Liker Shoes une moda e consciência ecológica no Vale dos Sinos

Em uma região conhecida por ser um importante polo coureiro-calçadista, alpargatas veganas tem feito a cabeça — ou melhor, os pés — de inúmeros clientes.

Lidiane Menezes
Redação Beta
5 min readNov 1, 2018

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A marca Liker Shoes comercializa alpargatas veganas (Foto: Lidiane Menezes/ Beta Redação)

A marca Liker Shoes, de Portão, no Vale dos Sinos, traz uma proposta inovadora ao apresentar produtos ecologicamente sustentáveis — alpargatas veganas — que não utilizam nenhuma matéria-prima de origem animal. Com o lema de “sem exploração, para gente do bem”, ou seja, para pessoas que se importam com o futuro do planeta, as alpargatas Liker Shoes apresentam estampas modernas e são produzidas de forma artesanal, empregando materiais reciclados, como tecidos, jutas (fibra têxtil vegetal) e solas de borracha, além de embalagens produzidas com papelão de descarte e colas à base d’água.

Portão é um município distante cerca de 40 quilômetros de Porto Alegre e é lá que esta marca de alpargatas vem ganhando espaço. Em nosso estado elas costumam ser utilizadas nos meios campeiros, como um substituto das famosas botas gaudérias, mas nos últimos anos as alpargatas saíram do campo e vieram para a cidade, compondo o “look” de blogueiras e fashionistas, se tornando a queridinha do momento no mundo da moda.

Confortáveis, esses calçados despojados são ideais para o dia-a-dia. Como uma sapatilha, porém mais informal, elas tem origem árabe, mas foram levadas para a Espanha e posteriormente para o sul da França. Conforme Santos, Razza e Santos em seu estudo “História das alpargatas: um modelo resistente ao tempo e ao modismo”, no Brasil elas começaram a ser produzidas em 1908, pela Fábrica Brasileira de Alpargatas e Calçados.

Fernando Luiz Rosa, 41 anos, é publicitário e trabalhou por muitos anos com o mercado da moda. Desde muito cedo sempre quis empreender e resolveu aliar sua experiência na área de marketing ao conhecimento adquirido na moda para fundar a Liker Shoes. Como diretor da empresa, ele conta que a proposta da marca sempre foi auxiliar na preservação do meio ambiente, respeitando os seres humanos e os animais.

“A Liker surgiu da vontade de poder oferecer um produto que respeitasse o meio ambiente, mas não só ele, como também as pessoas envolvidas em todo o processo produtivo. Desta forma, beneficiando também os consumidores, que poderiam usar nossos calçados com a consciência tranquila”, conta o empreendedor.

Materiais utilizados garantem o conforto dos calçados (Foto: Lidiane Menezes/ Beta Redação)

Internet e a comercialização do produto

Fundada em 2012, a marca aposta na venda física — em Portão os sapatos podem ser adquiridos nas Loja Blank — e em seu e-commerce (www.likershoes.com). A divulgação dos lançamentos é feita principalmente por meio de site e redes sociais, mas, segundo o diretor, a indicação de clientes também é fundamental. “O boca a boca funciona muito bem no nosso caso, com indicações de clientes que usam e recomendam”, afirma.

Com as facilidades que a Internet trouxe para a vida da população, a Liker Shoes encontrou nos meios online uma forma de vender e exportar seus produtos. “Vendemos em uma das maiores lojas de moda online da América Latina, a Dafiti, o que nos proporciona uma grande visibilidade. Na verdade, onde está nossa sede não importa tanto, porque com a internet podemos estar em todo o mundo. Vendemos em todo o Brasil e já exportamos para diversos países”, diz.

Uma marca com consciência social

Há alguns anos o RS tem passado por uma crise no setor calçadista, fazendo com que inúmeras fábricas e empresas fechassem suas portas ou mudassem para outros Estados. A concorrência com o mercado chinês — que produz calçados em massa — além da desvalorização da moeda, fez com que diminuíssem as exportações da região do Vale dos Sinos. A crise acarretou no aumento do desemprego na área, como mostra dados coletados pelo Observatório da Realidade e das Políticas Públicas do Vale do Rio dos Sinos — Observasinos. No ano de 2003 a principal ocupação dos trabalhadores do Vale do Sinos era no setor de produção de calçados, 16,87% exerciam funções relacionadas à indústria do calçado. Em 2016 esse número caiu para 5,77%.

Alpargatas com cores e modelos diferenciados e estampas modernas (Foto: Lidiane Menezes/ Beta Redação)

Para Fernando, desde o princípio, a criação da marca trazia embutida a utilização e valorização de, ao menos, parte da mão de obra que acabou ficando ociosa com o fechamento de grandes fábricas da região. Assim, o produto é fabricado de forma artesanal em pequenos ateliers do município e a empresa emprega em seu quadro funcional apenas uma equipe responsável pelas áreas de desenvolvimento, marketing, financeiro e comercial do negócio.

“Internamente fazemos a criação dos modelos e estampas, a produção é terceirizada em ateliers da região. Temos muito conhecimento acumulado, excelente mão de obra, além de sermos um dos maiores clusters calçadistas do mundo, então temos tudo ao nosso redor, o que facilita muito o trabalho, seja na busca por materiais diferenciados ou mesmo na construção de um modelo com uma nova proposta”, afirma.

Os principais custos giram em torno dos materiais utilizados na fabricação das alpargatas veganas, que são adquiridos, em sua maioria, em fornecedores do Rio Grande do Sul. Além disso, a mão de obra especializada é fundamental. “Utilizamos como matéria-prima somente os melhores produtos, para gerar a qualidade e diferenciação que buscamos e, para mão de obra, valorizamos muito os profissionais da região, uma vez que este é um dos pilares da marca”, reitera.

Há seis anos a Liker Shoes inova em seu ramo, focando principalmente em ser uma marca ética e sustentável, que busca entregar calçados com apelo de moda e alcançando assim seu objetivo principal: aliar o conforto à preocupação com a natureza.

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