A luta de cada dia

Atleta gaúcho relata dificuldades e superações no muay thai

Joti Skieresinski
Redação Beta
5 min readApr 12, 2021

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Por Josi Skieresinski e Guilherme Machado

Muitas vezes quando iniciamos um novo projeto não nos damos conta de como essa decisão pode impactar nosso futuro. A história do atleta gaúcho Edson Neves Correa, 34 anos, tem tudo a ver com essas pequenas ações que desencadeiam resultados que vão além de nossas expectativas.

Edson em um de seus treinos. (Imagem: Arquivo pessoal/Edson Neves Correa)

O envolvimento de Edson com o muay thai iniciou com o desejo de ganhar qualidade de vida, disposição e condicionamento físico para os desafios do dia a dia. Sua história com o esporte iniciou em 2011, quando correu para pegar um ônibus e passou mal, resultado de três anos sem praticar exercícios físicos. “Entrei no ônibus e comecei a passar muito mal, uma senhora teve que ceder o banco para mim, uma situação muito ruim para um jovem de 23 anos”, relata o atleta, que naquele momento se viu obrigado a tomar uma atitude visando melhorar seu desempenho.

Primeiramente, encontrou no boxe chinês, uma luta de trocação que objetiva derrubar o adversário, uma atividade que o auxiliaria a alcançar melhor rendimento. Edson optou pela arte marcial por não gostar de praticar musculação, um dos treinos mais recomendados para quem quer emagrecer.

Envolvido com artes marciais, conseguiu emagrecer mais de 40 quilos, considerando que o peso é elemento definidor da categoria de inserção dos atletas nas lutas. Além desse objetivo pessoal, viu no esporte a possibilidade de exercer uma profissão. Em 2013, começou a praticar muay thai e jiu-jitsu e, três anos depois, já ministrava as primeiras aulas como instrutor. Nos seis primeiros meses, além de professor de artes marciais, o atleta também trabalhou como garçom à noite, treinando para as competições na parte da manhã e ministrando aulas à tarde no bairro Rubem Berta, na zona norte de Porto Alegre.

O atleta começou a participar de competições de boxe chinês apenas seis meses após o seu primeiro treino, em 2012. Na sua estreia foi derrotado no tatame, mas, atualmente, acumula o título de Campeão Estadual, Campeão Brasileiro e Pan-americano de Muay Thai, além de ter vencido, em duas ocasiões, o Campeonato Estadual de Boxe Chinês.

Pódio do Campeonato Brasileiro, disputado em 2019. (Imagem: Arquivo pessoal/Edson Neves Correa)

Apesar dos títulos acumulados na carreira, Edson não se considera um lutador profissional, pois todas as competições que participou não ofereciam premiações em dinheiro. Como atleta semiprofissional, enfrenta dificuldades para conseguir patrocinadores, o que inviabiliza sua participação em campeonatos devido aos altos custos de deslocamento, inscrição e hospedagem.

O muay thai ainda não é considerado um esporte olímpico, pois no momento está em fase experimental. Isso dificulta o recebimento de apoio através de leis de incentivo ao esporte. Contudo, a modalidade está sendo avaliada para a disputa dos Jogos Olímpicos de 2024.

Entre 2019 e 2020, o atleta se organizou financeiramente para participar do campeonato mundial de muay thai, na Tailândia. Para financiar a viagem, promoveu almoços beneficentes, rifas e aulões nos finais de semana, além de reduzir os gastos familiares e domésticos. A participação no mundial, segundo o atleta, custaria em torno de 10 mil reais, sendo que a metade desse valor seria utilizado apenas para custear os gastos com passagens aéreas.

O campeonato mundial dura, em média, 10 dias e essa seria a primeira oportunidade para Edson participar do evento. Contudo, seus plano de viajar à Tailândia foram adiados em função da pandemia da Covid19, que se intensificou em março, mês em que a competição seria disputada.

Com uma história de superação e realização profissional, Edson se sente orgulhoso ao revisitar sua trajetória no esporte. “Sinto que me tornei uma pessoa melhor em vários sentidos”, afirma. Casado há 12 anos, conta com o apoio da esposa, Susiana Garcia, e se tornou um exemplo para os filhos Rafael, de 15 anos, Raíssa, de 14 anos, e Giovanna, de 11.

Após 12 anos trabalhando como garçom, o lutador encontrou no esporte uma possibilidade para mudar de profissão. Hoje, tem seu próprio espaço para ministrar aulas, uma franquia da academia onde começou a treinar. Além do trabalho na academia, Edson dá aulas particulares e, com a pandemia, também ensina muay thai no ambiente online, focado no condicionamento físico, usando movimentos da luta para os treinos em casa.

Nas aulas na academia são permitidos apenas dois alunos por horário e os socos e chutes são destinados exclusivamente aos sacos de areia, pois ainda é muito arriscado o contato físico.

Edson treina muay thai com seus alunos ao ar livre. (Imagem: Arquivo pessoal/Edson Neves Correa)

Edson é filiado à Federação Gaúcha de Muay Thai e, também, à Confederação Brasileira de Muay Thai. Por essas instituições ele é habilitado a competir e a ministrar aulas. Atualmente, o atleta gaúcho pertence à graduação azul escuro, classificado como Instrutor, a sexta colocação de oito na escala. O lutador também esclarece que não é necessário ser graduado em Educação Física para atuar como instrutor de muay thai e que o aprendizado e aperfeiçoamento das técnicas das lutas marciais é muito particular, exigindo treino e estudo para cada modalidade.

Tabela de grau e aperfeiçoamento dos atletas de MuayThai. (Imagem: Reprodução/ Site da Confederação de Muay Thai do Brasil)

Edson conta que uma de suas maiores referências no meio esportivo é o seu professor, André Duarte. “Foi com ele que comecei a treinar e treino até hoje”, relata. André foi responsável por descobrir o talento de Edson para as competições. Além de seu professor, o atleta foi influenciado pelos lutadores Anderson Silva e Fabrício Werdum, ambos atletas do UFC.

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Joti Skieresinski
Redação Beta

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