Muito mais que um melhor amigo
A presença de animais de estimação pode ser mais uma opção para o tratamento de doenças em hospitais públicos
O contato com animais traz efeitos positivos sobre as emoções do ser humano e pode ser usado inclusive de forma terapêutica, afirmam especialistas. Esta é uma das motivações para o Projeto de Lei 9787/2018, de autoria do deputado federal Vicente Paulo da Silva — o Vicentinho, do PT/SP — , que assegura o direito de pacientes internados em hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS) de requisitar a presença de seus animais de estimação durante os horários de visitação das unidades hospitalares.
De acordo com o PL, os pacientes poderão receber, mediante solicitação e autorização médica, a visita de seus pets, apenas nos horários permitidos e respeitando alguns requisitos como a vacinação em dia, atestado de sanidade e o transporte a partir de caixas adequadas. O deputado afirma que essa política já existe em vários lugares do mundo e trata-se de um ato de cidadania. “Há pesquisas que constatam que a presença dos animais de estimação tem um efeito muito positivo, até curativo em determinados casos”, complementa Vicentinho.
A psicóloga e diretora da clínica Pet Terapeuta, Karina Schutz, 41, explica que existem três tipos de intervenções assistidas por animais: terapia, atividades e educação. Realizadas em qualquer lugar e por qualquer pessoa, as atividades com animais são voltadas à descontração. A educação é realizada dentro da sala de aula e contribui para melhorar a aprendizagem dos alunos. Já a terapia deve ser feita por profissionais da área da saúde que usam o animal com uma finalidade terapêutica.
Opção de tratamento
No Rio Grande do Sul, alguns hospitais particulares já permitem a entrada de animais de estimação. Porém, essas visitas não podem ser consideradas como uma espécie de Terapia Assistida por Animais (TAA). Em compensação há espaços que trabalham especificamente com a zooterapia, como é o caso da clínica Pet Terapeuta.
Mas a psicóloga Karina Schutz explica que não é qualquer animal que pode ser usado no tratamento terapêutico. “Não precisa ser um animal adestrado, mas, sim, dessensibilizado e que tenha tendência a se adaptar ao que será trabalhado”, diz.
A Associação Gaúcha de Atividade e Terapia com Animais (AGATA), é uma ONG que atua em Porto Alegre, atendendo atualmente uma vez por mês na Casa do Menino Jesus de Praga. A terapeuta ocupacional e integrante da equipe AGATA, Denise Vares Seixas, 34, esclarece também que a zooterapia busca os benefícios da relação humano-animal, usando o bicho como uma espécie de instrumento de trabalho. “Qualquer profissional da área da saúde pode usar este tipo de tratamento. Porém, não temos como dizer quais doenças específicas podem ser tratadas, porque usamos dos benefícios que existem dessa relação para obter resultados”.
Denise salienta que não gosta da ideia de tratar o animal como se fosse um objeto, por isso os bichos que acompanham as terapias são chamados de cooterapeutas. Os animais podem ser utilizados de diversas maneiras, por exemplo: um dentista pode optar pela companhia de um pet para acalmar uma criança; uma psicóloga pode recorrer a um animal para que o paciente tenha mais facilidade em falar sobre a vida. Já nas escolas, a Terapia Assistida por Animais pode ajudar crianças tímidas, que não conseguem ler em voz para colegas, a lerem para o bichinho.
“A relação humano-animal gera vários hormônios anti-stress e a partir disso se conduz o tratamento. O cão é um facilitador da terapia e das intervenções que o terapeuta precisa fazer, pois às vezes é um caminho para conseguir fazer alguma atividade com o paciente”, salienta Denise.
A psicóloga Karina ainda comenta que não são apenas cães que podem ser utilizados no tratamento, outros animais também são usados muitas vezes. Ela destaca que essa terapia apenas não é recomendada para pessoas que sejam diagnosticadas com alergias ou outras doenças que podem se agravar a partir do contato com pelos e ácaros provenientes dos bichos. Assim como pessoas que tenham transplante, pois costumam ter a imunidade baixa. “Tratar pessoas na presença de aves também requer cuidado, pois os pássaros liberam um pozinho de suas penas que podem causar certo agravantes para pessoas que tem traqueostomia”, esclarece.
Uma relação de anos
A doutora em Antropologia pela URFGS e pesquisadora de pós-doutorado na área de Saúde Coletiva, Ivana Teixeira, 39, conta que a relação humano-animal é social e acontece quando ambos interagem para uma troca de influências e ações. Nos tratamentos com Terapia Assistida por Animais, o animal ainda ativa algo terapêutico no ser humano, proporcionando efeitos fisiológicos e emocionais, como a produção e liberação de oxitocina no sangue que deixa a pessoa mais feliz.
“Existem exames comprovando que essa relação humano-animal baixa os níveis do hormônio do estresse. E esse tipo de terapia aparece também porque a medicina biomédica não dá conta de tudo. O remédio consumido via oral, por exemplo, não é a única forma de tratamento que o homem necessita para controlar os seus processos biológicos e psicológicos de adoecimento”.