Moradores da região metropolitana buscam alternativas para doar sangue

Governo do Estado encerrou ações da unidade móvel do Hemocentro nos municípios da Grande Porto Alegre

Gabriel Reis
Redação Beta
4 min readJun 8, 2022

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Por Isaías Rheinheimer e Gabriel Reis

Hemocentro não realiza mais coletas externas nos municípios da região metropolitana há três anos. (Foto: Priscila da Silva/SES-RS)

Moradores de Estância Velha e municípios do Vale do Sinos enfrentam impasse para doar sangue, pois não conseguem ir até os locais de coleta. A realidade poderia ser outra caso a Secretaria Estadual de Saúde não tivesse interrompido, em 2019, as coletas externas realizadas com o apoio da unidade móvel na região metropolitana. De acordo com a coordenadora do setor de captação de doações, a assistente social Gesiane Ferreira Almansa, cada ação externa do ônibus rendia, em média, 100 bolsas de sangue.

Há um ano e meio a publicitária Letícia Escher Bauer precisou interromper uma rotina de uma década de doação de sangue no Hemocentro do Estado (Hemorgs), quando trocou a vida na Capital por Estância Velha, município do Vale do Sinos. Ela mudou de cidade após receber uma proposta de trabalho e, desde então, não conseguiu mais doar.

“Era algo que me fazia bem, daquelas coisas de consciência social. Desde a mudança, não consegui ir mais por questões logísticas. A distância é um entrave”, explica.

Estância Velha fica a 45 quilômetros de Porto Alegre. Letícia, que mora com a mãe, Maria Helena Escher, não tem carro e ir até o Hemocentro usando o transporte público lhe tomaria, no mínimo, seis horas do dia. “Poderia chamar um aplicativo, mas ida e volta não sairia por menos de 180 reais”, argumenta.

A decisão de interromper os serviços prestados pela unidade móvel passou, sobretudo, pela falta de investimentos, como em recursos humanos. O último concurso realizado para contratações no setor ocorreu em 2018. O tempo de deslocamento e a logística envolvida com o serviço também sustentaram a narrativa.

A interrupção do serviço gerou indignação de grupos ligados à causa. Foi o caso da Associação Sapucaiense de Apoio aos Doadores de Sangue (ASADS), que chegou a procurar o Ministério Público para reverter a situação, e segue se opondo a medida.

“O governo estadual passou a classificar como um gasto para o Estado colocar as equipes na rua, alegando que o momento exigia economia”, relembra a secretária da associação, Renata Vieira.

Coletas externas em outras regiões

Gesiane rechaça a ideia de que o Estado interrompeu o serviço. “Não estamos mais realizando na região metropolitana, mas nas cidades do interior, nas regiões de Pelotas, Alegrete, Caxias do Sul e Passo Fundo, onde o deslocamento entre as cidades é bem maior, a unidade móvel ainda está ativa e realiza coletas”. A assistente social conta, ainda, que a retomada das coletas externas na Grande Porto Alegre é discutida com frequência, embora afirme que, atualmente, não há nada efetivamente encaminhado.

Na região de Caxias do Sul (foto) e outras cidades do interior, Estado manteve ações de coleta com a unidade móvel. (Foto: Divulgação/Prefeitura de Caxias do Sul)

Hemocentro faz fretamento de grupos

Com o fim das coletas externas na região metropolitana, o Hemocentro passou a realizar o fretamento de grupos de cidades da região do Vale do Sinos até Porto Alegre com maior frequência. “É um serviço que já existia, mas que passou a ter notoriedade com o fim das externas”, argumenta Gesiane.

A coordenadora explica que para fazer uso deste recurso basta entrar em contato com o órgão e agendar. “Neste dia, trancamos a agenda e nosso ônibus vai até a cidade para buscar os doadores e depois os leva de volta, sem qualquer custo”, afirma.

Para solicitar o fretamento, os doadores devem ligar para a Hemorgs através do número (51) 3336–6755 ramal 102 ou enviar um WhatsApp para o número (51) 98405–4260.

Hemovida é opção para moradores dos vales do Sinos, Caí e Paranhana

Em meio a este cenário, os moradores dos vales do Sinos, Caí e Paranhana têm uma alternativa próxima, que é desconhecida por muitos. O Hemovida Sociedade Simples, localizado no Hospital Regina, em Novo Hamburgo, é um banco de sangue que viabiliza a doação para pessoas que não desejam, ou não conseguem, se deslocar até Porto Alegre.

“Como fui esquecer do Hemovida”, disse Letícia Escher Bauer, em voz alta, ao ser questionada porque não procurou o banco para doar sangue ao vir morar no Vale do Sinos. No dia seguinte, ao ser lembrada pela reportagem sobre a possibilidade de doar sangue em Novo Hamburgo, cidade vizinha a Estância Velha, onde mora, a publicitária fez questão de avisar. “Já liguei e agendei minha ida ao Hemovida no próximo sábado, dia 11 de junho”, comemora.

Letícia conclui dizendo que tentou doar sangue no último final de semana, dia 4 de junho, contudo a agenda do banco de sangue hamburguense já estava lotada.

Equipe do Hemovida de Novo Hamburgo atende mais de 11 hospitais SUS e privados. (Foto: Divulgação/Hemovida Banco de Sangue)

Quem pode doar

Jordana Vaz Peres Alves, biomédica do Hemovida, explica que podem doar sangue pessoas entre 16 e 69 anos, com mais de 50 kg, desde que estejam em boas condições de saúde e apresentem documento com foto. “O sangue coletado no Hemovida abastece os hospitais Regina, Centenário, Unimed, Sagrada Família, Hospital Municipal de Novo Hamburgo, Hospital Tacchini, entre outros”, afirma.

A profissional ressalta que menores de idade que queiram fazer a doação devem contar com o consentimento formal dos responsáveis e que, até o momento, não possuem estrutura para realizar coleta externa, pois se trata de uma empresa independente. “Realizamos campanhas através da nossa rede social, com algumas empresas, e captando doadores de repetição, através de e-mail e contato telefônico”, conclui.

Todas as doações são agendadas pelos telefones (51) 3581–5241 e (51) 3035–5388 e ocorrem de segunda-feira a sábado.

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Gabriel Reis
Redação Beta

Estudante de jornalismo da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e pesquisador no laboratório DigiLabour.