Mulheres unidas pelo ciclismo

Grupos femininos incentivam a prática do esporte e promovem empoderamento por meio da bicicleta

Amanda Bier
Redação Beta
15 min readNov 22, 2021

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Desde 2017, o grupo Gurias do Pedal, de Santa Rosa, pratica bike terapia e encoraja mulheres a adotarem a bicicleta. (Foto: Gurias do Pedal/Instagram)

Diariamente, mulheres no mundo todo enfrentam obstáculos pelo simples fato de serem mulheres. No esporte, não é diferente. A insegurança, o medo, o machismo, a falta de incentivo e o preconceito são fatores que prejudicam a participação feminina. Porém, mesmo nesse cenário de desigualdade, ainda surgem grupos que visam incentivar e encorajar mulheres a não desistirem da prática esportiva.

Esse é o caso do “Gurias do Pedal”, de Santa Rosa, um grupo exclusivamente feminino. Juntas, elas andam de bicicleta com muita empatia, sororidade e companheirismo, sempre apoiando umas às outras. Atualmente, o grupo é formado por 46 mulheres que praticam um pedal terapêutico, sem pressa e sem competitividade. Além disso, os pedais proporcionam momentos de conversas, trocas de experiências e, claro, risadas e diversão.

Juntas, elas desbravam o interior de Santa Rosa e de municípios vizinhos. (Foto: Gurias do Pedal/Instagram)

Tudo começou no dia 5 de janeiro de 2017, quando duas integrantes de um grupo misto de pedal, Carleise Strejevitch e Kelly Fonseca, observaram que sempre acabavam ficando para trás. Diante disso, as ciclistas tiveram a ideia de criar um grupo feminino independente. Uma semana depois, no dia 12, Carleise e Kelly se encontraram com algumas mulheres e o primeiro pedal aconteceu. Desde então, o grupo nunca mais parou e está sempre aberto a receber novas participantes.

Para Fernanda Ruwer, 39 anos, advogada e integrante do grupo desde abril de 2017, a ideia deu certo porque as mais experientes sempre esperam e incentivam as demais. “Quando comecei a pedalar eu era totalmente sedentária e me cansava rápido. Mesmo assim, o grupo foi junto comigo, me apoiando e isso fez com que eu continuasse. Como nós saímos e voltamos juntas, me senti muito acolhida e, mesmo quando eu andava muito devagar, nunca me faltaram convites. Agora, busco fazer isso com outras mulheres também”, salienta.

Fernanda na Cachoeira do Rio Santa Rosa. (Foto: Fernanda Ruwer/Arquivo Pessoal)

Hoje o grupo realiza, oficialmente, dois pedais semanais, com graus de dificuldade diferentes: nas quintas-feiras à noite acontecem os percursos mais leves, para iniciantes, que variam de 15 km a 25 km, dependendo do nível de pedal de cada ciclista presente no dia. Já nos sábados de manhã, ou, às vezes, também durante a tarde, acontecem os trajetos mais longos, geralmente de 120 km, tanto em estradas de chão quanto no asfalto, pelo interior de Santa Rosa e municípios vizinhos.

“Nos pedais noturnos de quinta andamos em vários lugares, mas se tiver alguém inexperiente no grupo nós pedalamos dentro da cidade ou, então, na comunidade Bela União, que é um percurso bem leve, o acostamento é bom e não tem tanta subida. Sempre respeitamos quem está conosco. Uma vez recebemos uma senhora que pedalava muito devagar, então, se a pessoa quer, a gente ensina e vai com calma. Não nos importamos de esperar”, explica Fernanda, frisando que, para participar, a única exigência é o uso do capacete e das luzes de sinalização dianteira e traseira.

