Mulheres encontram independência no empreendedorismo

A inserção da mulher na atividade empreendedora vem crescendo ao longo dos anos, conforme os dados da Global Entrepreneurship Monitor (GEM)

Elias Vargas
Redação Beta
4 min readOct 13, 2021

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Conforme o IBGE, as mulheres dedicaram quase o dobro de tempo de trabalho do que os homens: 21,4 horas contra 11 horas semanais. (Foto: Freepik)

Um estudo realizado pela Global Entrepreneurship Monitor (GEM) em 2019 mostra que, para cada dez homens empreendendo em estágio inicial, existem outras dez mulheres exercendo, também, alguma atividade empreendedora. No entanto, apesar da relação ser equivalente, as mulheres empresárias enfrentam inúmeras dificuldades.

A ex-atendente de loja, Verônica Webber Baldessar de Freitas, é uma delas. Enquanto trabalhava em uma loja geek vendendo produtos colecionáveis, camisetas e presentes, precisou lidar com uma situação desconfortável. “Me ofereceram um cargo acima da minha função, porém sem aumento de salário. Quando recebi a notícia, achei que fosse uma piada”, relata.

Verônica trabalhou no local durante dois anos. Como morava sozinha, precisava do emprego para pagar as contas. “Eu trabalhava de gerente da loja e recebia como uma atendente, isso me desmotivou a ficar lá. Não tinha valorização nenhuma”, conta.

Verônica fazendo cosplay de Gamora no evento POA Geek Week em março de 2020. (Foto: Arquivo Pessoal)

O jogo virou quando ela decidiu trabalhar com o que mais gosta: quadrinhos e o mundo pop. Verônica, então, começou a trabalhar como cosplayer e social media através do TikTok e do Instagram. “Hoje eu tenho tempo para fazer o que eu gosto e trabalho feliz. Já faz um ano que me mantenho assim e a cada dia me sinto melhor com a minha escolha”, diz.

Ainda conforme o estudo da Global Entrepreneurship Monitor (GEM), no Brasil, para cada 13 empreendedores homens existem 10 empreendedoras com negócios estabelecidos.

Susane Domingues de Moraes e Danielle de Farias Rodrigues são sócias proprietárias da empresa MDS Móveis e Demolição, localizada em Porto Alegre. Funcionando há três anos, elas montaram o negócio próprio em busca de independência financeira. “Sempre trabalhei em funções que homens trabalhavam e ganhava a mesma coisa. Já a Dani trabalhava por comissão… Mas sempre tivemos o desejo de ser donas do nosso negócio”, conta Susane.

Susane e Danielle, administrativo e produção, respectivamente, são proprietárias no ramo de móveis. (Foto: Arquivo Pessoal)

Trabalhando na reforma de móveis, elas se divertem ao contar a maneira dos clientes de contatarem elas. “Me chamam de ‘senhor’ pelo WhatsApp, mas quando nos apresentamos, eles levam um susto”, relata Dani. Susane acrescenta: “Isso acontece pela função que nós exercemos, infelizmente alguns não vêem capacidade em uma mulher”, explica.

Eunice Vargas Motta é formada em engenharia civil desde 1994 e possui a própria empresa há 27 anos. “Quando me formei não tinha muitas empresas que prestavam serviços, e a maioria eram homens que tinham seu próprio negócio”, relata.

Prédio comercial localizado em Alvorada construído em 1999, pela Motta Engenharia. (Foto: Arquivo Pessoal/Facebook)

Com o passar do tempo, Eunice viu sua empresa se consolidar. “Já fiz vários projetos, e nenhum pagou menos por ser mulher. Quando se tem o próprio negócio, isso é uma vantagem. O valor de um orçamento é o mesmo de um homem e de uma mulher. Caso a pessoa não queira, busco outro cliente”, afirma.

Edifício Residencial Guarani, Alvorada/RS, construído por Motta Engenharia. (Foto: Arquivo Pessoa/Facebook)

Com uma equipe escolhida a dedo, a engenheira relata que não sofreu nenhum tipo de constrangimento por ser mulher. “Não tem desrespeito durante o trabalho. Sou a responsável da obra e aberta a diálogos. É preciso que cada um conheça a sua função e o seu limite”, finaliza.

Apesar de ainda ser a minoria no ramo empreendedor, o 5° objetivo de desenvolvimento sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU) é alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas para 2030.

Trabalho em tempo integral

Conforme o IBGE, no Brasil em 2019, as mulheres se dedicam aos cuidados de pessoas ou afazeres domésticos quase o dobro do tempo do que os homens: são 21,4 contra 11 horas semanais.

Além disso, em muitos casos, as mulheres aceitam trabalhar com carga horária reduzida. Cerca de um terço das mulheres do país estava ocupada em tempo parcial, ou seja, até 30 horas semanais de trabalho, quase o dobro verificado para os homens (15,6%).

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