Mais turistas, menos gastos

Luana Rosales
Redação Beta
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5 min readNov 9, 2017

Apesar do aumento de estrangeiros visitando o país, o gasto médio por pessoa diminuiu progressivamente nos últimos cinco anos

(Foto: Ricardo SB/Flickr)

Os turistas estrangeiros estão gastando cada vez menos no Brasil. É o que revela o Estudo da Demanda Turística Internacional, realizado pelo Ministério do Turismo em parceria com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas. Segundo a análise, que apresenta números do setor anualmente, o gasto médio per capita diário foi de US$ 68,94, em 2012 e, em 2016, chegou ao valor de US$55,52 . Entre 2012 e 2016, o único ano que fugiu à regra da queda progressiva da arrecadação com turistas foi 2014, ano da Copa do Mundo, realizada em 12 cidades brasileiras, com um fluxo intenso de visitantes de vários países.

Fonte: Estudo da Demanda Turística Internacional 2012–2016

Transformação do perfil dos turistas

A diminuição dos gastos acontece tanto no turismo de lazer, quanto no de negócios e nas viagens classificadas como outros motivos. O turismo de lazer é o que mais traz turistas ao Brasil e essa liderança vem crescendo, enquanto o turismo de negócios — que é o que movimenta mais dinheiro — vem decrescendo no país. Esse pode ser um possível impacto da recessão econômica.

Fonte: Estudo da Demanda Turística Internacional 2012–2016

A transformação é confirmada proporcionalmente quando se fala em composição do grupo turístico: a maior parcela dos viajantes estrangeiros, 34,1%, ainda vem ao Brasil sozinho. Porém, esse número está caindo a cada ano, enquanto a viagem em família vem crescendo no mesmo período. Em 2012, 24,7% dos estrangeiros chegavam ao Brasil em grupo familiar e, em 2016, este número chegou a 31,1%.

Fonte: Estudo da Demanda Turística Internacional 2012–2016

Com essa ligeira mudança do perfil dos turistas, a hospedagem também vem ganhando novos mercados. A maior parcela dos turistas estrangeiros ainda fica hospedada em hotéis, flats ou pousadas, porém a opção de aluguel de casas cresce progressivamente: o número subiu de 11,9% em 2012, para 16,7% no ano passado.

Fonte: Estudo da Demanda Turística Internacional 2012–2016

Empresas digitais como o Airbnb estão movimentando este mercado. Segundo a própria start up americana, as reservas de imóveis no site subiram 148% na América Latina, entre 2016 e 2017. A internet, aliás, só cresce quando o assunto é fonte de informação turística: é o principal local de busca, sendo usada por quase metade dos estrangeiros. Enquanto isso, fontes tradicionais, como agências e guias impressos, decaem cada vez mais: 82,2% dos entrevistados já não utilizam agências.

Ao chegar ao Brasil, este público altamente conectado acaba decepcionado: o item telecomunicações é o que mais deixa a desejar na hora da avaliação, seguido pela condição das rodovias. Já o aspecto que mais agrada os “gringos” no Brasil é a hospitalidade, que nos cinco anos pesquisados oscilou em torno de 98% de satisfação. Itens como segurança e domínio de línguas não aparecem no estudo.

Invasão sul-americana

Apesar de gastarem menos, os estrangeiros estão vindo mais ao Brasil. Os anuários estatísticos de turismo mostram que, entre 2012 e 2016, o número de entradas de não residentes no país saltou de 5,6 milhões para 6,5 milhões. O nível de satisfação deste público com preços e com a viagem em geral também vem aumentando a cada ano: para 87,7% o período em terras brasileiras superou ou atendeu às expectativas em 2016.

Porém, o que está mudando é a composição deste número quanto às nacionalidades. A presença de americanos e europeus — que possuem vantagem com relação ao câmbio e à renda média — vem diminuindo no Brasil, mesmo com o acontecimento das olimpíadas no ano passado. E os americanos são justamente os únicos que aumentaram ou mantiveram o gasto médio no período observado.

Enquanto isso, os turistas oriundos dos países da América do Sul só ganham espaço: eles saltaram de 49,7% para 56,7% da composição turística em cinco anos.

Fontes: Anuário Estatístico de Turismo 2013 e Anuário Estatístico de Turismo 2017

O país que possui a liderança isolada de turismo no Brasil é Argentina: mais de 2,2 milhões de “hermanos” entraram no Brasil em 2016, número que representa 34,8% dos turistas estrangeiros. Os Estados Unidos, detentores do segundo lugar, representam apenas 8,6%, seguidos por países sul-americanos como Paraguai, Chile, Uruguai, Colômbia e Bolívia, respectivamente. Juntos, estes últimos cinco países trouxeram mais de um milhão de turistas ao Brasil só no ano passado.

Esta invasão turística por parte dos países vizinhos significa muito mais pessoas acessando o país por via terrestre, mais precisamente 48% dos turistas sul-americanos. Entre os argentinos, 51% chegaram ao Brasil por terra em 2016, e 45%, por aéreos. Já entre os paraguaios, o número de acessos via transportes como carros ou ônibus chega a 82% e, entre os uruguaios, 58%.

Os visitantes vindos destes três países possuem um perfil parecido, viajando ao Brasil principalmente a lazer. O que significa sol e praia: seus principais destinos são cidades litorâneas catarinenses e cariocas, para onde viajam principalmente em família.

Quanto à renda média mensal familiar, o panorama também é similar. Os argentinos que visitaram o Brasil em 2016 possuíam uma renda média de US$ 2,5 mil e os paraguaios, US$ 2,6 mil.

Países europeus que figuravam há cinco anos atrás entre as principais fontes de turistas para o Brasil, como Alemanha e França, tornaram-se menos expressivos na porcentagem do ano passado, o que gera um impacto na hora dos gastos: suas rendas médias são de US$4,2 mil e US$4,4 mil, respectivamente.

Os turistas oriundos destes países viajam, na maioria das vezes, sozinhos e buscam natureza, ecoturismo ou aventura, além do sol e praia. Apesar de 92,2% deles terem intenção de voltar ao Brasil, os níveis de satisfação são bem menores do que o dos sul-americanos, chegando a 57% no item rodovias para os alemães e 69% no item telecomunicações para os franceses.

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Luana Rosales
Redação Beta

Escrevo, aprendo, viajo, logo existo. Não necessariamente nessa ordem.