Mais turistas, menos gastos
Apesar do aumento de estrangeiros visitando o país, o gasto médio por pessoa diminuiu progressivamente nos últimos cinco anos
Os turistas estrangeiros estão gastando cada vez menos no Brasil. É o que revela o Estudo da Demanda Turística Internacional, realizado pelo Ministério do Turismo em parceria com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas. Segundo a análise, que apresenta números do setor anualmente, o gasto médio per capita diário foi de US$ 68,94, em 2012 e, em 2016, chegou ao valor de US$55,52 . Entre 2012 e 2016, o único ano que fugiu à regra da queda progressiva da arrecadação com turistas foi 2014, ano da Copa do Mundo, realizada em 12 cidades brasileiras, com um fluxo intenso de visitantes de vários países.
Transformação do perfil dos turistas
A diminuição dos gastos acontece tanto no turismo de lazer, quanto no de negócios e nas viagens classificadas como outros motivos. O turismo de lazer é o que mais traz turistas ao Brasil e essa liderança vem crescendo, enquanto o turismo de negócios — que é o que movimenta mais dinheiro — vem decrescendo no país. Esse pode ser um possível impacto da recessão econômica.
A transformação é confirmada proporcionalmente quando se fala em composição do grupo turístico: a maior parcela dos viajantes estrangeiros, 34,1%, ainda vem ao Brasil sozinho. Porém, esse número está caindo a cada ano, enquanto a viagem em família vem crescendo no mesmo período. Em 2012, 24,7% dos estrangeiros chegavam ao Brasil em grupo familiar e, em 2016, este número chegou a 31,1%.
Com essa ligeira mudança do perfil dos turistas, a hospedagem também vem ganhando novos mercados. A maior parcela dos turistas estrangeiros ainda fica hospedada em hotéis, flats ou pousadas, porém a opção de aluguel de casas cresce progressivamente: o número subiu de 11,9% em 2012, para 16,7% no ano passado.
Empresas digitais como o Airbnb estão movimentando este mercado. Segundo a própria start up americana, as reservas de imóveis no site subiram 148% na América Latina, entre 2016 e 2017. A internet, aliás, só cresce quando o assunto é fonte de informação turística: é o principal local de busca, sendo usada por quase metade dos estrangeiros. Enquanto isso, fontes tradicionais, como agências e guias impressos, decaem cada vez mais: 82,2% dos entrevistados já não utilizam agências.
Ao chegar ao Brasil, este público altamente conectado acaba decepcionado: o item telecomunicações é o que mais deixa a desejar na hora da avaliação, seguido pela condição das rodovias. Já o aspecto que mais agrada os “gringos” no Brasil é a hospitalidade, que nos cinco anos pesquisados oscilou em torno de 98% de satisfação. Itens como segurança e domínio de línguas não aparecem no estudo.
Invasão sul-americana
Apesar de gastarem menos, os estrangeiros estão vindo mais ao Brasil. Os anuários estatísticos de turismo mostram que, entre 2012 e 2016, o número de entradas de não residentes no país saltou de 5,6 milhões para 6,5 milhões. O nível de satisfação deste público com preços e com a viagem em geral também vem aumentando a cada ano: para 87,7% o período em terras brasileiras superou ou atendeu às expectativas em 2016.
Porém, o que está mudando é a composição deste número quanto às nacionalidades. A presença de americanos e europeus — que possuem vantagem com relação ao câmbio e à renda média — vem diminuindo no Brasil, mesmo com o acontecimento das olimpíadas no ano passado. E os americanos são justamente os únicos que aumentaram ou mantiveram o gasto médio no período observado.
Enquanto isso, os turistas oriundos dos países da América do Sul só ganham espaço: eles saltaram de 49,7% para 56,7% da composição turística em cinco anos.
O país que possui a liderança isolada de turismo no Brasil é Argentina: mais de 2,2 milhões de “hermanos” entraram no Brasil em 2016, número que representa 34,8% dos turistas estrangeiros. Os Estados Unidos, detentores do segundo lugar, representam apenas 8,6%, seguidos por países sul-americanos como Paraguai, Chile, Uruguai, Colômbia e Bolívia, respectivamente. Juntos, estes últimos cinco países trouxeram mais de um milhão de turistas ao Brasil só no ano passado.
Esta invasão turística por parte dos países vizinhos significa muito mais pessoas acessando o país por via terrestre, mais precisamente 48% dos turistas sul-americanos. Entre os argentinos, 51% chegaram ao Brasil por terra em 2016, e 45%, por aéreos. Já entre os paraguaios, o número de acessos via transportes como carros ou ônibus chega a 82% e, entre os uruguaios, 58%.
Os visitantes vindos destes três países possuem um perfil parecido, viajando ao Brasil principalmente a lazer. O que significa sol e praia: seus principais destinos são cidades litorâneas catarinenses e cariocas, para onde viajam principalmente em família.
Quanto à renda média mensal familiar, o panorama também é similar. Os argentinos que visitaram o Brasil em 2016 possuíam uma renda média de US$ 2,5 mil e os paraguaios, US$ 2,6 mil.
Países europeus que figuravam há cinco anos atrás entre as principais fontes de turistas para o Brasil, como Alemanha e França, tornaram-se menos expressivos na porcentagem do ano passado, o que gera um impacto na hora dos gastos: suas rendas médias são de US$4,2 mil e US$4,4 mil, respectivamente.
Os turistas oriundos destes países viajam, na maioria das vezes, sozinhos e buscam natureza, ecoturismo ou aventura, além do sol e praia. Apesar de 92,2% deles terem intenção de voltar ao Brasil, os níveis de satisfação são bem menores do que o dos sul-americanos, chegando a 57% no item rodovias para os alemães e 69% no item telecomunicações para os franceses.