Movimentos estudantis ocupam espaço representativo na política

Entidades são porta de entrada dos jovens nas discussões por melhorias no país

Leonardo Oberherr
Redação Beta
6 min readSep 23, 2021

--

Movimentos estudantis presentes nas manifestações contra a Ditadura Militar do Brasil. (Foto: Evandro Teixeira/Acervo Instituto Moreira Salles)

Os estudantes fizeram parte de diversos momentos históricos do país. Presente desde a década de 1940 na campanha “O petróleo é nosso”, a juventude esteve também no movimento “Diretas Já” e dos “Caras Pintadas”, nas décadas de 1980 e 1990. Sua participação política, porém, vai muito além das grandes manifestações. Seja através dos diretórios acadêmicos, dos grêmios estudantis ou de outras entidades menores, os estudantes sempre ocuparam um espaço de pluralidade e de debates sobre o andamento do país e do Rio Grande do Sul.

Criada em 11 de agosto de 1937, a União Nacional dos Estudantes (UNE) é uma das principais entidades do movimento estudantil brasileiro. Seja pela representatividade ou pela história, a UNE se tornou baluarte dos estudantes brasileiros. Atualmente ela é a responsável pela luta de diversas pautas, e uma das mais recentes vitórias foi a aprovação do Plano Nacional da Educação, em 2014, que estima a garantia de que 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil seja destinado à educação.

O movimento estudantil, entretanto, surgiu muito antes da UNE. Segundo Artur José Poerner em seu livro O Poder Jovem, “a primeira manifestação estudantil registrada pela história brasileira ocorre ainda no período colonial, em setembro de 1710, quando da invasão que mais de mil soldados franceses, sob o comando de Jean François Duclerc, empreendem no Rio de Janeiro”. Mais tarde, em 1901, houve a criação da Federação dos Estudantes Brasileiros, entidade que durou pouco tempo. Já em 1902 foi fundado o primeiro grêmio estudantil do país, em São Paulo, sendo que em 1910, na cidade de São Paulo, foi realizado o I Congresso Nacional dos Estudantes.

Estudante perseguido por policiais cai na Cinelândia. (Foto: Evandro Teixeira/Acervo Instituto Moreira Salles)

A União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), outra entidade com enorme representatividade no Brasil, foi criada em 1948, durante o I Congresso Nacional dos Estudantes Secundaristas. Primeiro com o nome de União Nacional dos Estudantes Secundaristas, mudando, entretanto, para União Brasileira dos Estudantes Secundaristas no ano seguinte, durante o segundo Congresso. A grosso modo, podemos dizer que a UBES representa os estudantes de ensino médio, enquanto a UNE é a entidade que engloba todos os níveis educacionais.

O Rio Grande do Sul como palco histórico e abrigo para a UNE

O Rio Grande do Sul sempre se mostrou imponente na política brasileira. Antes do Golpe Militar de 1964, em meio às turbulentas discussões sobre a posse do presidente João Goulart, a União Nacional dos Estudantes participava ativamente da Campanha da Legalidade. Liderado pelo governador gaúcho Leonel Brizola, o movimento reuniu estudantes, trabalhadores, intelectuais e contou até mesmo com a adesão dos grandes times de futebol de Porto Alegre, Grêmio e Internacional.

Considerando a atuação de Brizola nas ações, a União Nacional dos Estudantes se transferiu para o Rio Grande do Sul, em parceria com a UEE-RS (União Estadual dos Estudantes do Rio Grande do Sul), para ajudar na construção do movimento. Segundo Taiza Lira Ferrari, no projeto Revendo a História do Movimento Estudantil Brasileiro (2013), a UNE participou da Legalidade “convocando manifestações, montando uma ‘imprensa clandestina’”. Conforme a professora, “ouvindo a rádio do Brizola, de posse de um mimeógrafo, [os estudantes] passaram a imprimir as notícias em forma de panfletagem e distribuída nos bairros”.

Fórum gaúcho busca integralização de gestores municipais

Cerimônia de posse da Diretoria da Forjuve/RS. (Foto: Gui Cunha/Forjuve)

O Fórum da Juventude do Rio Grande do Sul (Forjuve/RS) é o Fórum de Gestores e Gestoras Municipais de Juventude do Rio Grande do Sul e que representa estudantes de todos os municípios gaúchos. O Forjuve/RS é uma instância que busca promover de maneira uniforme o incentivo às políticas públicas de juventude em nível municipal, ao mesmo tempo em que tem seus projetos próprios. Ele busca, também, realizar a interação intermunicipal, contando com a troca de experiências e a aproximação com a diretoria estadual.

