“Não é função do Estado ter um banco”, diz pré-candidato do NOVO no RS

Ex-presidente do Banrisul, Mateus Bandeira acredita que o Estado é um mau gestor e aposta na privatização de estatais

Beta Redação
Redação Beta
6 min readMar 23, 2018

--

Por Carolina Zeni, Júlia Ramona Michel, Khael Santos, Milene Magnus e Vitor Brandão

“As estatais foram apropriadas por partidos”, afirma Bandeira. (Foto: Júlia Ramona/Beta Redação)

A sete meses das eleições, a Beta Redação retoma as entrevistas da série Futuro do Rio Grande e inicia o ano apresentando as ideias e as propostas de Mateus Bandeira, pré-candidato ao governo do Estado. Natural de Pelotas, o político, de 48 anos, foi lançado em novembro do ano passado pelo partido NOVO.

Graduado em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Bandeira ingressou aos 23 anos no setor público, na Secretaria da Fazenda, como auditor fiscal, em 1993. Passou os últimos sete anos entre São Paulo e demais regiões do Brasil, bem como em diversos países do exterior, em um processo de internacionalização da consultoria que presidia. Foi presidente do Banrisul e titular da Secretaria de Planejamento e Gestão durante o governo de Yeda Crusius (PSDB).

De volta ao Rio Grande do Sul e recentemente filiado ao NOVO, o pré-candidato aposta nos preceitos do partido para chegar ao Palácio Piratini. Para ele, ingressar no partido NOVO é a melhor expressão de todos os anseios da sociedade hoje em tentar renovar a política, construindo um partido alicerçado em valores, ideias e princípios.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista, que também pode ser assistida no vídeo abaixo.

Como se faz uma nova política?

Mateus Bandeira — Fazendo do discurso a prática. O NOVO é o único partido que não usa um centavo de dinheiro público. Ele acredita que partidos políticos são como organizações privadas. Como clubes de futebol, como organizações religiosas, que devem se sustentar com trabalho voluntário, com as contribuições de quem acredita nas suas ideias. Partido político é a mesma coisa. Muitos deles nos roubaram e respondem a denúncias por corrupção no STF e são sustentados por nós, brasileiros, com os nossos impostos. O NOVO não usa o fundo partidário nem tampouco vai usar o eleitoral.

Esse não uso do fundo partidário pode fortalecer partidos adversários, uma vez que não se pode devolver esse dinheiro aos cofres públicos?

Pode ser que sim. O NOVO resolveu não escolher o caminho mais fácil. Seria fácil dizer “somos contra o fundo partidário, mas vamos usar o fundo partidário”. Tem uma frase de Ralph Waldon Emerson que diz o seguinte: “Tuas atitudes falam tão alto que eu não consigo escutar o que tu dizes.” Então, não basta falar. Tem que fazer. O NOVO vai continuar defendendo o fim do fundo de campanha, o fim do fundo partidário, porque os partidos devem se organizar e se financiar voluntariamente com aqueles que contribuem para suas ideias.

O partido NOVO não faz coligações. Logo, se você fosse eleito, teria que governar sem base. Como você analisa essa situação?

Bandeira — Uma das principais razões pelas quais o governo estadual não consegue aprovar as reformas necessárias é justamente porque ele não representa com legitimidade o interesse da sociedade nessas reformas. Hoje, o Estado vive um modelo de Robin Hood às avessas, onde retira demais dos trabalhadores e devolve muito pouco, porque destina a maior parte desses recursos para atender privilégios de corporações e favores estatais. Se a gente romper com isso falando a verdade, nós teremos legitimidade para colocar reformas em debate no parlamento e construir a maioria na base da transparência.

Na sua experiência no governo Yeda, o que tira de positivo e o que não repetiria caso seja eleito?

Bandeira — Muitas coisas de positivo. Uma delas é de não se gastar mais do que se arrecada. Outra coisa é o conceito da transparência com o valor da austeridade fiscal e da firmeza de propósito. Talvez a gente devesse ter dedicado mais tempo no começo e ter trabalhado não só com a base na Assembleia (Legislativa), mas com a sociedade, para continuar tendo capacidade de honrar os compromissos assumidos no passado.

Acredita que a privatização é uma solução?

Bandeira — Privatizar deve ser feito por uma razão conceitual. É uma das iniciativas para reduzir o tamanho do Estado. Privatizar tem essa razão principal, inclusive, porque o Estado é um mau gestor. A Lava-Jato está aí pra provar isso. As companhias estatais, de certa forma, já são privadas, porque foram apropriadas por partidos políticos, corporações ou sindicatos. Então, privatizar tem uma série de outras justificativas que não a diminuição da dívida. Não é um fim em si mesmo, mas um meio pelo qual o Estado pode resgatar sua função essencial: cuidar da segurança pública e dar acesso à educação e à saúde para quem precisa.

Você foi presidente do Banrisul. O que acha das propostas de privatização e federalização da instituição?

Bandeira — Na época que assumi a presidência eu pensava que o banco, diferente das demais estatais, atuava num mercado extremamente competitivo e gerava lucro. Bom, no caso do Banrisul, considerar a questão da privatização era um caso a ser estudado com mais profundidade. O banco será sempre objeto dessa armadilha: disputa pelos partidos políticos ou por sindicatos, corporações de empregados. Não é função do Estado ter um banco. Então, a gente fica nessa eterna discussão de vale a pena ou não privatizar. E eu acho que sim.

Você acha que gerir uma empresa pode ser comparado a governar um Estado?

Bandeira — Deveria ser. É mais fácil gerir uma empresa porque ela tem dono. Ela pode, com um bom sistema de incentivos, remunerar melhor as pessoas, reconhecer o mérito daqueles que entregam melhor resultado, desligar aqueles que não entregam resultados e não estão alinhados com a cultura da companhia. No caso do poder público, para contratar, precisa ser por concurso público. Isso cria um sistema de incentivo difícil na administração pública. É por isso que eu defendo que o setor público se organize naquelas funções que são indispensáveis e indelegáveis e possa, não necessariamente, operar no caso da educação, da saúde, mas garantir o acesso a esses serviços, seja por meio da própria administração pública ou de terceiros.

Como você vê a possibilidade de derrota no primeiro turno e os caminhos no segundo?

Bandeira — O NOVO é o que mais cresce dentre todos os partidos brasileiros. A gente acredita muito na construção que a gente vem fazendo, tanto no nível nacional quanto nos outros cinco estados em que teremos candidatos a governador. No Rio Grande do Sul não trabalhamos com a hipótese de perder a eleição. Vamos mostrar que é possível fazer política de um modo diferente.

Sabe a situação financeira do Estado caso assuma o governo?

Bandeira — Eu posso dizer que eu conheço as finanças públicas. Tenho clareza das dificuldades e por isso me preocupa muito quando vejo outros pré-candidatos partindo para uma linha mais populista, dizendo que temos soluções fáceis para problemas difíceis. É preciso trabalhar com muita transparência com as contas públicas. Não é possível mais enganar as pessoas. Isso é prática da velha política. E isso eu não faço.

O NOVO veio pra ficar?

Bandeira: Veio pra ficar. Porque, como o partido não usa dinheiro público, fundo de campanha e fundo eleitoral, ele precisa prestar contas para os seus filiados, já que ele vive da contribuição dos seus afiliados, dos seus apoiadores. Se ele errar, vai perder o seu financiamento. O partido NOVO é o único que só aceita ficha limpa. Todos os demais têm os seus corruptos de estimação. Todos os outros partidos têm as suas lideranças denunciadas por corrupção e não fazem nada. Eles continuam lá. O NOVO não tem nada disso. Então o NOVO veio pra ficar.

Assista ao vídeo:

--

--

Beta Redação
Redação Beta

A Beta Redação integra diferentes atividades acadêmicas do curso de Jornalismo da Unisinos em laboratórios práticos, divididos em cinco editorias.