Nem sempre é só uma mancha
O acúmulo de vasos sanguíneos pode ser confundido com marcas de nascença e causar problemas sérios à saúde
Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), o hemangioma infantil é um tipo de tumor benigno em forma de mancha que aparece entre o primeiro e o quarto mês de vida do bebê, caracterizando a manifestação de vasos sanguíneos em excesso no organismo. Muitas crianças nascem com algum tipo de marca na pele, normalmente hereditárias, e que aparentemente não apresentam nenhum risco para a saúde. No entanto, essas manchas que parecem inofensivas exigem extrema atenção.
De acordo com o Departamento de Informática do SUS (DataSus), em 2015 cerca de 150 mil bebês tiveram hemangioma. Normalmente, o tumor desaparece até a criança completar um ano de vida, sem apresentar nenhum problema. Em contrapartida, cerca de 20% dos casos são considerados graves. A doença evolui de forma rápida e, conforme sua localização, pode interferir no funcionamento de outras partes do corpo, como visão e respiração.
É preciso ter cuidado
Isabella Boenny Vargas, 3, nasceu saudável e sem nenhuma mancha no corpo. Segundo a mãe de Isabella, Cátia Boenny, 25, nos primeiros dias após o parto uma cor avermelhada apareceu ao lado do olho esquerdo da bebê. “Achamos que fosse uma picada de inseto”. Depois de uma semana e meia, a mancha foi aumentando de forma muito rápida.
Isabella apresentou hemangiomas superficiais no canto externo do olho esquerdo, em todo o lábio e em algumas partes do pescoço. Ela desenvolveu também um hemangioma interno, localizado no esôfago, o que acabou causando dificuldades para respirar e se alimentar. “Na hora de dormir, ela roncava e reclamava para mamar”, lembra Cátia.
Sem o amparo esperado por parte do pediatra da família, Cátia e o marido, Djonatan, foram orientados a encaminhar o caso a especialistas de Porto Alegre. Sem encontrar profissionais especializados na capital, voltaram para casa para agendar outra consulta. Nesse meio tempo, um dos hemangiomas internos de Isabella estourou. “Eu havia colocado a Isabella para dormir e em poucos minutos ela acordou chorando. Cuspiu o bico e aí vimos que já tinha um pouco de sangue na boca”, explica.
Isabella ficou quase um mês internada no Hospital da Criança, de Porto Alegre. O tratamento médico durou até ela completar três anos e meio. A menina continua com acompanhamento profissional através de consultas anualmente. Hoje está saudável, mas ainda apresenta algumas manchas avermelhadas no rosto. Os pais apontam que o maior cuidado que precisam ter com ela é caso se machuque. “Como ela ainda tem hemangioma, qualquer corte que fizer vai sangrar mais do que o normal”, relata.
Inciativa virtual alerta sobre a doença
Em 2012, Michelle Rodrigues deu à luz sua primeira filha, Viviane, que nasceu com hemangioma na superfície do nariz. Com pouca informação a respeito da doença, Michelle buscou ajuda através da plataforma Baby Center, empresa on-line que aborda a gravidez e os cuidados com o bebê, possibilitando diálogo entre mães e pais que participam da comunidade virtual. Depois da primeira publicação no site, ela conheceu outras mães que enfrentam o mesmo problema. Após a experiência, criou um grupo no Facebook chamado Hemangioma — pais e familiares de crianças com hemangioma.
Dentro da comunidade, cada mãe coloca as informações que consegue a partir do contexto da sua cidade: hospitais, clínicas e tratamentos. “É uma troca de informações”, acrescenta. Segundo Michelle, o grupo já conta com uma lista dos principais profissionais especialistas em hemangioma nas principais cidades do Brasil. “Além disso, as mães também compartilham experiências sobre os casos, sintomas, características e procedimentos”, descreve.
Como o hemangioma surge
O dermatologista pela SBD com atuação em dermatologia pediátrica, Damiê De Villa, acompanhou o caso de Isabella. Segundo ele, o hemangioma geralmente surge como uma mancha de cor vermelha em qualquer parte do corpo. “Em torno de um a três hemangiomas já estão presentes no nascimento. Os demais aparecem nos primeiros meses de vida”, aponta.
Essas manchas podem estar localizadas nas camadas superficiais da pele, nas camadas profundas, ou gerar uma combinação das duas. Neste último caso, podem acarretar danos dependendo da localização do tumor. O diagnóstico é feito por meio de exames clínicos ou de imagem. “É muito importante realizar acompanhamento médico na suspeita de hemangioma, visto que alguns podem levar à morte se não tratados”, esclarece o médico.
Em 2017, um laboratório francês realizou uma pesquisa sobre a importância da divulgação de informações sobre o hemangioma infantil, constatando que 87% dos médicos consideram necessária a elaboração de campanhas educativas para profissionais acerca do tema. O levantamento também mostrou que 53% dos profissionais da saúde não sabem realizar o diagnóstico correto do hemangioma, confundindo-o muitas vezes com uma lesão, irritação de pele ou marca de nascença.
Com pouca informação divulgada nos meios de comunicação sobre o tumor, surgem iniciativas de quem vive o problema. A paranaense Luciana Dorini, que desenvolveu um hemangioma na região do pescoço, criou um blog para falar sobre a doença. Em entrevista ao portal de notícias G1, ela defende que o hemangioma ainda é pouco divulgado e foi isso que a motivou a contar um pouco da sua experiência. O blog Eu tenho um hemangioma, e daí?!? abre espaço para outras pessoas tirarem dúvidas sobre a doença e compartilharem informações pertinentes sobre o assunto.
Serviço:
Damiê De Villa Dermatologia — Endereço: 294/102, R. Hilário Ribeiro — Moinhos de Vento, Porto Alegre — RS, 90510–040 | Fone: (51) 3024–0970