Segundo a vice-presidente do Forjuve/RS, Amanda Eberhardt, “aos poucos o Fórum foi agregando municípios de todo o estado, e hoje são praticamente todos os que têm representação dentro da entidade, tornando-se mais abrangente e, consequentemente, necessário como elo entre diferentes propostas e experiências”.

Amanda Eberhardt esteve à frente do Departamento de Juventude de São Leopoldo por mais de dois anos. (Foto: Arquivo pessoal/Amanda Eberhart)

Diante das dificuldades impostas pela pandemia da Sars-Cov-2 — vírus causador da Covid-19 — o fórum teve que buscar maneiras de se reinventar. De acordo com Amanda, o trabalho tem sido de forma on-line, fomentando os cuidados previstos com a saúde, mas sem esquecer de dialogar com a comunidade e promover diversos debates nas redes sociais.

“Ver jovens alcançando espaços de liderança, principalmente em suas comunidades, é muito satisfatório. Saber que vão longe com seus projetos, com brilho nos olhos e vontade de mudar o mundo, é o que nos faz acreditar que podemos, sim, ter esperança no futuro”, comenta a vice-presidente do Forjuve/RS.

O futuro dos movimentos depende de novos integrantes

Para Amanda Eberhardt, a juventude está cada vez mais desacreditada na política e em seus representantes. Isso tem um efeito claro nos movimentos estudantis em geral: a baixa adesão. “É necessário todo um processo para que a juventude entenda que política não é algo partidário, mas sim o cotidiano, e a única forma de mudar as coisas é inteirando-se disso. O buraco da rua, a fila do posto de saúde, a precarização da escola: isso é política. Essa recapitulação da importância dos jovens à frente de suas lutas pertinentes é um ponto desafiador, mas muito satisfatório quando alcançado.”

Ismael Boeira, pedagogo, era integrante também do DCE da Universidade Feevale. (Foto: Arquivo Pessoal/Ismael Boeira)

Esse desafio foi vivido também por Ismael Boeira, ex-presidente da União dos Estudantes de Sapiranga e ex-diretor da União Gaúcha de Estudantes Secundaristas. Hoje pedagogo, ele conta que o período em que esteve à frente dos movimentos trouxe diversas experiências para sua vida, e que isso é um ponto a ser levado em consideração quando ingressar numa entidade estudantil: ela serve, também, para aprimoramento pessoal.

Do ponto de vista social, Ismael comenta sobre sua participação e a importância das entidades pela luta de políticas públicas em educação: “Sempre acreditei na educação como ferramenta de transformação social. Percebi no movimento estudantil uma locomotiva de lutas em defesa dessa pauta. Fruto disso foram as conquistas das bolsas do ProUni, Fies e das políticas de permanência da juventude periférica na universidade, das quais eu fui beneficiário.”

Tanto Amanda quanto Ismael apontam que há necessidade de fomentar o ingresso da juventude em espaços de representação política. Amanda, graduanda em Direito, identifica dois desafios: “a abertura de espaço para o jovem e a vontade do próprio de tomar esse espaço como seu. Ultimamente, vejo este número diminuindo. Acredito que a juventude está desacreditada da política e com perspectivas bem ruins. Entendo que existem outras maneiras de expressão, mas as entidades políticas e sociais são as formas mais genuínas da juventude tomar espaços de poder que lhe dão voz e, sobretudo, escutar o que essa voz tem a dizer”.

Alunos secundaristas e professor de Sapiranga em manifestação contra o governo do Estado, em 2015. (Foto: Leonardo Oberherr/Arquivo pessoal)

Para Ismael, as redes sociais ajudaram muito nas mobilizações e organização de atos, lutas e pressão social contra as injustiças e projetos de lei que vão contra a educação. “O movimento estudantil tem sido o braço forte dos professores contra o desmonte da escola pública e a desvalorização da categoria”, completa.

Os movimentos estudantis presentes no Brasil se fortalecem através da participação de todos, por isso, é importante que a juventude possa buscar a ocupação destes espaços.

--

--

Leonardo Oberherr
Redação Beta

Estudante de jornalismo, amante de esportes e música. Inspirado por Leonardo Meneghetti, Galvão Bueno e PVC. #IDIDDAT