Morre o gênio, nasce a lenda

Homem-Aranha, Hulk, Thor e Homem de Ferro estão órfãos

Thiago Greco
Redação Beta
5 min readNov 16, 2018

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Excelsior — ao ler essa palavra, os fãs de quadrinhos certamente lembrarão de Stan Lee. O super-herói dos super-heróis morreu. Aos 95 anos, o maior escritor, diretor, produtor, editor e criador de HQs nos deixou. O motivo da morte ainda não foi divulgado. Segundo o site TMZ, na manhã de segunda-feira (12), uma ambulância foi chamada às pressas para sua residência, em Los Angeles, Estados Unidos. Ainda segundo o site, Lee foi levado ao Cedars-Sinai Medical Center, mas não resistiu.

Nascido em Nova Iorque em 28 de dezembro de 1922, Stanley Martin Lieber criou super-heróis como Homem-Aranha, Homem de Ferro, os X-Men, Hulk, Thor, Quarteto Fantástico, Demolidor, Pantera Negra, Viúva Negra, Homem-Formiga, Nick Fury, Mercúrio, Feiticeira Escarlate, Os Inumanos, Gavião Arqueiro, Doutor Estranho, entre outros personagens secundários de sucesso das histórias em quadrinhos (HQs). E foi assim que ele ajudou a tornar a Timely Comics, uma pequena editora nos anos 1940, na maior potência mundial do segmento nos anos 1960, a Marvel Comics.

O slogan “Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades” é conhecido por ser proferido por Ben Parker, tio de Peter Parker, nos gibis do Homem-Aranha. Excelsior. Mas poucos sabem a real história por trás dele e sua verdadeira origem. Lee serviu o exército americano na Segunda Guerra Mundial, na área da comunicação, escrevendo manuais. Quando voltou para editora, ainda Timely, criou o bordão inspirado no que vivenciou na guerra, já que os americanos tinham armamento nuclear, o que trazia uma grande responsabilidade aos responsáveis.

Para o educador físico e fã de quadrinhos David Jesus, 28 anos, “Stan Lee inspirou e fez desse nicho algo extremamente popular, e se tornou o nome mais lembrado quando se fala em HQs”. Grande parte das histórias que consideramos clichês foram inventadas por Stan Lee há mais de meio século. Excelsior. Como o adolescente renegado da High School americana que acaba conquistando a menina mais linda da escola e “derrotando” o galã. Peter Parker, o Homem-Aranha, sua principal criação — e sua preferida, pois todos o criticavam alegando que um garoto magrelo não tinha como fazer sucesso no mundo dos super-heróis — tem essa origem.

Em 1941, aos 19 anos, Lee foi nomeado editor interino, passando depois a editor-chefe. Permaneceu no cargo até 1972. Sua primeira publicação foi em maio de 1941: Captain America Foils Traitor’s Revenge. O Capitão América não foi sua criação, mas nessa ilustração Lee introduziu o escudo do personagem nos gibis. Nos anos 1950, a Marvel foi obrigada a passar por uma reformulação em suas publicações, já que a maior concorrente no segmento, a DC Comics, estava fazendo um sucesso estrondoso com a Liga da Justiça composta por Batman, Super-Homem, Flash e outros personagens da editora.

Foi então que Stan Lee nos fez acreditar que poderíamos nos pendurar de um prédio para o outro usando uma teia que saía de nossos pulsos, que poderíamos ser um Deus de Asgard, que poderíamos usar uma super armadura feita de nanotecnologia, que poderíamos ter garras feitas adamantium, que poderíamos voar, ser invisíveis, ter super força, entre outros centenas de superpoderes. Lee nos fez acreditar que seus personagens poderiam ser reais.

Pedro Kobielski, 25 anos, jornalista de histórias em quadrinhos, redator do portal Terra Zero e colaborador dos podcasts Comicpod e Canal Claquete, não poupa palavras para dizer o que o escritor representa para o mundo dos quadrinhos. “O mundo que nós conhecemos hoje não seria o mesmo sem Stan Lee. Repare que eu não falei ‘mundo dos quadrinhos’, ou ‘mundo da cultura pop’, mas sim apenas mundo. Esse é o tamanho de Stanley Martin Lieber, o pequeno judeu filho de imigrantes que mudou pra sempre o universo dos super-heróis”, afirma. Kobielski especifica como enxerga a contribuição de Lee à indústria dos quadrinhos:

“Muitos defendem que Lee superdimensionou a própria participação na criação de todos esses personagens. Grandes artistas foram tão importantes ou mais na criação de todos eles. Jack Kirby, Steve Ditko, John Romita. Todos morreram magoados com Stan e sem um terço de sua fortuna, apesar de serem igualmente geniais. Stan criou o modelo onde os artistas recebem créditos por suas criações, o que era uma inovação na época, mas um retorno financeiro totalmente diverso do valor que eles geram. Esse formato de relação profissional gera controvérsia até hoje. Mas foi dessa forma que a Marvel se tornou uma empresa milionária em menos de 10 anos, criando um verdadeiro império”.

As últimas participações de Lee no mundo geek foram em palestras sobre sua trajetória e no Universo Cinematográfico da Marvel, o UCM — que está completando 10 anos em 2018. Ele fez aparições pontuais em todos os filmes do universo desde 2008, 23 ao total. Os fãs estão torcendo para que suas cenas nos próximos lançamentos da Marvel Studios já tenham sido gravadas. A produtora lançará cinco filmes em 2019.

Bianca Narciso Corrêa, 20 anos, estudante e apreciadora dos super-heróis criados por Stan Lee, tenta prever como será o futuro da Marvel no cinema sem seu “pai”. “Não consigo imaginar (o UCM sem ele), até porque ele criou meus super-heróis favoritos. Mas será, com certeza, mais vazio e menos brilhante. É uma perda pra Marvel, sem dúvida. O ‘véio’ sabia o que fazia e fazia bem. Seu legado está marcado e entrelaçado com a vida da Marvel. É hora de lembrar toda história e levar adiante uma nova geração inspirada por tudo que Lee representa”, afirma.

Kobielski sintetiza a passagem de Stan Lee: “Os valores morais e éticos que Stan Lee incluiu em suas histórias são o seu maior testamento. Ele morreu, mas está mais vivo do que nunca. Pessoas vão e vêm, mas os heróis são eternos. Nada mais justo do que admitir que Stan Lee é, ele próprio, o super-herói mais poderoso de todos”. Nas HQs da Marvel, havia um personagem chamado The One Above All, um Deus supremo. Muitas teorias afirmavam que seria o próprio Stan Lee. Essa teoria foi reforçada com suas aparições em situações completamente diferentes no UCM. Agora, nunca saberemos. Mas preferimos acreditar que sim. Excelsior (em latim: melhor, superior, mais elevado).

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