Saída para o tradicional pedal noturno de quinta-feira. (Foto: Fernanda Ruwer/Arquivo Pessoal)

Às vezes, depois da pedalada, ainda vem a “hidratação”, como elas costumam chamar. Nesse momento, as gurias se reúnem em um bar para conversar e tomar uma cervejinha gelada. “Esse é um tempo que as mulheres tiram para si. Além do exercício, também achamos importante confraternizar. No grupo, todas as mulheres são muito fortes, independentes e contam com o apoio dos maridos, que ficam em casa cuidando das crianças enquanto a gente pedala. Até pouco tempo atrás, só víamos homens saindo, não só no ciclismo, mas homens saindo para jogar futebol, para curtir, então, agora, é a nossa vez”, ressalta Fernanda.

Já nos sábados, as “rosinhas”, como são conhecidas, se aventuram em trilhas e visitam muitas cachoeiras, cascatas e pontos turísticos de Santa Rosa e de cidades próximas como Tuparendi, Tucunduva, Horizontina, Cândido Godói, Três de Maio, Giruá, Porto Mauá e Santo Ângelo. Segundo Fernanda, andar de bicicleta por esses lugares é uma terapia.

“Hoje tenho muito mais força e flexibilidade, mas, pedalar com as gurias me faz tão bem que acho que o principal benefício é a saúde mental. A bicicleta, inclusive, é um estilo de vida que eu trouxe para dentro da minha família. Quando comecei a pedalar eu ainda amamentava e agora a minha filha Ana Teresa tem 5 anos e já pedala comigo. No mês de outubro ela fez pedais curtos que, ao todo, totalizaram 115 km. Hoje, a Ana também é uma Gurias do Pedal”, comenta orgulhosa.

Ana Teresa, de 5 anos, já é uma integrante do grupo Gurias do Pedal. (Foto: Fernanda Ruwer/Arquivo Pessoal)

De acordo com Fernanda, devido aos compromissos, nem sempre é possível reunir o time todo para as pedaladas. Por isso, além dos tradicionais encontros nas quintas e nos sábados, as ciclistas também costumam marcar pedais “extras” em outros dias da semana. Assim, como o grupo tem mulheres de 20 a 60 anos, desde estudantes até aposentadas, cada uma vai no dia e horário que pode. “Faz dois anos que me mudei para São Paulo das Missões e hoje não consigo mais estar presente em todos os pedais, mas sempre que posso estou com elas, porque pedalar sozinha eu até pedalo, mas em grupo é muito melhor. Me sinto muito bem”, conta.

No grupo, além da Fernanda, também há outros exemplos de mulheres que começaram a pedalar por incentivo do Gurias do Pedal e hoje estão muito felizes e de bem com a vida. Outras, que eram acometidas por depressão, por exemplo, estão vencendo a doença e, até mesmo, diminuindo o uso de medicamentos. Porém, a solidariedade não se restringe somente às participantes. Desde o primeiro ano, o grupo realiza e participa de ações sociais em datas importantes, como no Dia das Crianças e no Natal. Recentemente, no mês de outubro, também foi organizado o 5º Pedal do Outubro Rosa, com objetivo de reforçar a mensagem sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama.

“A gente costuma dizer que o pedal faz bem para o corpo e para a alma. Hoje, não me imagino mais sem”, diz Fernanda.

No 5º Pedal do Outubro Rosa de 2021, as ciclistas formam o símbolo da campanha para conscientizar mulheres sobre a importância do diagnóstico precoce do câncer de mama. (Foto: Fernanda Ruwer/Arquivo Pessoal)

Energia e disposição

Começar a trabalhar todos os dias às 2h da manhã e, depois, em algumas noites, ainda dar uma volta de bicicleta das 18h30 às 22h. Descrevendo dessa forma, ninguém imagina que essa é a rotina de uma mulher com 54 anos de idade. Ivanete Fatima da Silva, dona de uma pastelaria e integrante assídua do grupo Gurias do Pedal, chama a atenção por sua energia e disposição. “Eu não sinto canseira. Trabalho e depois vou pedalar. De vez em quando, algumas gurias bem novas, de 20 e poucos anos, ficam com sono e cansadas, e eu digo para elas: ‘meu deus, eu tenho quase 55 anos e não estou sentindo nada’”, conta Ivanete, com muito bom humor.

