Número de desalentados cresce no Brasil em 2019

Já são 4,9 milhões, atingindo recorde histórico, de acordo com a PNAD Contínua

Matheus Miranda
Redação Beta
4 min readApr 4, 2019

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Taxa de desemprego aumentou no primeiro trimestre de 2019. (Foto: Reprodução/Google)

Sem conseguir uma vaga de emprego nos últimos dois anos, Claudia Caldas Fett, 49 anos, desistiu de enviar currículos e tentar uma oportunidade de emprego. “Estava procurando vagas de emprego na minha área, mas devido a idade e aos custos com transporte, eu acabei desistindo”, explica.

Essa é a situação que milhares de brasileiros vivem diariamente, perdendo a esperança e a vontade da procura contínua de oportunidades de emprego. Claudia e outras milhares de pessoas fazem parte de um grupo chamado desalentados. Segundo definição do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), essa é uma parcela da população que, de tanto procurar emprego e não achar, desistiu de tentar trabalhar. Também podem ser considerados como desalentados as pessoas que não conseguem emprego pela falta de experiência, por serem muito jovens ou idosos, ou que não encontraram trabalho na localidade onde vivem. São profissionais que não tomaram providências para conseguir emprego nos últimos 30 dias, mas que aceitariam uma vaga caso alguém oferecesse, independentemente da área.

Além da queda no número de vagas formais oferecidas, grande parte de profissionais experientes se viu diante da aceitação de uma remuneração menor daquela que o piso salarial determina. Segundo a economista Janile Soares, o trabalho em postos de serviços fora da sua formação também é realidade para os trabalhadores mais jovens. E complementa afirmando que o fator experiência conta muito.

Para a economista, os custos para procurar uma vaga de emprego também devem ser considerados. “Muitas famílias não têm nem sequer dinheiro para o custeio de transporte e impressão de currículos. Isso faz com que as pessoas desistam de procurar emprego, depois de várias tentativas”, disse.

De acordo com a Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio Contínua (PNAD Contínua), em março deste ano o número de desalentados chegou a 4,9 milhões no trimestre fechado em fevereiro, e é recorde da série histórica. O índice subiu 6%, o que significa 275 mil pessoas desempregadas a mais do que comparado ao mesmo trimestre móvel do ano anterior.

Em nota, o coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE explicou que o desalento chegou num nível tão alto devido a falta de oportunidade, fazendo com que as pessoas desistam de procurar emprego.

Cresce número de desempregados no Brasil

Uma pesquisa divulgada pelo IBGE na última sexta-feira, 29, indica que a taxa de desemprego no Brasil subiu para 12,4% no trimestre encerrado em fevereiro, número que atingiu 13,1 milhões de pessoas. Ainda de acordo com o Instituto, 892 mil pessoas se enquadram no grupo de pessoas desocupadas.

Dentre esses números, as mulheres são as mais afetadas no desemprego. No último trimestre de 2018, a desocupação feminina no Rio Grande do Sul atingiu 9,1%, enquanto a masculina aponta 6,1%. Ao nível Brasil, os indicativos são os mesmos: 13,5% para elas e 10,1% para eles, segundo dados divulgados pelo IBGE.

Qualificação

Por acreditar que a qualificação tem influência no número de desemprego e na hora da contratação, Janile aponta que o profissional mais qualificado está sendo subutilizado em outros postos de serviço, não por ter experiência e qualificação, mas pela necessidade de ter uma renda. “A pessoa que busca uma colocação no mercado de trabalho, mas não possui qualificação, entra em círculo vicioso. O percurso está entre precisar investir em qualificação, e não ter recursos para investir — porque não tem renda”.

Empreendedorismo é a saída para quem está desempregado

O número de desempregados no país faz com que as pessoas busquem novas atividades para extrair renda. Dados do Portal do Empreendedor do governo federal mostram que o número de Microempreendedores Individuais (MEIs) no Brasil chegou a marca de 8 milhões. Somente no primeiro trimestre deste ano, o país ganhou 379 mil novos cadastrados.

A economista explica que o governo disponibiliza uma linha de crédito para Microempreendedor Individual, que foi criada para atender profissionais que trabalham por conta própria e que querem se formalizar como pequeno empresário. “É uma oportunidade de transformar um talento ou um hobby em negócio e ter uma renda. Portanto, podemos considerar que o empreendedorismo é sim uma das melhores formas de driblar o desemprego e a expectativa de que o profissional não irá conseguir um emprego formal”, destaca Janile.

Para conseguir manter as despesas de casa, Claudia é mais um caso que recorreu ao empreendedorismo individual para tentar compensar a falta de renda, que atualmente não é zero. “Meu marido trabalha e eu faço alguns artesanatos para ajudá-lo um pouco nas despesas”. A moradora de Guaíba conta que, antes de tomar essa atitude, encontrou algumas oportunidades durante os dois anos de busca, mas não encontrou o esperado. “Todas as oportunidades que apareceram não estavam pagando um salário capaz de preencher minhas totais necessidades, pagam muito pouco e também não pagam o valor de transporte pelo fato da passagem de Guaíba ser muito cara. Por isso, acabei desistindo”, lamenta.

Artesanatos produzidos por Claudia, para custear as despesar mensais. (Foto: Divulgação pessoal)

Onde procurar emprego

Janile ressalta que, além da formação básica para obter uma boa colocação no mercado de trabalho, é necessário que os profissionais não parem de se qualificar.

Para quem está desempregado, existem diversas formas de procurar emprego e se qualificar para conseguir uma vaga no mercado de trabalho sem gastar muito. O governo oferece projetos educativos, como o Pronatec, além do banco de vagas do Sine e a Lei de Aprendizagem.

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