Língua portuguesa desafia profissionais que trabalham com a escrita

Após dez anos, acordo ortográfico ainda gera dúvidas

Graziele Iaronka
Redação Beta
4 min readJun 11, 2019

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Por Graziele Iaronka e Laura Hahner Nienow

Na última segunda-feira, 10 de junho, foi celebrado o dia da Língua Portuguesa. Escolhida em homenagem ao poeta português Luís Vaz de Camões, a data é comemorada nos 10 países em que a língua portuguesa é o idioma oficial. Ao todo, o idioma conta com cerca de 250 milhões de falantes.

Acordo foi realizado com o objetivo de unificar a ortografia entre os diferentes povos que falam o idioma português. (Foto: Graziele Iaronka/ Beta Redação)

Para unificar a ortografia entre os diferentes povos, em 2009 foi ratificado o acordo ortográfico no Brasil que, em 2016, passou a ser obrigatório. Dez anos depois da sua implementação, ainda há quem enfrente dificuldades para compreender as “novas” regras. Afinal, além da adesão do k, y e w no alfabeto, ainda é preciso tomar cuidado com os ss, ç, z, sc e o uso dos porquês.

A professora, pedagoga e especialista em gestão escolar, Cátia Silvana de Souza relata que, com a introdução das três letras, os alfabetizadores ficam em dúvida sobre a classificação de y e w como vogais ou consoantes, por exemplo. “Há alguns escritores que defendem que temos 7 vogais na língua portuguesa e, outros, que falam que são letras estrangeiras. Temos que rever e nos apropriar dos princípios fonéticos, fonológicos e pedagógicos sobre o novo acordo”, declara.

Para a jornalista e estudante de Letras, Mariana Soletti, o acordo ortográfico entrou em vigor enquanto ela estava no primeiro ano do Ensino Médio. “A princípio, não foi muito difícil se adaptar, sobretudo porque os conceitos gramaticais, principalmente silábicos, foram bem explicados em sala de aula”, explica.

Mariana afirma que o idioma pode ser traiçoeiro tanto para um jornalista quanto para um estudante de letras. “No Jornalismo aprendi metodologias que geram um texto conciso, com frases enxutas e nunca truncadas. Já na Letras, meu estilo de escrita é diferente. O fluir de uma linguista compreende pouco uso de pontuação, evitando períodos intermináveis e dominando grande acervo de adjetivos. Em suma, os recursos estilísticos são mais latentes”, conta a jornalista.

Desafios da alfabetização

De acordo com o Atlas Socioeconômico do Rio Grande do Sul, divulgado em 2017, o Estado é um dos cinco com maior taxa de alfabetização. Já no Brasil, no mesmo ano, a taxa de analfabetos era de 7%. Sendo assim, mais de 11,5 milhões de pessoas, acima de 15 anos, não sabem ler e escrever, independente do acordo ortográfico.

(Fonte: IBGE — PNAD Contínua 2017 — Educação)

Conforme pesquisa de 2017 realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em todo o território brasileiro há cerca de 2,2 milhões de professores da educação básica que trabalham para mudar essa realidade. O desafio é enfrentado diariamente por Cátia, professora e pedagoga.

Trema e acentos diferenciais marcam os 10 anos da mudança. (Foto: Graziele Iaronka/Beta Redação)

Segundo ela, muitos alunos em fase de alfabetização são inteligentes e capazes de se comunicar. Com 30 anos de profissão, a pedagoga afirma que a dificuldade de aprendizagem é consequência da dispersão e de problemas neurológicos que afetam a capacidade de entendimento e desenvolvimento das habilidades de ler e escrever.

Entretanto, todo os desafios de um professor durante a alfabetização são gratificantes. Para Cátia, alfabetizar é oferecer condições à criança de ser capaz de ler e escrever fazendo o uso adequado da língua escrita e orientá-la a dominar o processo da escrita.

“Desenvolver o meu trabalho com eficiência e responsabilidade, experimentando estratégias e buscando as melhores soluções para os problemas de ensino da leitura e escrita, gera imenso prazer e realização. Fico feliz em contribuir com um tijolinho na construção de cada história de vida.”, declara a educadora.

Valorização da língua

Há 30 anos, a Academia Literária do Vale do Rio dos Sinos (Alvales) incentiva e valoriza a literatura. A proposta é cultivar a língua portuguesa, a escrita criativa, incentivar escritores e oferecer atividades pertinentes à literatura para a comunidade.

Uma dessas atividades é o projeto Albano Hartz-Alvales em Ação, que há três anos alfabetiza adultos de todas as idades. As aulas ocorrem em grupos de até seis pessoas para melhor atender os alunos. As inscrições podem ser feitas na recepção do Espaço Cultural Albano Hartz, Calçadão Oswaldo Cruz.

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Graziele Iaronka
Redação Beta

Estudante de Jornalismo e criadora da Costurinhas de Amor