A ciclista Ivanete, de 54 anos, está no grupo desde o segundo pedal e dá exemplo de energia e disposição. (Foto: Ivanete Fatima da Silva/Arquivo Pessoal)

Mas nem sempre ela teve toda essa disposição. Antes de conhecer o grupo, Ivanete tinha o hábito de ficar em casa no sábado à tarde olhando televisão e não praticava exercícios. Porém, tudo mudou em 2017 ao ver uma foto das gurias pedalando em Tuparendi.

“No mesmo momento em que vi a postagem no Facebook, fui lá e perguntei como eu poderia participar. Então, elas me disseram que o próximo encontro seria numa quinta-feira e eu fui. Esse foi o segundo pedal do grupo e não parei mais até hoje. Desde aquela época, umas quantas gurias já desistiram e eu continuo, de tanto que gosto”, salienta.

Atualmente, além dos pedais noturnos de quinta, Ivanete também pedala aos sábados e em outros dias da semana, quando marcam. “A bicicleta é tudo para mim. Eu adoro. Quando chega sábado eu me arrumo, me maquio, pego a bike e saio. Às vezes, marcamos às 6h45 da manhã e pedalamos o dia inteiro, só retornamos de tarde. Levamos caixinha de som, vamos conversando, é uma terapia. Então, nas quintas e nos sábados é oficial, mas, nesse meio tempo, se uma das gurias tiver vontade de pedalar outro dia, elas combinam no grupo do WhatsApp e eu vou junto”, comenta.

Além de pedalar, as ciclistas do grupo Gurias do Pedal se divertem juntas. (Fotos: Ivanete Fatima da Silva/Arquivo Pessoal)

Depois de tantos anos envolvida com o grupo, hoje Ivanete também usa a própria moto durante a semana para descobrir diferentes cascatas e cachoeiras em Santa Rosa e nas cidades da região. Segundo a ciclista, como as gurias pedalam muito pelo interior, a ideia é estar sempre buscando novas trilhas para levá-las no sábado.

“Teve uma vez, no começo desse ano, que nós fomos até Independência e, na volta, decidimos vir pelo interior de Três de Maio a Giruá. Esse trajeto sempre foi muito bom, era de chão batido, já tinha passado de moto, mas, para a nossa surpresa, tinham colocado paralelepípedos na estrada e as pedras ainda estavam soltas. Então, toda essa volta deu 112 km e nós sofremos, foi muito difícil, mas faz parte. O importante é que não desistimos e seguimos pedalando”, destaca Ivanete.

A busca pelo girassol

Além da beleza dos lugares que as ciclistas do Gurias do Pedal já conheceram em cima de uma bicicleta, e que jamais irão esquecer, também há amizades e laços que o grupo uniu para sempre. Após Carleise Strejevitch, fundadora do grupo, falecer devido ao câncer de mama no dia 31 de outubro de 2019, com 38 anos, as rosinhas criaram o “Pedal do Girassol”, um evento realizado todos os anos para homenagear a amiga que tanto gostava da flor.

Carleise Strejevitch, fundadora do grupo, faleceu no dia 31 de outubro de 2019, com 38 anos, devido ao câncer de mama. (Foto: Gurias do Pedal/Facebook)

“A Carleise adorava girassol, tanto é que, em um dos últimos pedais dela, ela me disse que queria achar um, então nós andamos e encontramos um campo cheio dentro da cidade. Depois disso, o dia 31 de outubro ficou marcado. Nesta data, sempre nos reunimos para procurar girassóis e levar até o túmulo dela”, conta Ivanete.

