“Nós queremos mudar a política”, diz pré-candidata do PCdoB no RS
Abigail Pereira aposta na união das mulheres e acredita no potencial do Estado para voltar a crescer
Por Carolina Zeni, Júlia Ramona Michel, Khael Santos, Milene Magnus e Vitor Brandão
Em candidatura inédita para o governo do Estado, o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) traz a única mulher pré-candidata entre nove postulantes ao cargo. Abigail Pereira, 57 anos, a Biga — como é conhecida no meio político —, é a mais recente entrevistada pela Beta Redação na série Futuro do Rio Grande. Chefe de gabinete da liderança da bancada do partido na Assembleia Legislativa, ela apresenta suas propostas para chegar ao Piratini.
Natural de Caxias do Sul, Abigail está na vida política desde os 20 anos, quando iniciou sua trajetória no movimento estudantil. Formada em Pedagogia pela Universidade de Caxias do Sul, com pós-graduação em Psicopedagogia pela Universidade Castelo Branco, do Rio de Janeiro, a pré-candidata mora atualmente em Porto Alegre. Filiada ao PCdoB desde 1984, foi candidata a vereadora na sua cidade natal, em 2004, mas não se elegeu.
Em Caxias, também foi candidata a vice-prefeita na chapa de Pepe Vargas (PT), em 2008. Em 2010, Abigail se candidatou ao Senado pelo Estado. Recebeu mais de 1,5 milhões de votos, mas não conquistou o cargo. Ao lado de Tarso Genro (PT), depois de ser secretária estadual do Turismo em sua gestão, Abigail foi candidata a vice-governadora em 2014, sendo derrotada pela chapa de José Ivo Sartori (MDB).
Abigail anseia por fazer o Estado crescer. Portanto, para o governar o Piratini, traz diversas propostas, como a reforma tributária e o combate à sonegação fiscal. Além disso, acredita que a experiência política seja importante para chegar ao governo, bem como aposta na união das mulheres para mudar a política atual do Rio Grande do Sul e do país.
Confira, abaixo, os melhores momentos da entrevista:
De sua participação no governo Tarso, o que fica de experiência do que fazer e também do que não fazer em um possível mandato?
Abigail Pereira — A experiência do governo Tarso me fez ver melhor a nossa economia, que é quase que exclusivamente dependente do setor primário e, portanto, das commodities e das nossas dificuldades, porque nós exportamos in natura e não diversificamos a nossa cadeia produtiva. Então, como governadora, te asseguro: vou trabalhar para ampliar a nossa cadeia produtiva e apostar no desenvolvimento, na geração de receitas e de empregos no nosso Rio Grande do Sul. O que eu acho que foi um equívoco do nosso governo foi não divulgar efetivamente o que vínhamos fazendo.
E como você pretende trabalhar essa comunicação? Quais os canais que pretende utilizar?
Abigail — Vamos trabalhar com setores organizados da nossa sociedade, tendo um diálogo muito presente com todos aqueles que constroem o nosso Estado. E, também, um diálogo muito importante com a nossa imprensa, especialmente com a imprensa dos nossos municípios, que cumpre com um papel extremamente importante de informar e de conscientizar o nosso povo.
Nestas eleições, o seu partido optou por uma candidatura própria, e não pela tradicional Frente Popular, que é uma ligação muito forte e conhecida no Rio Grande do Sul. Por que esse movimento do PCdoB?
Abigail — Nós queremos apostar no desenvolvimento, na geração de empregos, no desenvolvimento calcado no setor produtivo e não no setor especulativo. É com essa perspectiva que nós estamos lançando a nossa pré-candidatura. Discutir com o nosso povo de que tem, sim, outra saída. Eu, como governadora, estarei junto ao governo federal brigando pelo nosso Estado para defender a possibilidade de termos aqui uma ampliação da nossa cadeia produtiva já instalada nos setores moveleiro, coureiro-calçadista, setor do vinho, setor metal-mecânico. Nós temos esse potencial e precisamos que o Estado seja indutor desse desenvolvimento.
Pela sua fala, podemos garantir que o PCdoB manterá a candidatura própria até a eleição ao governo do Estado?
Abigail — Eu penso que todas as candidaturas estão para ir até o final. A minha é para ir até o final, sim. Nós queremos a construção dessa frente em que ela possa ter como norte a defesa do nosso Estado e do nosso país. É um projeto nacional de desenvolvimento que Manuela D’Ávila (pré-candidata à Presidência pelo PCdoB) tem dito tanto em todo país e que nós também precisamos de um novo futuro para o nosso Estado.
Você comentou que o PCdoB tem 96 anos. Esta será a primeira vez que o partido lançará uma candidatura própria. A sigla está preparada para isso?
Abigail — É a terceira vez que nós lançamos pré-candidatos à Presidência da República. Aqui, no Rio Grande do Sul, é a primeira vez que nós lançamos ao governo do Estado. E para nós tem sido muito gratificante representar nossa opinião nesse grande debate.
Os discursos que os partidos de esquerda têm adotado pregam muito a união, mas a gente observa que eles estão cada vez mais buscando candidaturas próprias, e não uma grande coalizão. Como você enxerga esse fato?
Abigail — É um fato que está sendo ditado pela conjuntura. Nós tivemos momentos em que, sim, desde o primeiro turno nós tivemos que já sair unidos. E a unidade é sempre salutar. É óbvio que todos nós, partidos, temos nossas divergências, mas neste momento, digamos que, no nosso campo, temos muito mais unidade do que divergência. Agora, cada um, por conta da conjuntura, está lançando suas ideias. Isso não impede que no segundo turno nós estejamos todos juntos.
Quais são as medidas que você pretende tomar para recuperar o desenvolvimento do Estado?
Abigail — Queremos trabalhar junto às nossas entidades, que têm demonstrado que, na medida em que se combate a sonegação, se tem uma arrecadação maior. Para quem ganha um salário mínimo e para quem ganha milhões é o mesmo imposto. O nosso foco fundamental é colocar o Rio Grande do Sul no rumo do desenvolvimento. Nós não queremos nem um Estado raquítico, nem um Estado obeso. Queremos um Estado que atenda à população, prestando serviços de qualidade.
O que representa para você ser a única mulher concorrendo ao governo do Estado?
Abigail — Quando uma mulher entra para a política, isso muda essa mulher. Mas, quando muitas mulheres entram na política, isso muda a política. Nós queremos mudar a política, que está tão desgastada. E é esse o propósito da minha candidatura: conversar mais, chamar a atenção das mulheres para a nossa capacidade e para a necessidade de estarmos também dando rumo para o nosso Estado e nosso país.
Para finalizar, você tem ciência de que pode assumir um Estado em crise? Como você encara esse desafio?
Abigail — Tenho plena consciência. Atualmente, eu trabalho na Assembleia Legislativa como chefe de gabinete da liderança do PCdoB e acompanho todos os projetos que o atual governo já encaminhou. Portanto, nós conhecemos os problemas do Rio Grande do Sul e temos muitas propostas para apresentar. O que está em jogo, no centro do debate eleitoral, não é a privatização. O foco do debate é o que o governo pode fazer para nos dar serviços de qualidade. Esse é o grande debate que nós queremos fazer.