Kung Fu completa 60 anos no Brasil

Atividade oferece benefícios na respiração, no equilíbrio, no fortalecimento muscular e na coordenação motora

Laura Hahner Nienow
Redação Beta
4 min readMay 18, 2020

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Muito mais do que desenvolver a defesa pessoal, a arte do Kung Fu busca a harmonia entre corpo, mente e espírito. Essa arte marcial chinesa chegou ao Brasil há 60 anos pelo Gran Mestre Chan Kowk Wai, que formou professores para espalharem seus conhecimentos por todo o Brasil e demais países da América Latina. Gran Mestre Chan ainda leciona na sua academia em São Paulo.

Dividido em estilos, o Kung Fu tem diversas linhagens, oriundas de várias regiões. No Brasil, por exemplo, há os estilos Garra de Águia, Wu Shu e Shaolin do Norte. Mestre de Kung Fu e educador físico, Rafael Beltrame, 39 anos, pratica o terceiro estilo, que apresenta uma aprendizagem mais gradual, sem níveis de faixa. Rafael conta que se interessou pelas artes marciais ainda na infância, quando assistia, em VHS, filmes do Bruce Lee e Jean-Claude Van Damme e que, aos 16 anos, começou a praticar Kung Fu.

Rafael Beltrame em aula com o Mestre Chan. (Crédito: Rafael Beltrame/ Arquivo Pessoal)

Em 2006, Rafael concluiu sua formação no Kung Fu, se graduou em Educação Física e abriu um centro de artes marciais, a Academia Wu Song de Kung Fu, em Porto Alegre. Na academia, ministra aulas de Kung Fu e Thai Chi, uma vertente do Kung Fu. De acordo com o professor, o espaço oferece as modalidades de forma separada por questão de praticidade no ensino. “O Thai Chi foi desenvolvido entre as décadas de 1940 e 1950, principalmente como exercício para a saúde e, por isso, é procurado geralmente por pessoas mais velhas, por trabalhar a respiração, o equilíbrio, o fortalecimento muscular, a memória e a coordenação motora”, explica.

O esporte, independente da modalidade, une pessoas e estabelece vínculos entre elas. No Kung Fu não é diferente. “Acho que o Kung Fu se mescla muito com o nosso estilo de vida”, analisa Rafael. "Ele não se basta só pelo chute, pelo soco, pelo golpe de espada, pelo golpe de bastão, mas tentamos, por meio da prática, sermos pessoas melhores, mais conscientes, conscientes de si e conscientes dos outros”, destaca. “Eu sempre digo aos meus alunos: quem vocês são dentro da academia, vocês são do lado de fora”, acrescenta.

Professor Rafael transmite o conhecimento da arte marcial na Academia Wu Song de Kung Fu. (Crédito: Rafael Beltrame/Arquivo Pessoal)

A visão, a experiência e a vivência de Rafael com o Kung Fu condiz com o que é apresentado no artigo O “Kung Fu” no Brasil na perspectiva dos mestres pioneiros: problemas e perspectivas no uso da história oral como instrumental de análise, de autoria de Fernando Ferreira, Wanderley Marchi Júnior e André Capraro, do Departamento de Educação Física da Universidade Federal do Paraná. Conforme o artigo, o ideograma “Kung” significa algo sendo realizado dentro de certo campo ou área de atividade. Já o ideograma “Fu” pode ser traduzido por algo com alto grau de perfeição e maturidade.

Os autores exemplificam que uma pessoa, ao se tornar um expoente dentro de sua área de atuação, após esforços para a construção de satisfatório resultado, pode ser considerada como alguém que possui ou exerce “Kung Fu”. No entanto, referenciam que, no cenário marcial, a representação do Kung Fu é mais abrangente. Isso quer dizer que, quando “Kung” e “Fu” se juntam, apontam para uma pessoa com princípios morais elevados combinados com a habilidade marcial.

Roberto de Oliveira Nunes Teixeira, 36 anos, pratica Kung Fu há 14. Assim como Rafael, ele sempre gostou de filmes que tinham a arte marcial no enredo e conheceu a prática por meio de seu ex-cunhado. Roberto tem pela arte marcial o mesmo olhar afetivo demonstrado por Rafael. “Nós falamos que somos a família Shaolin do Norte. Isso é muito legal”, conta o analista de sistemas.

Roberto pratica Kung Fu há 14 anos na linhagem Shaolin do Norte. (Crédito: Roberto Teixeira/Arquivo Pessoal)

Em meio à pandemia da Covid-19, o professor Rafael administra aulas online para os cerca de 40 alunos de Kung Fu da academia. Mesmo que Porto Alegre tenha expedido um decreto municipal permitindo o funcionamento de academias de treinamento físico, por medida de segunda, o instrutor optou por continuar com as aulas presenciais suspensas.

Roberto, que sempre gostou de atividades físicas e que há anos é praticante de Kung Fu, conta que, no atual cenário, enfrenta dificuldades para manter a rotina e o foco. “As aulas estão muito boas, mas é preciso nos adaptarmos com o pouco espaço e com problemas de conexão à internet”, analisa. “Acredito que eu só volte para a aula presencial depois que a curva do vírus baixar bastante”, planeja.

Outra iniciativa interessante do professor Rafael é que, de segunda a sexta, ele ministra uma aula online gratuita no perfil do Facebook da academia. “Os exercícios dessas aulas são preparados para pessoas com qualquer condicionamento físico. A ideia é que os participantes se sintam estimuladas a praticar alguma atividade física”, conta. Essas aulas têm duração de 30 minutos e qualquer pessoa pode participar.

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