No dia 1º de novembro de 2019, a página do Facebook do grupo Gurias do Pedal se manifestou, em luto, da seguinte maneira: “Após lutar com muita garra contra o câncer, partiu, na manhã de ontem, a fundadora do nosso grupo. Carleise, você partiu cedo, mas nos ensinou muito. Além do amor pelo ciclismo, nos mostrou o significado de amizade, companheirismo, humildade e a tua vontade de viver lutando até as últimas horas. Você foi uma guerreira! Continuaremos aqui mantendo esse grupo que tu tanto amava! Que Deus te receba de braços abertos e até qualquer dia! Te amaremos para sempre”.

Neste ano, o 2º Pedal do Girassol reuniu cerca de 15 gurias que foram, na manhã do dia 31 de outubro, a um campo cheio de girassóis para prestar homenagem à fundadora do grupo. “Desta vez, eu estava com dificuldade para encontrar os girassóis, então perguntei nos meus grupos do WhatsApp se alguém sabia onde tinha. Nisso, me informaram o local, peguei a minha moto e encontrei em Tuparendi. Assim, no dia 31, nos reunimos, pedalamos até o campo de girassóis e, depois, fomos ao cemitério levar a flor para a nossa querida e saudosa amiga Carleise”, relembra Ivanete.

O 2º Pedal do Girassol, em homenagem à Carleise, no dia 31 de outubro deste ano. (Fotos: Gurias do Pedal/Instagram)

Pedala, guria!

Fortes, corajosas e independentes, a mulherada do “Pedala Guria”, de São Leopoldo, também dá exemplo de parceria e união. O grupo, criado há três anos pela ciclista e decoradora Bere Loeck Cruz, tem por objetivo fazer com que mais mulheres pedalem pela cidade, ou por onde quiserem, juntas e sem medo. No início, quando o Pedala Guria surgiu, no dia 23 de maio de 2018, uma amiga foi chamando a outra e logo a novidade se espalhou. Hoje, o grupo de pedal no WhatsApp conta com 110 mulheres.

Pedala Guria, de São Leopoldo, é um grupo formado por mulheres ciclistas que estão sempre apoiando umas às outras. (Foto: Pedala Guria/Instagram)

“O Pedala Guria começou assim: meu marido foi viajar a trabalho e fiquei duas semanas sozinha em casa pensando o que eu ia fazer com aquela bicicleta que estava na garagem. Então, decidi criar o grupo e, como logo na primeira semana bombou, a gente já marcou um pedal e andou por São Leopoldo. Depois disso, começamos a pedalar em outros lugares e, hoje, geralmente, nos reunimos nas quartas-feiras à noite para ir até Esteio, Novo Hamburgo, Estância Velha ou Lomba Grande, mas todos os dias tem gente saindo. Pelo grupo do WhatsApp, as gurias estão sempre marcando pedais em outros dias da semana também”, conta Bere, 47 anos, fundadora do grupo.

A ciclista Bere é a fundadora do grupo Pedala Guria, de São Leopoldo. (Foto: Pedala Guria/Instagram)

Nas quartas-feiras, o grupo de gurias, que varia de acordo com os compromissos e horários de cada uma, percorre trajetos de 35 km a 40 km. Segundo Bere, no final da pedalada, o pelotão às vezes ainda se reúne para fazer um lanche, momento que elas chamam de “Pedal Gourmet”.

Já nos finais de semana, as gurias aproveitam para pedalar ainda mais, em percursos que podem chegar até 140 km. “Já fomos de bicicleta até o Santuário de Caravaggio, em Farroupilha, na Cascata Solitária, em Igrejinha, pedalamos em Nova Hartz, que tem muitas trilhas e subidas, também em Ivoti, Bom Princípio, entre outras cidades. A gente tá sempre se deslocando para tudo que é lugar”, salienta Bere, contando que, no ano que vem, a sua meta é ir de bicicleta até a cidade de Pelotas.

