Múltiplas linguagens para falar com os jovens

Professor Marcelo Wasem, da UERJ, debate sobre juventude na Unisinos Porto Alegre, em seminário do Canal Futura

Milena Riboli
Redação Beta
5 min readSep 13, 2017

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Marcelo Wasem é consultor da Maleta Futura Juventudes, professor do Instituto de Artes da UERJ, coordenador do Lab S.O.N.A.R, também da UERJ, músico, artista visual e realiza pesquisas na área de poéticas colaborativas e arte no espaço público.

Marcelo Wasen inicia a conversa na Unisinos Porto Alegre (Foto: Milena Riboli/Beta Redação)

O projeto “Maleta Futura” é de iniciativa do canal, e atua oferecendo um grande acervo que conta com programas variados, curtas, filmes, documentários e similares, e possui um recorte temático. Diversos assuntos já foram abordados, “infância”, “beleza”, “meio ambiente” e “saúde” são pautas recorrentes.

Por causa das recentes mudanças de direcionamento do canal, que agora conta com uma persona que se aproxima da imagem de uma jovem mulher antenada com o mundo e bastante empoderada, algumas maletas já não faziam mais sentido para a programação do Futura. Assim sendo, a maleta vigente (de 2017) é intitulada “Juventudes”.

A conversa leva o nome de “Provocações das/nas/às juventudeS”, com um “s” no final para enfatizar que a juventude, apesar de ser um grande grupo, se diferencia em inúmeros momentos, pois é composta por pessoas das mais variadas vivências.

De início, foram apresentados dois vídeos da série “Diz Aí”, que procura ouvir a história de jovens de todas as partes a partir de suas perspectivas.

O primeiro, de nome “Jovens Horizontes”, que pode ser conferido abaixo, mostra a realidade de pessoas que moram próximas à tríplice fronteira Brasil-Argentina-Uruguai.

Pessoas que moram nas cidades ao redor, como Uruguaiana, Santana do Livramento, Bonpland (ARG), Paso de los Libres (ARG) e Rivera (URU) relatam suas vidas diante de uma rotina de estudos que nem sempre é fácil e requer inúmeros sacrifícios. Entre eles deixar amigos e família para trás e partir para outras localidades em busca melhores oportunidades.

O segundo vídeo tem uma lógica diferente e utiliza-se de atores para narrar a história de outras pessoas, até o final do mesmo. Mostra personagens que não se encaixam em padrões de gênero — que sofrem com o preconceito, homofobia, transfobia e afins — procurando humanizá-las desmistificando diversos tabus.

O grande diferencial deste segundo vídeo é que ele foi produzido exclusivamente para a Maleta Juventudes, divergindo do que acontecia anteriormente, onde um “garimpo” de conteúdos era feito e materiais já existentes no canal eram agrupados em vídeos temáticos. Bastante recente, o material ainda não está disponível online.

Marcelo inicia a conversa procurando entender como é possível construir espaços de diálogo com os jovens, colocando em voga palavras e termos como “fala e escuta”, “conversação”, “lugares”, “acionamentos”, “diálogo” e “acontecimentos”.

Ele explica que o objetivo é pensar “Como a gente pode subverter esses espaços para que realmente haja uma comunicação com os jovens, e que seja [uma conversa] com, para, e a partir deles”, elucida Wasen.

Como consultores escalados para escrever sobre juventude para o canal, Marcelo montou time ao lado de André Sobrinho e Jaqueline Santos, resolvendo assim partir do Estatuto da Juventude, no intuito de investigar se o mesmo funciona, justamente por ter sido implantado recentemente.

“O Estatuto da Juventude é resultado de uma Secretaria Nacional, de um Conselho de Juventude, de conferências nacionais que aconteceram em 2008, 2013 e 2016. Então ele é um resultado de um processo que é recente na nossa história, apesar [da juventude] não ser recente, pois sempre esteve aí. Foi lendo o Estatuto que nós debatemos o mesmo, nos questionando se algumas políticas realmente estavam acontecendo”, continua.

1/4 da população brasileira se compreende na faixa dos 15 a 29 anos, período esse que é entendido como a juventude. A partir disso, Marcelo desenvolveu questionamentos que procuram captar o que seria um indicativo de estar deixando a juventude para trás. Ele aponta questões como casar, constituir família e deixar a casa dos pais como indícios claros disso. Isso ajudou a equipe de consultores a escrever, partindo de uma conceito mais expandido do que se entende, inicialmente, por “juventude”.

Voltando-se para o que o dicionário fala sobre juventude, é possível ler definições como “Período de vida compreendido entre a infância e a idade adulta”, entre outros significados similares.

Definição do Google para a palavra “juventude”

Ainda assim, ele frisa que o jovem é mestre nos saberes, nas linguagens, nos modos de se deslocar pelos lugares, de se portar diante da educação formal e etc.

“Há uma sabedoria na juventude, nesse enigma, nessa personalidade misteriosa, nesse olhar curioso sobre o mundo e também na vontade de questioná-lo.”

Na projeção, Marcelo exemplifica a personalidade dúbia que é comum na existência da juventude (Foto: Milena Riboli/Beta Redação)

A partir disso, ele debate as identidades, especificando que existem dois tipos de identificação: fixa e a relacional.

A identidade fixa ocorre quando nos identificamos com pessoas com traços similares aos nossos. Ao unir coletividades semelhantes forma-se o comportamento “de clãs”. Entretanto, ao mesmo tempo excluem-se as outras coletividades pelo fato de serem diferentes. Um grupo de pessoas parecidas conflita com outro grupo, que também é unido devido a “coisas em comum”. Apesar da homogeneidade presente em cada um dos grupos, há brigas e disputas entre um grupo e outro.

A identidade relacional, por sua vez, é composta por alteridade, coletividades inclusivas, coletivos que se atravessam por causa das musicalidades, onde o que há em “comum” são justamente as diferenças.

E é justamente em razão dos jovens e da juventude, de modo geral, serem um grupo bastante amplo e diversificado que pesquisas como essa se mostram cada vez mais interessantes. Os nichos são vários e para que haja ampla comunicação com “a juventude” (entendida como um grande grupo, muitas vezes) é necessário “falar diversas línguas”.

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Milena Riboli
Redação Beta

Estudante de Jornalismo, quase formada, entusiasta de Fotografia e Gastronomia. Apaixonada por música e gatos. E segue.