Os efeitos da erva-mate na saúde dos gaúchos

Gabriel Nunes
Redação Beta
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5 min readSep 18, 2018

O chimarrão traz inúmeros benefícios ao organismo, mas é necessário tomar alguns cuidados no consumo da bebida

O chimarrão é uma peça importante da cultura sul rio-grandense (Foto: Gabriel Nunes/Beta Redação)

“O chimarrão faz parte da minha vida”. A afirmação de Zelina Miranda da Rosa, 64, mostra a estreita relação que o gaúcho tem com a erva-mate. A moradora do bairro São José, em Novo Hamburgo, conta que tem esse hábito há quase 50 anos. “Tomo chimarrão desde os 15, é uma tradição da família”, explica.

A atividade é recorrente em todas as faixas etárias. A estudante Mariana Muller, 18, também bebe um “amargo” todos os dias, geralmente pela manhã e ao anoitecer. “Tomo chimarrão há três anos, mas há mais ou menos um comecei a tomar todo dia”, esclarece a jovem que mora no bairro Vila Mentz, também em Novo Hamburgo.

Jéssica Mazilli dos Reis, nutricionista clínica, explica que o chimarrão traz diversos benefícios ao organismo. “A erva-mate possui cafeína em sua composição, e age como um estimulante mental e digestivo”, explica. Além disso, também ajuda na atividade física. Jéssica conta que utiliza o chimarrão no pré-treino, antes de atividades aeróbicas, ajuda no emagrecimento. A erva também é rica em vitaminas B, C, D e E, que combatem o envelhecimento precoce.

A nutricionista explica que o chimarrão é diurético, por isso ele auxilia quem sofre de inchaço e retenção de líquidos. “E também é uma alternativa a sucos com alto índice de frutose, como a uva, por exemplo”, explica Jéssica.

Outro ponto positivo sobre o chimarrão é que ele ajuda a combater o colesterol ruim. “Ele auxilia na função cardíaca e vascular, reduzindo os níveis do LDL ”, exemplifica a nutricionista. Como no Rio Grande do Sul o consumo de carne vermelha é elevado, principalmente nos churrascos, o mate acaba se contrapondo às gorduras presentes nesse tipo de alimento.

Jéssica acredita que o segredo para não ter problemas com o “amargo” é a moderação. Como já mostrado, o chimarrão possui cafeína em sua composição, que em excesso pode acarretar alterações na função metabólica e cardíaca. Dois litros diários é o limite seguro para o organismo.

É importante não tomar mate com água fervida. Em 2016 a OMS divulgou que bebidas com temperatura acima de 65°C aumentam o risco do câncer de esôfago. