Município de Parobé é berço de atletas de taekwondo de alto rendimento
Cidade é a única do Vale do Paranhana com atletas que se destacam na modalidade nacional e internacionalmente
O município de Parobé não sabe a jóia que têm. A maioria dos moradores da cidade, de aproximadamente 60 mil habitantes, não conhece a iniciativa Esquadrão Tigre. Um projeto que há quase 20 anos impacta, positivamente, através do taekwondo, história de vida de muitas crianças, adolescentes e adultos da cidade, localizada no Vale do Paranhana. A história do Esquadrão Tigre neste esporte apaixonante rende, até hoje, ótimos frutos.
Para melhor conhecer o espaço de treinamento do Esquadrão Tigre clique no vídeo abaixo.
O esporte, originário da Coréia do Sul, veio para o Brasil no início da década de 1970. A tradução do coreano ao português brasileiro da palavra “taekwondo” é: “O caminho dos pés e das mãos”. Sendo estes, os membros para dominar as técnicas no esporte.
No vídeo, abaixo, aspectos da história e memória do Esquadrão Tigre.
Como tudo começou
O Esquadrão Tigre nasceu em 2006 na cidade de Parobé. O início da academia não foi nada fácil. Conseguir recursos para financiar e fazer o grande sonho virar realidade, vieram de muito trabalho e suor.
A treinadora Terezinha Camargo, conhecida como Profe Tere, e seu esposo, Jair Dullius, decidiram montar um espaço para compartilhar seus conhecimentos do esporte sul-coreano logo após receberem a nomeação de Faixa Preta 2º DAN (graduação da faixa preta que vai até o 10ºDAN). Eles relataram as dificuldades e a força de vontade empregada para fazer o projeto sair do papel.
“Eu levantava as quatro da manhã para começar as cinco em uma fábrica de calçados. Saía de lá, comia algo, ajeitava um pouco a casa e corria para dar aulas de taekwondo à tarde e parte da noite na nossa academia. Saíamos de lá bem tarde. Dormíamos e, logo cedo, começava tudo de novo”, relembra Tere.
A prática do esporte auxilia os alunos a direcionarem a energia para o lugar certo. São ensinadas técnicas da arte marcial, como o auto controle, auto defesa, disciplina, respeito, cordialidade, atenção, entre outros. Tudo isso ancorado na filosofia da prática do esporte. Os atletas que treinam na equipe não devem se envolver em brigas e devem obter notas boas na escola. Ademais, o ensino de outro idioma é outro diferencial. Os comandos são todos em coreano, fazendo com que os alunos aprendam expressões e palavras durante as aulas.
“Foram muitas coisas oportunizadas pelo esporte. Momentos de lutas, mas muitos de vitórias e ótimas histórias pra contar. O amor que sinto pelo esporte não permitiu que eu desistisse”, afirmou a treinadora.
O primeiro contato
A academia oferece a todos da comunidade uma aula totalmente gratuita para conhecer o espaço e ter o primeiro contato com o esporte. Foi através dessa possibilidade que Vanessa trouxe seu filho para a aula teste. Pedro, de nove anos, é um garoto muito tímido. A mãe garante que a atividade está rendendo ótimos frutos para um amigo de Pedro, Murilo, de dez anos, que já frequenta o espaço há algum tempo.
“O esporte é muito importante, pois possibilita trabalhar o equilíbrio, a concentração e coordenação motora. É uma excelente alternativa para trabalhar o corpo e a mente desde cedo. Espero que o Pedro goste”, afirma Vanessa.
Foi assim que os filhos de Eliane Almeida se apaixonaram pelo esporte. Seu filho mais velho Katriel, hoje com 23 anos, começou a treinar no Esquadrão quando tinha apenas seis anos. De lá pra cá foram muitas conquistas, troféus, medalhas e várias viagens que o esporte possibilitou Brasil à fora.
“A participação e presença dos pais é fundamental. Eu sabia que era isso que o meu filho amava fazer. Investi financeiramente no sonho dele e o acompanhava pra tudo que era canto. Hoje, faço isso com a mana”, enfatizou Eliane.
A irmã de Katriel, Angeline Rasch, agora com 15 anos, também começou a treinar com apenas seis anos. A adolescente concentra os seus treinos para se preparar para o exame que possibilitará a ela subir de faixa vermelha para ser faixa preta em taekwondo em junho deste ano.
“A prática desse esporte me passa confiança, poder. Sinto que posso muito mais com ele”, ressalta a atleta Angeline.
Ela afirmou que a meta de todo o atleta é participar do Grand Slam (competição internacional de taekwondo, que une os lutadores com os melhores resultados em competições internacionais durante o ano). Quem consegue chegar lá tem muitas portas abertas. Ela mencionou as dificuldades, sobretudo financeiras, que os atletas enfrentam.
“Ser atleta profissional é muito difícil. Os meus planos pro futuro são alcançar o segundo DAN de faixa preta para poder dar aula do esporte com excelência. E, na faculdade, gostaria de fazer medicina e especialização em cirurgia pós lesão, trauma, ou algo voltado à saúde e otimização dos atletas”, diz Angeline.
“Deveria ser programa de governo e não de gestão”
A academia já foi utilizada em campanhas nacionais de conscientização contra as drogas. O professor Jair Dullius relembra que como o número de crianças e adolescentes era muito alto, o espaço de treino era aproveitado para dar orientação.
