Métodos de prevenção do HIV buscam erradicar a propagação do vírus

Cresce a adesão a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), oferecida gratuitamente no Brasil, que combina medicações e vacinação

Deivid Duarte
Redação Beta
4 min readMay 22, 2019

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H á dois anos, o Brasil deu um passo importante para o controle da epidemia do HIV. No dia 25 de maio de 2017, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou a distribuição do primeiro medicamento para a prevenção do vírus: o Truvada. Até então, a camisinha era a única proteção disponível.

No mesmo ano, a medicação passou a ser distribuída pelo Sistema Único de Saúde, e constituiu um programa que envolve aconselhamento para uma vida sexual segura, além de exames periódicos.

O PoaPrEP, parte do HPTN 083, desenvolve comunicação inclusiva e atenta as pautas LGBTQI+ nas redes sociais (Foto: Facebook/PoaPrEP)

Já a vacina de longa duração Cabotegravir, que partiu de um estudo com financiamento estrangeiro, começou a ser testada em voluntários no mesmo período. Tanto a distribuição do Truvada pelo SUS, quanto a vacina, vão além da simples administração de um fármaco: as estratégias são conhecidas como Profilaxia Pré-Exposição (PrEP).

Segundo o Ministério da Saúde, os tratamentos são indicados para grupos considerados com maior risco de infecção: gays e bissexuais, pessoas trans, trabalhadores/as do sexo e casais sorodiferentes — quando uma pessoa está infectada pelo HIV e a outra não.

Estudo da vacina é financiado pelos Estados Unidos

O estudo HPTN 083, da vacina injetável de ação prolongada, é realizado simultaneamente em 7 países e financiado pela Divisão de Aids do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla em inglês).

No Brasil, ele é realizado nas capitais São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Cada cidade conta com 177 participantes, como informa o enfermeiro biomédico do PoaPrEP, Marcelo Vieira de Almeida. No Estado, o projeto é coordenado pelo Grupo Hospitalar Conceição (GHC).

Foi por acaso que Lucas Stein, 27, conheceu, em Porto Alegre, o HPTN 083, estudo pioneiro que busca implementar a vacina de prevenção ao HIV. Após a inscrição, ele passou por uma triagem, que envolve relato sobre a vida sexual e exames para avaliar a saúde. “Eu estava acompanhando minha tia, que é soropositiva, no Hospital Conceição para uma consulta de rotina e vi um cartaz divulgando a ação, logo me interessei”, relembra.

“Sou o voluntário número 2 do projeto no Rio Grande do Sul. Estou há 57 semanas em tratamento. Já passei por quase todos os efeitos adversos. É preciso ter uma boa saúde e alimentação controlada para evitá-los”, relata Lucas, que passou a ter pesadelos constantes, fraqueza e enjoos moderados.

Tanto quem participa do estudo para a vacina, quanto quem realiza tratamento pelo SUS precisa tomar o Truvada diariamente. No entanto, a coordenadora adjunta estadual de IST/Aids, Fernanda Torres de Carvalho, salienta que os tratamentos não excluem a necessidade do preservativo.

“Temos observado que a PrEP faz com que os usuários visitem o serviço com bastante frequência. Com isso, criam um bom vínculo e têm a oportunidade de receber aconselhamento e pensar nos riscos. Quem usa PrEP muitas vezes acaba aderindo muito mais ao preservativo, pois sabem que o risco de contrair outras Infecções Sexualmente Transmissíveis, como sífilis e gonorreia, continua o mesmo”, explica a coordenadora.

Fernanda conta que, hoje, 863 gaúchos recebem o Truvada pelo SUS, nos 11 municípios em que a estratégia está disponível. O medicamento é a combinação de Entricitabina (FTC) e Fumarato de Tenofovir Desoproxila (TDF). Ele é um antiretroviral, ou seja, impede a propagação do vírus HIV na corrente sanguínea. Antes da PrEP, ele já era indicado no Brasil para o tratamento da Aids.

O Coordenador da pesquisa e chefe do Serviço de Infectologia do Hospital Conceição, Breno Riegel Santos explica a diferença dos fármacos. “De forma resumida, a vacina, composta pelo Cabotegravir, estimula a imunidade do paciente, enquanto o Truvada é um medicamento que vai agir no HIV antes dele poder atingir as células humanas”, diferencia.

Medicamento usado na PrEP é produzido nos Estados Unidos, pelo laboratório Gilead, e reembalado no Brasil (Foto: Divulgação/Secretaria da Saúde RS)

Otimismo no RS

O governo de Jair Bolsonaro preocupa quem lida com o tema, conforme comunicado da Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA) e declarações de outras entidades responsáveis pelo combate ao HIV no país. Declarações antigas que demonstram o preconceito do presidente quanto aos portadores do vírus HIV incomodam as instituições de saúde.

Entretanto, para a psicóloga Fernanda, o quadro até o momento está positivo. “Não temos nenhum corte ou desaceleração do governo federal até o momento. Pelo contrário, o Diretor do Departamento Nacional colocou o RS como prioridade”, conta. A escolha pode ser explicada pelo fato de 6 das 10 cidades com maior número de detecção de Aids estarem localizadas no Rio Grande do Sul.

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