Nova Petrópolis investe em atendimento especializado para controlar taxas de suicídio

Município serrano de pouco mais de 20 mil habitantes já registrou, só em 2018, quatro casos

Júlia Klaus Bozzetto
Redação Beta
4 min readMay 30, 2018

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Estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS) de 2014, aponta que a cada 40 segundos uma pessoa tira a própria vida. No Brasil foram registrados 10.548 suicídios no ano de 2013. Mas no Rio Grande do Sul o problema é ainda mais acentuado. O estado possui as maiores taxas de suicídio do Brasil. Em 2014 foram 1.107 mortes provocadas, em especial, na capital Porto Alegre, e Caxias do Sul ocupa a segunda posição na lista dos 20 municípios com número expressivo de óbitos por suicídio, divulgada pela Secretaria Estadual de Saúde em 2014.

Cidade pequena, mas com números expressivos

Mas embora Nova Petrópolis não apareça neste ranking, a condição atual da cidade chama atenção e inspira cuidados especiais devido a grande incidência de casos comparada ao número populacional. O município de 20.416 habitantes, componente da 5ª CRS — Coordenadoria Regional da Saúde/ Região de Caxias do Sul, já registrou neste ano quatro ocorrências, conforme informação da Secretaria Municipal de Saúde.

Índices de morte provocada deixam a população do município em alerta. (Foto: Divulgação Prefeitura de Nova Petrópolis)

Em dez anos, apenas um sem registro de suicídio

Desde 1996 o município serrano vem apresentando aumento nos casos de morte provocada. O único ano em que nenhum caso foi verificado é 2011. A Secretária de Saúde e Assistência Social de Nova Petrópolis, Andréia Siqueira Frota, explica que a situação é preocupante. “A principal forma de suicídio é por enforcamento, que somou 45 casos de 1996 até 2016, tendo em vista que não computamos 2017 e 2018, porque os dados oficiais são postos à disposição a cada dois anos. Infelizmente temos estimativas que apontam pelo menos três mortes em 2017 e quatro em 2018, e só estamos em maio”, ressalta.

A oferta de tratamento especializado é um das ações de combate realizada pelo município atualmente. Nova Petrópolis dispõe de um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), onde há filas de espera para atendimentos. O quadro funcional conta com seis psicólogos concursados, que dividem as jornadas de trabalho entre as sete Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e o CAPS. No Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) também há uma psicóloga, que auxilia no matriciamento dos casos de saúde mental da cidade. Grupos de apoio, atendimentos individuais, oficinas e visitas domiciliares também são feitas pela Secretaria de Saúde e Assistência Social.

“Hoje vivemos uma situação de urgência posto que estamos com grande e intensa demanda em saúde mental. Nosso hospital tem quatro leitos de saúde mental regulados pelo estado e constantemente ocupados por pacientes de todas as regiões”, relata a Secretária Andréia.

No CAPS, as pessoas identificadas com problemas mentais ou que já apresentaram tendência ao suicídio recebem tratamento. A coordenadora do CAPS de Nova Petrópolis, Claudia Pires, conta que a maioria dos pacientes tentaram tirar a própria vida devido ao excessivo consumo de drogas. “Trabalhamos com essas pessoas no Programa Redução de Danos, que engloba visitas domiciliares e acompanhamento psicoterapêutico. Os familiares também recebem apoio emocional dos psicólogos”.

As principais causas de internações psiquiátricas são a dependência química, o exacerbado consumo de bebidas alcoólicas, transtornos mentais graves, depressão e a influência de uma colonização europeia de hábitos rígidos. O trabalho desempenhado no município é focado nas crises, pois não há campanhas ativas de prevenção.

Entretanto, as equipes de saúde estão unidas e atentas, elaborando formas de abordar a saúde mental no município serrano. “Nosso CAPS está completando 20 anos e os dados em suicídio comprovam sua importância e sugere olharmos com maior atenção para as ações em saúde mental, que hoje lidera o ranking em termos de medicação no município. As três medicações com mais saída são para o tratamento de depressão e ansiedade”, analisa a Secretária Andréia.

Prevenção

A fim de falar sobre prevenção ao suicídio, Nova Petrópolis, junto com os municípios de Gramado e Canela, está organizando um comitê para desenvolver campanhas ao longo do ano. Uma reunião para tratar do assunto está agendada para o próximo dia 07 de junho. “Não temos um projeto específico ainda, mas estamos elaborando. Nossas frentes de atuação são debates nas escolas municipais e nas redes — Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e o NASF, para juntos pensarmos planos de tratamento. Sem esquecer que o hospital do município realiza atendimento conjunto com o CAPS”, esclarece a coordenadora Claudia.

Ana Emília Grings Marconi, psicóloga especialista em Saúde da 5ª CRS, relata que o Comitê de Promoção da Vida atua com ações de combate ao suicídio, bem como capacitações nas localidades com os maiores índices. “Os municípios são convidados a, junto com a coordenadoria, pensarem estratégias para reduzir os riscos de morte provocada. Nova Petrópolis está na nossa lista.”

Ainda de acordo com Ana, o Governo Federal através da Portaria Nº 3.491, de 18 de dezembro de 2017, instituiu incentivo financeiro de custeio para o desenvolvimento de projetos de promoção da saúde, vigilância e atenção integral à saúde, direcionados para prevenção do suicídio no âmbito da Rede de Atenção Psicossocial do Sistema Único de Saúde (SUS).

Apoio via telefone

O Centro de Valorização da Vida (CVV) atua em todo o Brasil oferecendo apoio emocional e o combate ao suicídio de forma voluntária e gratuita. O atendimento funciona 24h para todas as regiões. Para buscar ajuda basta ligar para o 188.

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Júlia Klaus Bozzetto
Redação Beta

Estudante de Jornalismo da Unisinos, Colunista do Jornal Matéria de Capa, Assessora de Comunicação da Câmara Municipal de Capão da Canoa, entre outros.