Segundo a fundadora do grupo, de vez em quando, além da mulherada, os namorados, maridos e amigos das esportistas também participam e acompanham as gurias nos seus passeios e desbravamentos por São Leopoldo e região. “Em certas ocasiões, ter uma companhia masculina para pedalar é importante porque algumas ruas e localidades são hostis para as mulheres. Então, para evitar assaltos, eventualmente alguns homens vão junto por questões de segurança”, aponta.

Em relação à organização, Bere ainda explica que quando surgem iniciantes querendo pedalar, as gurias se dividem em três subgrupos: na frente ficam as mais experientes, no meio as intermediárias e atrás quem ainda está aprendendo, porém a regra do grupo é sempre esperar as demais.

“A gente vai perguntando se a pessoa está bem, se consegue ir mais, e, aos poucos, ela vai pegando ritmo, pegando o jeito, e vai indo. Se for preciso, também descemos da bicicleta para ajudar a subir lombas. A ciclista iniciante é quem comanda. Se ela decidir voltar, todo mundo volta junto. Nos nossos pedais, ninguém fica para trás e eu ando sempre com a última pessoa, apoiando. Todas as gurias são acolhidas com muito amor e carinho no nosso grupo. Eu acho muito legal essa união”, diz Bere, explicando que se não houver iniciantes todo mundo pedala junto num ritmo só.

Ciclistas realizam pedalada até o Morro Ferrabraz, em Sapiranga. (Foto: Pedala Guria/Instagram)

Além das amizades feitas no pedal, o contato com a natureza, a troca de experiências e a superação dos limites são outros benefícios citados pela ciclista. Contudo, durante a sua trajetória, Bere também enfrentou algumas adversidades. Por um tempo, o grupo precisou dar uma pausa após a fundadora do grupo ser diagnosticada com depressão. Depois de receber a ajuda de médicos, tomar medicação e fazer tratamento, o Pedala Guria retornou e Bere começou a contar a sua história e ajudar outras mulheres que estavam passando pela mesma situação.

“Escuto muitas gurias dizendo que hoje não conseguem mais ficar sem o grupo. Teve até uma vez que um colega nosso nos chamou para contar que uma amiga dele estava com depressão e, ao invés de indicar um psiquiatra, indicou a gente. Às vezes, algumas pessoas também dizem não acreditar que tenho essa doença, porque saímos e nos divertimos muito. Hoje, já me considero praticamente curada, estou quase recebendo alta, mas isso graças a esses momentos de alegria e diversão que o grupo proporciona. A bicicleta me salvou”, destaca Bere.

Cumplicidade e união são características do grupo Pedala Guria. (Foto: Pedala Guria/Instagram)

Outra contribuição que o Pedala Guria realiza para as mulheres do grupo são os workshops que ensinam ações como trocar pneu e cuidar da bike. De acordo com Bere, ainda existe muito machismo e casos de homens abrindo o vidro do carro para debochar falando “e se furar esse pneu?”. Por isso, as oficinas foram criadas para deixar as gurias ainda mais independentes, fortes e habilidosas.

“Não precisamos dos homens. Nós sabemos fazer tudo. É triste que hoje ainda exista tanta discriminação, inclusive no próprio ciclismo. Tem homem que fala que não gosta de pedalar com mulher porque ‘mulher pedala muito devagar’, só que a gente não tá competindo com ninguém. O nosso objetivo é conhecer outros lugares, fazer amizades, melhorar nossa saúde e, principalmente, ajudar muitas gurias”, finaliza Bere.

Pedalar para superar

Um dos casos mais simbólicos do benefício que o grupo Pedala Guria proporciona às participantes é o de Luciene Flores Stein, 49 anos. Há três anos, após ser diagnosticada com câncer de mama que viraria sua vida do avesso, substituindo seus hábitos a uma assustadora rotina de tratamento, Luciene encontrou no ciclismo a grande força para sua recuperação.

