Lixo verde é transformado em adubo para agricultores familiares

Municípios investem na aquisição de maquinário para processar galhos, folhas, grama e outros materiais orgânicos

Torriê Aliê
Redação Beta
5 min readJun 22, 2022

--

Prefeituras visam buscar soluções para manter as ruas limpas e contribuir para o meio ambiente. (Foto: Torriê Aliê/Beta Redação)

Basta percorrer ruas e calçadas para se deparar com folhas e galhos que ficam como resíduos das podas de árvores. Muitas vezes, esse lixo verde, como é chamado aquele originário da arborização urbana, uma vez que este é composto por galhos e cascas de árvores, troncos, gramas, folhas verdes ou secas, flores e outros materiais orgânicos de origem vegetal, é descartado de forma irregular, contribuindo principalmente para a poluição de bueiros.

Visando contribuir com o meio ambiente, traçar novas estratégias para o descarte regular e o reaproveitamento desses resíduos, prefeituras de municípios do Rio Grande do Sul buscaram uma alternativa através do triturador de galhos, um maquinário capaz de esmagar todo o material resultante da poda de árvores ou jardins. O triturador tem a função de processar todo tipo de massa verde como galhos, folhas caídas de árvores, grama cortada, restos de flores, frutas e vegetais.

Ecopoda

Desde 2021, o município de Venâncio Aires, na região central do Rio Grande do Sul, conta com uma estrutura de recolhimento de galhos e restos de poda, chamada Ecopoda, localizada na Secretaria de Infraestrutura e Serviços Públicos (Sisp) — na Rua Duque de Caxias, no bairro Aviação. Segundo o secretário de Meio Ambiente da cidade, Nilson Lehmen, no inverno é comum o aumento das podas. Segundo ele, a população precisa ficar atenta em relação à destinação correta dos resíduos verdes, evitando que galhos fiquem depositados em locais inadequados aguardando recolhimento. “É preciso de conscientização e isso é algo que frisamos e buscamos realizar. Em caso de dúvidas deve-se ligar para a Secretaria do Meio Ambiente, através do contato (55) 2183–0738 que iremos buscar a melhor solução”, reitera o secretário.

Ainda sobre o triturador utilizado na Ecopoda, é importante ressaltar que o material triturado se converte em adubo para ser utilizado pelos agricultores familiares e, até mesmo, pela prefeitura de Venâncio Aires, que faz uso do material para a recuperação de áreas verdes degradadas do município. Além disso, o material recolhido é disponibilizado para que a comunidade o utilize na produção de composteiras.

Na região metropolitana de Porto Alegre, o município de Nova Santa Rita adquiriu recentemente um triturador de galhos, que segundo o secretário de Meio Ambiente do município, Leonardo Martins dos Santos, foi extremamente necessário para acabar com o descarte irregular de resíduos.

Ele esclarece que, quando assumiu a Secretaria de Meio Ambiente, a situação era crítica, especialmente em função da pandemia. "No período de pandemia as pessoas passavam mais tempo em casa aproveitando para cortar árvores e fazer a limpeza de seus pátios e não sabiam o que fazer com esse material. Como não faziam ideia de como descartar, queimavam esses resíduos, o que é crime ambiental (conforme a Lei Nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998)", explica. A partir da aquisição do triturador de galhos, disse Leonardo, foi possível iniciar o gerenciamento correto dos resíduos orgânicos.

Confira através do vídeo abaixo o funcionamento do triturador de galhos adquirido pela prefeitura de Nova Santa Rita/RS:

Projetos ambientais colaboram com a agricultura familiar

No município de Júlio de Castilhos, localizado na Mesorregião do Centro Ocidental Rio-Grandense, os projetos estão voltados para a agricultura familiar, afinal a cidade conta com 23 ações voltadas para esta forma de plantio. Dentre elas, destaca-se o uso do triturador para compor o projeto ambiental desenvolvido na cidade. A partir da trituração de galhos, folhas caídas de árvores e gramas é realizado o processo de adubo da sobra desses materiais, posteriormente entregues para agricultores familiares utilizarem em seus plantios. De acordo com a secretária municipal de Meio Ambiente de Júlio de Castilhos, Ana Paula Alf Lima, a prefeitura realiza a busca do material orgânico nas residências e leva até o pátio da prefeitura, onde é triturado.

“A partir da compra do triturador podemos criar uma organização para o descarte correto do material oriundo da poda de árvores, corte de gramas e restos verdes. Foi de suma importância para a limpeza da cidade, conservar o meio ambiente, além de buscar educar a população sobre o descarte correto desse material. Na rua o material não ia se dissolver. É preciso mostrar para a comunidade que nós temos o maquinário, que estamos indo atrás de soluções para cada vez mais contribuir com o meio em que vivemos. Outras práticas virão a ser implantadas”, destaca.

Práticas sustentáveis que servem de incentivo

Em Santiago, na região central do Estado, foi instaurado, em 2020, um projeto de gestão de resíduos sólidos chamado "Pila Verde", que consiste na troca de 5 quilos de lixo orgânico por 1 moeda denominada “pila verde”. Essa moeda agrosocial tem poder de compra com os feirantes municipais. Já os feirantes que recebem o valor podem comprar mudas de hortaliças e recebem em suas propriedades o adubo produzido com o lixo orgânico. Segundo a secretária municipal de Meio Ambiente, Andriele Martins Peruffo, o projeto vem funcionando na comunidade e busca incentivar a separação correta do lixo pelas famílias.

“Queremos ampliar esse projeto buscando proporcionar novos pontos de recolhimento do lixo orgânico e implementar novas modalidades de troca. É um projeto que nos torna referência em gestão de resíduos sólidos e queremos cada vez mais conscientizar as pessoas”, explica Andriele.

O Pila Verde fomenta a economia solidária e o meio ambiente na cidade de Santiago. (Foto: Márcio Brasil/Prefeitura Municipal de Santiago/RS)

Além de funcionar dentro da cidade, o projeto chamou atenção de municípios vizinhos como Júlio de Castilhos, que já desenvolve um projeto parecido — chamado “Charolês Verde” em homenagem à raça bovina que se faz muito presente na cidade — e inspirado na experiência de Santiago.

“Pra nós é muito gratificante servir de modelo para outros órgãos públicos de cidades vizinhas. Sempre vamos dar nosso aval positivo para essa prática, afinal, toda boa política deve ser uma inspiração”, conclui Andriele.

Vale ressaltar que a iniciativa do município de Santiago integra a campanha Agroecologia nas Eleições, da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), que acontece em todo país.

--

--