauta dos governos

Segundo a Rede Trans Brasil, cerca de 80% das pessoas do grupo ainda ganham maior parte da renda por meio da prostituição

Henrique Tedesco
Redação Beta
4 min readDec 9, 2021

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Faltam oportunidades de fomento à geração de emprego e renda de pessoas trans. (Imagem: Reprodução/Editora Manifesto)

Segundo dados da Rede Trans Brasil, 82% da comunidade de pessoas transgênero ainda conseguem maior parte da sua renda da prostituição. O acesso ao mercado de trabalho é muito difícil. A Beta Redação conferiu iniciativas da sociedade civil e do governo do Estado para incluir essas pessoas.

No dia 8 de novembro, lideranças e representantes do movimento LGBTQIA+ se reuniram no gabinete da deputada estadual Luciana Genro (PSOL) para fazer um levantamento dos avanços e retrocessos na pauta de integração da população trans na sociedade e discutir um projeto voltado à empregabilidades dessas pessoas, o Oportunizar — Ação Nacional de Formação e Empregabilidade a Pessoas Trans. A iniciativa propõe parceiras entre entidades que auxiliem na inserção do público no mercado, assim como incentive a profissionalização destas pessoas.

No encontro, além da deputada, estavam: a presidenta nacional da Rede Nacional de Pessoas Trans, Tathiane Araújo; a presidenta da ONG Igualdade/RS, Marcelly Malta; a coordenadora do projeto Oportunizar em Porto Alegre, Ana Paula Sander; e a primeira assessora parlamentar transexual na Assembleia Legislativa e vereadora suplente do PSOL em Porto Alegre, Natasha Ferreira.

Política do governo federal não prioriza minorias

Natasha afirma que é preciso coragem para escolher outro caminho. “Já trabalhei em telemarketing, farmácia, sindicato, partido, tentei ser cabelereira, mas sempre fui melhor trabalhando com pessoas”, conta a vereadora suplente.

Aos 33 anos, desde os 13 Natasha atua na política. (Foto: Arquivo Pessoal/Natasha Ferreira)

Ela é autora do projeto que prevê a cota de pessoas trans nos espaços de trabalho. “Oito em cada dez pessoas trans não acessam o mercado de trabalho, aí a importância de projetos como esse. Nesse projeto, as empresas que têm contrato com a prefeitura serão obrigadas a reservar 5% das suas vagas para pessoas trans”, explica Natasha.

Com 33 anos, a vereadora suplente atua na política desde os 13 anos. No momento, ela acredita ser importante ocupar os espaços. “Se eu não estiver aqui, provavelmente a vaga será ocupada por uma pessoa cis-hétero, o que não iria representar o partido como um todo”, acredita.

Para Porto Alegre, Natasha opina que a palavra “alegre” só voltará a fazer parte da realidade municipal depois de um “efeito cascata”, começando pela mudança no poder executivo federal. “Daqui a pouco, mudando a presidência da República, mudando o governo do Estado, teremos mais chances de um mandato de centro ou de esquerda e de fazer um trabalho de recuperação. Quem for governar deve fazer valer os direitos de pessoas em vulnerabilidade e, mais que isso, é preciso que virem políticas públicas, em forma de lei, para garantir que elas não vão sumir mais”, pontua vereadora suplente pelo PSOL.

Vereadora suplente em plenário, quando substituiu Roberto Robaina, em junho desde ano. (Foto:Arquivo Pessoal/Natasha Ferreira)

Governo estadual trabalha no mapeamento do segmento

Há dois anos à frente da Coordenadoria Estadual de Diversidade Sexual e Gênero, Daniel Morethson, de 40 anos, afirma que, para entender como construir políticas que integrem a população trans, primeiro é preciso identificá-las. “Nos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) não há campos que mostrem informações sobre orientação sexual e diversidade de gênero, o que dificulta o trabalho específico para esse público”, avalia o coordenador.

Daniel Morethson está há dois anos à frente da pasta de Diversidade do Estado. (Foto: Reprodução/Facebook)

Por isso, a pasta está trabalhando para que, em 2022, seja construída uma parceria entre as universidades gaúchas e o governo para, juntos, ajudarem na contagem da população LGBTQIA+ que frequenta esses espaços. “A partir desses dados, vamos desenvolver políticas públicas”, garante.

Para uma maior compreensão sobre essa realidade, o coordenador afirma que a discussão não deve ser política, e sim humanitária. “Não é uma causa ideológica, questões como identidade de gênero e orientação sexual são direitos humanos e princípios básicos para o convívio pleno em sociedade. Quando se entende isso, as discussões e debates se tornam mais flexíveis e conseguimos propor projetos”, conclui Morethson.

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