Mães deixam o trabalho para cuidar dos filhos em proporção quatro vezes maior que os pais
Em contrapartida, mulheres optam por priorizar carreira profissional e não pretendem ter filhos
Conciliar carreira profissional com maternidade está longe de ser uma tarefa simples. Um dos principais desafios enfrentados pelas mães é equilibrar as demandas pessoais e profissionais. Uma pesquisa da Catho, empresa especialista em vagas de emprego, com 2.3 mil respondentes, revelou que 30% das mulheres brasileiras deixaram o mercado de trabalho para cuidar dos filhos em 2018.
A educadora física Rosi Dias, 46 anos, sempre considerou tarefa difícil conciliar a maternidade e o mercado de trabalho. Justamente por isso, a ideia de ser mãe nunca esteve em seus planos.
“Com 15 anos de idade eu já tinha em mente que não queria ser mãe. Sempre pensava na responsabilidade de ter filhos e não me imaginava acordando de madrugada para trocar fraldas e dar mamadeira. Ao longo dos anos, essa decisão foi ficando mais forte", relata.
Segundo ela, conciliar filhos e carreira profissional são atribuições que não combinam. "A maternidade faz as mulheres terem que abrir mão de muitas coisas e eu não estou disposta a fazer isso”, afirma.
Assim como Rosi, outras tantas mulheres optam por não serem mães. Uma pesquisa do Vagas.com indica que 70% das entrevistadas disseram que não pretendem ter filhos. Além disso, 43% delas afirmam que a decisão é por conta da dificuldade de conseguir emprego ou se manter no mercado de trabalho.
“A minha decisão também aconteceu pensando no trabalho. Aliás, provavelmente eu teria optado por outra profissão [no caso de querer ter filhos], já que teria que disponibilizar mais tempo para cuidar da criança. Filhos precisam de atenção, cuidado e dedicação. Se a mulher tem condições financeiras para contratar uma equipe de apoio, por exemplo, fica mais fácil. Caso contrário, tem que querer muito ser mãe e planejar bem essa essa nova fase da vida”, avalia.
O que dizem as leis?
A legislação brasileira prevê garantias às gestantes e às mulheres que recém se tornaram mães. A estabilidade de grávidas no mercado de trabalho, por exemplo, é garantida pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto. As leis ainda vedam qualquer prática discriminatória em relação às mães e obrigam as empresas a modificarem a função dessas funcionárias se as condições de saúde exigirem.
Ainda assim, as coisas são diferentes na vida real. A mesma pesquisa do Vagas.com já citada anteriormente aponta que 52% das mães que trabalham já passaram por constrangimentos no mercado de trabalho por causa da maternidade.
O estudo também revela outras queixas levantadas por essas mulheres, como comentários desagradáveis, subestimação, exclusão de projetos, redução de carga horária e salário e, até mesmo, demissão. A análise aponta ainda que quase 70% das entrevistadas para vagas de emprego disseram ter sido perguntadas sobre filhos e planos de engravidar nos processos seletivos.
É importante ressaltar que o Art. 392 da CLT garante licença-maternidade remunerada de quatro meses (120 dias). Em 2022, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que esse afastamento começa a ser contado a partir da alta hospitalar da mãe ou do recém-nascido e não mais da data do parto.
Por outro lado, apesar da licença-paternidade também ser um direito garantido por lei, as empresas são obrigadas a dar apenas cinco dias corridos de liberação aos funcionários. O prazo pode ser estendido para 20 dias, mas só se o estabelecimento estiver cadastrado no programa Empresa Cidadã.
Essa garantia de lei faz a participação dos pais em relação aos cuidado dos filhos recém-nascidos ser muito menor se comparada com a das mães. O número de homens que deixa o mercado de trabalho para cuidar das crianças, por exemplo, é quatro vezes menor do que o de mulheres, com uma taxa de apenas 7%.
E quando a exceção funciona?
No caso da empresária Diana Haas, a gravidez do filho Fred foi planejada em função da situação financeira confortável da família. Também por esse motivo a profissional conseguiu preparar uma equipe de apoio no trabalho para dar mais atenção ao menino ao longo de seu crescimento.
Ainda assim, quem parou de trabalhar como motorista de aplicativo para cuidar da criança foi André de Oliveira, marido de Diana e pai de Fred. Segundo ela, não havia necessidade de terceirizar essa responsabilidade com o filho.
“Aqui em casa, eu sou a provedora e ele é um pai presente. Financeiramente, eu tinha um ganho muito maior, que não faria sentido abrir mão. Além disso, a minha carreira permite que eu concilie o trabalho com a maternidade. Mas, claro, só com cada um de nós dois assumindo seus papéis”, relata Diana.
Como os dados mostram, a realidade familiar de Diana e André está longe de ser comum no Brasil. No entanto, o casal não parece se preocupar com possíveis julgamentos.
“Nós sabemos que essa é uma situação que causa estranheza por não ser a estrutura familiar comum. Mas o André sempre foi muito melhor com os cuidados da casa e sempre conseguiu atender muito bem as necessidades do Fred. Ele nunca se importou com a possibilidade de ser julgado. Julgamentos externos não alteram nossa percepção. Para nós funciona muito bem assim. Então, assim seguimos”, finaliza a empresária.