Ir ao atacado é sinônimo de economia?

Com a inflação em alta, a Beta Redação foi conhecer consumidores que buscam economizar fora dos supermercados

Jaime Zanatta
Redação Beta
4 min readApr 24, 2019

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De alimentos a eletrônicos, os atacados oferecem preços mais baixos do que os supermercados (Foto: Jaime Zanatta/Beta Redação)

Dados divulgados pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mostraram que a inflação subiu no mês de março. No setor de alimentos, o crescimento foi puxado pelo alto valor do tomate, batata, feijão, leite longa vida e frutas. Os produtos citados são, na maioria das vezes, indispensáveis na mesa do consumidor. Porém, com os preços mais caros nos supermercados, muitos estão buscando a economia nos atacados.

Em Canoas, um dos principais atacados fica longe dos bairros mais populosos do município. Por lá, duas vezes ao mês, quem chega para fazer compras é a funcionária pública Nara Regina de Lima. Ganhando cerca de R$ 1.400 por mês, incluindo o vale-alimentação, ela destina pouco mais de R$ 400 para as compras mensais. “Venho de 15 em 15 dias, porque as promoções são diferentes”, explica.

Uma das ofertas que Nara aproveitou foi a do creme de leite de 200 gramas. Com o folheto do mercado próximo à sua residência, ela pesquisou o preço e conseguiu realizar uma economia de R$ 0,30 por unidade. “A mesma marca lá é R$ 2,19, e aqui é R$ 1,89”, afirma. É importante reforçar que se tivesse levado seis ou mais unidades, o preço cairia mais R$ 0,20 em cada caixa.

O que pesa no orçamento de Nara é a distância. Cada ida ao atacado custa, em média, R$ 40 em deslocamento com carros de aplicativos. “Moro sozinha e não tenho carro. Gastaria menos se fosse ao supermercado na rua de casa. Só que lá é mais caro e acabo não sentindo esse gasto com a viagem. Aproveito quando venho aqui até para utilizar o caixa eletrônico”, ressalta.

Caça às caixas de papelão

Quem se desloca pela BR-116 depara com um atacado nas margens da rodovia, no município de Sapucaia do Sul. Ali, seguidamente, tem fila até no posto de combustíveis mantido pela administradora da loja. “Moro em Esteio e venho aqui uma vez por semana para abastecer. A diferença supera os R$ 0,20 por litro”, conta o vigilante Dionatan Borba, que anda cerca de quatro quilômetros por semana, de moto, só para completar o tanque.

Dentro do atacado é difícil não encontrar filas. “Isso aqui tá sempre lotado. Posso vir de manhã, tarde e noite, que vou demorar quase 40 minutos só para ser atendida no caixa”, relata uma cliente na fila.

Nos corredores, o cenário não é diferente. Raro encontrar um corredor vazio. Neles, há clientes com carrinhos cheios de caixas, porque das quatro bandeiras de atacados que operam em Porto Alegre e Região Metropolitana, apenas uma não cobra pelas sacolas plásticas. No de Sapucaia, por exemplo, o custo de cada sacolinha chega a R$ 0,25.

Mesmo fechadas, as caixas são alvos de todos os clientes que não querem comprar as sacolinhas (Foto: Jaime Zanatta/Beta Redação)

Por causa dessa procura por caixas de papelão é difícil achar um corredor com as prateleiras organizadas. Normalmente, os produtos estão misturados entre diversos sabores e até em lugares errados. “Cansei de ver cliente que vem, vira a caixa toda na prateleira e sai com a caixa na mão. Na minha primeira semana aqui, um virou a caixa de óleo e duas estouraram. Ele saiu como se nada tivesse acontecido”, conta a repositora Pâmela Vargas.

Produtos mais em conta, mas de marcas não tão conhecidas

Nelci Gonçalves vai uma vez por mês a Sapucaia do Sul para fazer compras. Ela sai com o marido, os dois aposentados, de Capela de Santana. Morando com dois filhos, a renda da família para compras chega a R$ 1.200. “Não compro frutas nem carne por aqui. Sai mais caro. Reservo dinheiro para isso e também para aproveitar as ofertas dos mercados lá da cidade, que às vezes saem mais barato que aqui”, comenta.

Difícil não encontrar carrinhos “abandonados” pelo atacado (Foto: Jaime Zanatta/Beta Redação)

A maior economia da família é nos produtos de limpeza. “A água sanitária, por exemplo, pago cerca de R$ 8 numa embalagem de cinco litros. Lá, não acho por menos de R$ 14. O sabonete, aqui consigo até por menos de R$ 0,80. O problema é que algumas marcas eu nunca vi na vida, e olha que já tenho estrada nela”, ressalta Nelci, aos risos.

Maior taxa em 4 anos

A prévia da inflação de março, divulgada pelo IPCA, atingiu a 0,54%. Segundo o levantamento, esse é o maior número dos últimos quatro anos. Em 2015 chegou a 1,24%.

O setor de alimentos é o maior causador desse aumento. Ele cresceu 1,28% na comparação com fevereiro em todo o país. O tomate, que já custa cerca de R$ 6 até nos atacados, apresentou uma elevação de 16,73%. As frutas e o leite longa vida, que já passou dos R$ 2 por litro, cresceram mais de 2,30%.

Já o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socieconômicos (DIEESE) apontou uma elevação de 6,57% no preço da Cesta Básica vendida em Porto Alegre. Em março, ela custou R$ 479,53. O valor é maior que o que a Nara, do inicio da reportagem, reserva para as compras do mês. Lembrando que na cesta, estão alimentos como arroz, feijão, farinha, leite, carne, batata, tomate, entre outros.

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