“Muitos alunos me diziam que a academia era a segunda casa. Um lugar que sabia que estava seguro, um lugar onde aprendiam coisas boas”, contou Jair.
Infelizmente, o espaço que ensina bem mais que técnicas marciais de auto defesa, não é assistido pelo poder público municipal há alguns anos.
No vídeo a seguir cenas de treinamento do Esquadrão Tigre.
“Tivemos atletas que só não foram mais longe por falta de dinheiro, incentivo, patrocínio”, lamenta Jair.
Há alguns anos, a academia contava com um projeto municipal de contra turno para crianças com uma situação socio-econômica mais baixa. Eram mais de 50 crianças que eram atendidas que não teriam condições de pagar a mensalidade. Com as várias trocas na gestão municipal em um curto período de tempo, o projeto acabou sendo desativado. Os treinadores tentaram contato várias vezes com a prefeitura para resolver a situação e não deixar tantas crianças desamparadas, mas não houve interesse da gestão municipal até o momento.
“Temos um capital humano muito forte. Aqui nós desenvolvemos o que há de melhor em cada um. Quem passa pelo Esquadrão Tigre leva os ensinamentos para a vida em todas as áreas. Moldamos os cidadãos que farão a diferença na sociedade. É incrível ver e participar de tudo isso!”, garante Jair.
A jóia do Esquadrão
A grande “tigresa” do Esquadrão, sem dúvida, é a professora faixa preta 2º DAN, Terezinha Camargo. E todos os filhotes por lá criados, tem um potencial de ataque e defesa surpreendentes.
A aluna Victória Zollett Rodrigues foi a primeira atleta à alcançar espaço e fazer parte da Seleção Brasileira no esporte, representando o Esquadrão Tigre de Parobé. A menina com apenas 14 anos teve a oportunidade de disputar o Mundial de taekwondo no Egito em 2016, pela Seleção Brasileira na categoria cadete.
“Ao ganhar o Grand Slam em primeiro lugar pude garantir a minha vaga para competir no Egito. Fui sozinha, acompanhada apenas de pessoas da Seleção. A viagem foi toda custeada pelos meus pais e patrocinadores. Mesmo assim foi a melhor viagem e competição da minha vida”, relembra Victória.
A seguir, em áudio, a atleta Victória Zollet relata a sua primeira viagem ao Egito.
A atleta Victória teve outras experiências em campeonatos internacionais. Ela relembra entre as competições que participou na América Latina, a do Chile, com atletas de até 17 anos, na qual conseguiu trazer o bronze para o Brasil.
No áudio abaixo Victória relata sobre a importância do esporte em sua vida.
Atualmente, a jovem que está com 20 anos de idade, ganhou Bolsa Atleta 100% para desenvolver estudo e projetos sobre o taekwondo, em Criciúma, em Santa Catarina. Lá ela dá aulas na Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC) através do Projeto de Iniciação Desportiva Escolar (PIDE) e ensina as técnicas do esporte para crianças e adolescentes.
Próxima competição e o atleta prodígio do Esquadrão
Nos dias 27 e 28 de maio deste ano, o atleta Willian Gabriel da Silva, que tem 15 anos e já é faixa vermelha, participará pelo Esquadrão Tigre, da segunda etapa da seletiva para tentar vaga na Seleção Brasileira e bolsas de incentivo no taekwondo.
“Minhas expectativas para o próximo campeonato estão bem altas. Tenho treinado bastante e quero trazer a medalha de ouro para casa!”, afirma o jovem atleta.
As últimas competições que participou foram em Nova Bassano-RS e no Grand Slam realizado no Rio de Janeiro. O garoto tem apresentado excelentes resultados. Mesmo competindo há apenas um ano, já é bronze brasileiro, ouro regional e ouro estadual. Ele é grato pelos ensinamentos que recebe dos treinadores do Esquadrão Tigre e destaca a importância do taekwondo em sua vida.
“O taekwondo é uma base para mim. Através dele muitas portas tem sido abertas. O Esquadrão, além de academia é uma grande famíia. O fato de serem filiados à FGTKD e a CBTKD nos possibilita o acesso à vagas nacionais e internacionais. Isso é maravilhoso”, garante Willian.
A seguir, o depoimento exclusivo do atleta Willian Gabriel da Silva para a Beta Esporte.
Histórias que renderiam um livro
O Esquadrão Tigre cumpre um papel social importantíssimo à comunidade. São milhares de alunos que tiveram a vida impactada através da iniciativa.
“Já passaram mais de duas mil pessoas por aqui nesses quase 20 anos. Não é brincadeira. É a história de vida de muita gente!”, conta alegremente o treinador Jair.
O Esquadrão é referência em toda a região. É a única academia de taekwondo, filiada à Federação Gaúcha, com tantos prêmios, atletas que são destaque, de toda a região do Vale do Paranhana.
Muitas pessoas param o casal na rua para abraçar e falar da importância que tiveram em suas vidas através de orientações e ensinamentos passados na academia.
“Recebemos muitos feedbacks positivos. Isso nos faz perceber que estamos no caminho certo!”, destaca a fundadora do Esquadrão, Terezinha Camargo.
A história do Esquadrão Tigre tem sido reinventada há décadas. E continuará rumo as novas conquistas.