Com 46 anos, após ser diagnosticada com câncer de mama, Luciene recomeçou a vida com ajuda da Bere e do pedal. (Foto: Luciene Flores Stein/Arquivo Pessoal)

“A primeira sensação que tive é que ia morrer na semana seguinte. Eu tenho três filhos, minha mãe estava doente e eu cuidava dela, então me deu um pavor. Na época, a Bere sempre insistia para eu ir caminhar com ela, mas foi só depois da minha cirurgia de mastectomia, depois de passar pelo câncer, que eu aceitei. Nisso, chegou a pandemia e todos os grupos de caminhada pararam, então a Bere me convidou para o Pedala Guria e eu fui. No grupo, descobri que existia vida após o diagnóstico de câncer. Ao ver as mulheres unidas, dispostas a fazer atividades físicas, se superando, respeitando seus limites, esperando a colega, parece que renasci. Foi o meu recomeço”, declara.

No início, como qualquer iniciante no pedal, Luciene conta que teve um pouco de dificuldade para acompanhar o grupo, porém Bere foi uma grande parceira. “Ela ficou comigo o tempo todo, perguntando se eu estava bem. Neste dia, fiz um trajeto bem curto e, mesmo assim, me senti a atleta do ano porque não pedalava nada. Hoje, já fiz 85 km e a meta é alcançar três dígitos até o final do ano. Isso tudo graças a Bere. Foi ela que insistiu, que me incentivou, que me levou para dentro desse grupo maravilhoso. Costumamos dizer que ela é a nossa musa inspiradora, pra correr, pra caminhar, pra pedalar, pra tudo. É sempre ela que puxa a gente”, conta.

Luciene e as amigas do grupo Pedala Guria. (Fotos: Luciene Flores Stein/Arquivo Pessoal)

O companheirismo do pelotão, as amizades que a bike traz e a satisfação em pedalar incentivando as colegas são, para Luciene, os maiores benefícios que o ciclismo em grupo pode oferecer. “O Pedala Guria só me fez bem, me trouxe muita alegria. Já estou com quase 50 anos, mas quando estou pedalando sinto como se tivesse 20. A atividade física que acompanha o esporte, também auxiliou na minha autoestima e na minha saúde. Hoje, sou apaixonada de uma maneira que não consigo ficar sem. Pedalo, no mínimo, uma vez por semana, às vezes duas ou três, dependendo da disponibilidade das gurias”, salienta Luciene, dizendo também que recebe muito apoio do marido.

Hoje, a ciclista é apaixonada pelo esporte e pedala, no mínimo, uma vez por semana. (Fotos: Luciene Flores Stein/Arquivo Pessoal)

Atualmente, mesmo curada do câncer de mama, Luciene segue fazendo o acompanhamento semestral. A ciclista e dona de casa diz que, desde a descoberta do diagnóstico, optou por viver um dia de cada vez. Além disso, para as mulheres que estão pensando em começar a pedalar, ela aconselha a não desistirem do sonho. “Nos primeiros 7 km que fiz sozinha eu fui pedalando e voltei caminhando, achei que não ia aguentar mais que isso. Hoje, já pedalo 80 km rindo. Então, o negócio é começar. Depois que a gente começa, a gente se apaixona e quer se superar cada dia mais”, ressalta.

Saiba como participar

Se você é mulher e ficou interessada em pedalar, se divertir e fazer novas amizades, a boa notícia é que é muito fácil começar. Em São Leopoldo, entre em contato pelo Instagram do grupo “Pedala Guria” ou fale com Bere através do número (51) 98237–3816. Para participar, o uso do capacete é obrigatório.

Já em Santa Rosa, para se tornar uma das “Gurias do Pedal”, envie uma mensagem pelo Instagram ou converse diretamente com Fernanda pelo telefone (55) 99979–7065. Os pedais iniciantes acontecem nas quintas-feiras, com saída às 19h15, do Parque Linear Tape Porã, em frente ao Stok Center. Os acessórios obrigatórios são o capacete e as luzes de sinalização dianteira e traseira. Em ambos os grupos, mulheres de todas as idades são bem-vindas.

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