Menor peso no bolso, maior na balança

Busca por alimentos de preços mais acessíveis, geralmente menos saudáveis, é uma das principais causas do aumento de obesos no Brasil

Thayná Bandasz
Redação Beta

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Por Nicole Fritzen e Thayná Bandasz

A obesidade é um dos principais problemas de saúde pública no Brasil. Os números preocupam, porque o índice de pessoas que sofrem com o problema aumenta a cada ano. Isso gera discussões sobre quais as causas da doença e de que maneira ela pode ser evitada.

Conforme os dados da Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), realizada pelo Ministério da Saúde, os números sobre obesidade entre os brasileiros são alarmantes. Em Porto Alegre, 62,1% dos homens apresentam o problema. Entre as mulheres, a taxa é de 49%.

Apesar da mudança nos hábitos, a obesidade segue crescendo. (Reprodução: Vigitel Brasil)

Em todas as capitais brasileiras e no Distrito Federal, a frequência da obesidade ficou em 53,85% da população. Entre os homens, 57,7% entram nesse rol e, entre as mulheres, 50,5%. De acordo com a pesquisa, a obesidade também aumenta com a idade de até 64 anos. Em relação às mulheres, quanto maior o grau de escolaridade, menor o índice da doença.

No entanto, a obesidade aumenta o dobro quando a população está na faixa de 18 a 24 anos em relação à faixa de 25 a 34 anos de idade, conforme a pesquisa. Isso está atrelado às questões econômicas da sociedade, como sugere a nutricionista Ana Harb, especialista em nutrição clínica e de alimentos.

Gráfico mostra incidência da obesidade conforme aumento da idade. (Reprodução: Vigitel Brasil)

Segundo ela, o aumento da obesidade está associado a muitos fatores, entre eles o consumo de alimentos mais baratos. “O que podemos observar é que alimentos pouco nutritivos e com alto valor calórico são mais baratos, com disponibilidade em grande escala, o que faz com que as pessoas abram mão de uma alimentação saudável por conta do preço. Elas comem de acordo com o que o bolso permite, independente da qualidade”, comenta.

A analista de dados Priscila Chagas, 30 anos, está no grau II de obesidade, segundo cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC). Com 1,60 de altura, ela pesa 100kg, mas nem sempre foi assim. “Até os 24 anos, eu pesava entre 58kg e 60kg, o que era o peso normal para minha altura. Mas, aos 25, tudo começou a mudar”, conta.

Com a rotina corrida e ficando muito tempo fora de casa, Priscila encontrava nos alimentos prontos uma forma mais fácil de saciar a fome. Como trabalhava no centro de Porto Alegre — lugar onde um buffet livre custa a partir de R$ 20 — escolher salgados e sanduíches era a melhor opção para o bolso da analista. Além disso, o vale refeição dela era revertido em dinheiro para ajudar a pagar as contas. “Eu ficava, e ainda fico, sem o meu dinheiro do VR logo no início do mês. Então, recorro às comidas menos saudáveis, porque são mais baratas, e consigo pagar”, explica.

Níveis do Índice de Massa Corporal. (Reprodução: ABESO)

Consumo de Fast Food também está entre as causas da obesidade

Uma reportagem produzida pelo New York Times mostra que o Brasil está virando um verdadeiro país do junk food. São comidas industrializadas e de fácil acesso, que contribuem para o aumenta da obesidade. As grandes indústrias alimentícias têm grande responsabilidade nesse crescimento, uma vez que produzem alimentos com teor calórico alto demais e que são pobres em nutrientes.

De acordo com a reportagem, apesar do nível crescente da obesidade, a indústria de alimentos está em expansão porque é acessível a pessoas de diferentes níveis sociais. Segundo a Harb, esse é um problema que preocupa a cada ano que passa.

“O nível de obesidade do Brasil está quase alcançando os Estados Unidos no que se refere ao consumo de fast food, por exemplo. É muito mais barato comprar um combo completo, cheio de alimentos calóricos, do que optar por um hambúrguer com algum suco. Enquanto houver esse consumo desenfreado de alimentos de pouca qualidade, infelizmente, a tendência é que os números continuem aumentando”, ressalta a nutricionista.

Priscila faz parte dessa estatística, já que opta pelas comidas mais baratas. “Acabo pedindo muita comida pronta pelo iFood, porque ali pago pelo cartão de crédito e não preciso desembolsar na hora o dinheiro, mas no próximo mês é que complica”, afirma.

Outro aspecto a ser analisado no constante crescimento do problema são as questões psicológicas. “A ansiedade é uma das grandes causas da obesidade. A pessoa ansiosa faz da comida uma válvula de escape, ingerindo alimentos sem limite. Quando uma pessoa está triste, por exemplo, ela não come. Quando está ansiosa, come o dobro. Em outros casos, a obesidade também está associada a questões como genética, o ambiente em que está inserida e a prática reduzida ou nula de exercícios físicos”, aponta a nutricionista.

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