Mais de 23 mil professores estão afastados na rede estadual

Falta de educadores atrasa ano letivo e prejudica estudantes, principalmente na preparação para Enem e vestibulares

Mateus Friedrich
Redação Beta
4 min readSep 3, 2019

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Seduc informa que 23.676 professores estão afastados das salas de aula no Rio Grande do Sul. (Foto: Mateus Friedrich/Beta Redação)

A falta de professores na rede pública de ensino é um problema recorrente no Rio Grande do Sul. Diversas escolas convivem com essa situação que acarreta prejuízos aos estudantes. De acordo com pesquisa realizada em maio pelo Cpers (sindicato que representa os professores da rede pública), faltavam cerca de 850 docentes nas salas de aula do Estado nos dois primeiros meses do ano letivo.

Atualmente, a rede estadual de ensino conta com 59.652 professores, sendo 41.153 efetivos e 18.499 contratados temporários. Em 2019 foram contratados 1.472 profissionais. Porém, conforme a Secretaria Estadual da Educação (Seduc), 23.676 professores estão afastados das salas de aula por razões de licenças diversas e aposentadorias. O órgão afirma que o afastamento acentuou-se neste ano. Diante desse cenário, o governo diz trabalhar com os professores em uma perspectiva de diálogo e escuta, a partir de ações que buscam a reestruturação da rede.

O prejuízo é ainda maior para os estudantes que estão concluindo o Ensino Médio. Em preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e para ingressar no Ensino Superior, os jovens perdem conteúdo e, em alguns casos, precisam aprender as matérias por conta própria. Apesar disso, na visão dos servidores estaduais, a Seduc não está tão preocupada com essa realidade.

Diretora da Escola Estadual Técnica São João Batista, de Montenegro, Juliana Cabreira Bender reclama da falta de planejamento do governo. “Ficamos de maio a agosto sem professores de História, Filosofia, Sociologia e Geografia e os professores que chegaram em agosto estão tendo que recuperar as aulas em horários extras e não vão receber por isso. Não há uma política de planejamento pelo governo do Estado. Entendo que tenha que se cortar gastos, mas acho que não se corta na educação”, pondera.

Juliana Bender afirma que a Seduc não dá a devida importância para a crise na educação. (Foto: Mateus Friedrich/Beta Redação)

O protesto de Juliana se deve ao fato de que duas professoras da escola se aposentaram recentemente. A Seduc estava ciente das aposentadorias, mas demorou para agilizar as novas contratações. “A Secretaria sabia da previsão das aposentadorias. É complicado, pois precisamos de planejamento e organização. A gente procura manter a qualidade, mas claro que acaba ficando comprometida. Isso influencia no aprendizado dos alunos e na sistemática das aulas”, frisa a diretora.

Na escola de Montenegro, os professores que chegaram recentemente buscam recuperar o tempo perdido em horários extras, às vezes com a oferta de aulas à noite. “Buscamos manter os temas que devem ser trabalhados, mas sempre tem algum conteúdo que fica para trás ou que é abordado com menor ênfase. Não sei se a Seduc dá a mesma importância que nós para o ensino”, complementa Juliana.

Atraso no calendário preocupa estudantes

Prestes a concluir o ensino médio, Pedro Ernesto Condini Gunther, 17 anos, sofre com a falta de professores durante o ano letivo. “Perdemos um trimestre de Língua Portuguesa no começo do ano por não ter professor. Quando a nova professora chegou a escola organizou aulas à noite, mas o atraso era muito grande. Depois, saíram as professoras de Sociologia e Filosofia. Perdemos conteúdo e isso é horrível porque atrapalha os horários e o cronograma de estudos”, lamenta.

O estudante entende que a escola não tem culpa e vê os educadores tão prejudicados quanto os alunos. “Os professores não estão recebendo nada para vir dar aula à noite para nós. Nos meus três anos do ensino médio fiquei sem professor em determinados momentos, o que gerou atraso nas matérias. Meus amigos de outras turmas já tiveram conteúdos que eu não tive por faltar professor”, critica.

Colega de Pedro, a estudante Nathalia de Oliveira, 17 anos, tem um empecilho para acompanhar as aulas em horários extras: o transporte. Ela mora em Capela de Santana e não tem como ir a Montenegro para recuperar as aulas à noite, perdendo o conteúdo novo. A jovem mudou recentemente de escola e logo observou atraso nas matérias. “Isso nos atrapalha bastante para o Enem. Não temos as matérias suficientes e acabamos recorrendo a vídeo aulas na internet”, declara.

Sindicato realiza ações diárias de cobrança ao governo

Representante dos professores da rede pública do Rio Grande do Sul, o Cpers realiza ações diárias em prol dos educadores e dos estudantes. O professor Edson Rodrigues Garcia, que atua como 2° vice-presidente do Sindicato, enumera as atividades realizadas pelo sindicato todos os dias no Estado.

“Pressionamos o Governo com pedidos de audiências, que muitas vezes não são atendidos. Denunciamos na imprensa, fazemos atos regionais e estaduais, caminhadas, apelamos para deputados e realizamos audiências públicas na Assembleia Legislativa e nos municípios dos 42 núcleos”, ressalta Garcia.

Edson Garcia critica a falta de professores e o sucateamento de bibliotecas. (Foto: Arquivo Pessoal/Edson Rodrigues Garcia)

O vice-presidente frisa que muitos estudantes ainda não tiveram aulas de Língua Portuguesa e Matemática em 2019. Além disso, ele chama a atenção para as bibliotecas fechadas em diversas escolas. “O prejuízo é imenso para alunos e professores. As bibliotecas estão sendo sucateadas por não terem um professor sequer para abri-las, já que esses foram deslocados para as salas de aula. Os educadores e funcionários estão, literalmente, pagando para trabalhar”, completa.

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