Metade dos brasileiros pode desenvolver intolerância à lactose

Oito tipos de alimentos são considerados mais alérgicos; produtos veganos podem ser uma alternativa

Lohana Souza
Redação Beta
5 min readJun 20, 2023

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O leite lidera o ranking de alergias nas crianças (Foto: banco de imagem Freepik)

O pequeno João Soares, de apenas 8 anos, filho de Ederson Soares, tem uma rotina completamente diferente dos seus amiguinhos — nas festas de aniversário, por exemplo, não pode comer nenhuma guloseima ou alimento com traços de lactose, devido à intolerância que foi desenvolvendo ao longo de sua introdução alimentar. “É triste, mas, nas festas, precisamos ficar atentos à alimentação e muitas vezes dizer ‘não’. O João não pode comer o bolo normal, então ele só vê os amigos comendo”, desabafa. “No início, foi complicado. Agora, estamos mais adaptados à rotina. Temos uma lista com o que pode e o que não pode, na hora do supermercado sempre ficamos atentos aos rótulos das embalagens”, relata.

Essa rotina poderá ser a realidade de metade dos brasileiros, pois de acordo com têm predisposição genética a desenvolver intolerância à lactose, de acordo com o estudo do laboratório Genera, a intolerância é resultado da incapacidade que o corpo tem de digerir a lactose — um tipo de açúcar encontrado no leite e em outros produtos lácteos — que pode ser congênita, primária ou secundária, se manifestando em qualquer momento da vida do indivíduo. Mas adotar uma alimentação saudável não precisa significar abrir mão das receitas preferidas — as alternativas incluem, inclusive, os doces veganos.

Segundo um estudo da Associação Brasileira de Imunologia, os produtos responsáveis pelas principais alergias alimentares são: leite, trigo, ovo, peixe, frutos do mar, castanha, amendoim e frutas secas. Qualquer alimento pode ser alérgico; no entanto, de acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde existem oito alimentos que, juntos, são responsáveis por 90% de todas as reações alérgicas alimentares no mundo — este grupo é conhecido como big oito.

Há também quem desenvolva a intolerância mas, com o tempo, consegue reverter a condição — é o caso de Sophia Vargas, de 7 anos. A mãe Elizandra Vargas conta que a menina tinha alergia a ovo quando era menor, mas hoje a história já é bem diferente. “Percebemos logo de início, na introdução alimentar, que não poderíamos colocar ovo na alimentação. Precisamos levá-la ao hospital com dois anos e meio, mas os anos foram passando e a intolerância diminuiu a ponto de não existir mais. Hoje, ela pode comer tranquilamente, o que me deixa muito feliz”, destaca.

Alimentação equilibrada

Como uma alternativa às intolerâncias e mesmo e às dietas convencionais em geral, a Mai Cake surgiu a partir da adaptação das donas, Maíra Azevedo e Evelyn Chalmers, que se tornaram veganas. As empreendedoras começaram a produzir doces livres de derivados animais e vender os produtos no escritório de contabilidade onde trabalham, como segunda renda. Além disso, o interesse de Evelyn pelas receitas veganas ocorreu também em função de sua intolerância ao glúten.

Mai cake produz doces veganos desde a pandemia e realiza as vendas online. (Foto: reprodução Instagram Mai Cake e Lucas Alves / Beta Redação).

“Criamos o empreendimento também para quebrar tabus, mostrar que doces veganos são saborosos — basta experimentar. Nossa empresa funciona de maneira online. Além disso, participamos de feiras, nas quais estamos cada vez mais presentes e atuantes, incluindo a Feira Vegana de Porto Alegre. Nosso objetivo é, futuramente, conseguir viver só com a renda da Mai Cake, levando doces saborosos e nutritivos à população”, conta Maíra.

Mai Cake foi criada durante a pandemia pelas amigas Maíra e Evelyn (Foto: Reprodução Instagram Mai Cake)

A nutricionista Jéssica Stein, 35 anos, é vegetariana desde 2008. Ela trabalha com alimentação vegana há 13 anos e fala sobre a importância do acompanhamento nutricional. A profissional conta que, apesar do tabu acerca da necessidade de complementar a alimentação, isso não necessariamente é preciso, já que varia de acordo com cada pessoa.

“Quem adere ao vegetarianismo e ao veganismo tem por opção a retirada de alimentos, mas isso não quer dizer que a alimentação seja restritiva. Pelo contrário, o cardápio até pode ser mais variado pela preocupação em comer melhor para não faltar nutrientes”, elucida.

“No caso dos vegetarianos, que consomem lácteos e têm intolerância à lactose, o tratamento é o uso de enzima lactase ou a retirada parcial ou total dos alimentos com lactose. Sem o uso da enzima lactase ou a exclusão dos lácteos, os sintomas podem ser de desconforto abdominal, gases, diarreia ou prisão de ventre, além de enjoo e dores de cabeça”, enumera.

Jéssica Stein atua como nutricionista especializada em alimentação vegana há 13 anos (Foto: Arquivo Pessoal/Jéssica Stein)

Segundo a nutricionista, não é mais necessário abrir mão de um docinho — é possível manter a saciedade dentro da alimentação escolhida. “A gama de receitas para intolerantes e veganos tem sido muito estudada por chefs de cozinha e grandes indústrias”, garante.

“É possível reproduzir a maioria dos alimentos sem lácteos, já que o leite pode ser facilmente substituído por bebidas vegetais variadas. Esses produtos são conhecidos como ‘sem lactose’. A maioria dos produtos que não contêm leite e ovos na composição podem ser feitos à base de castanhas, amêndoas, soja, feijões e até aipim e batata”, aponta Jéssica.

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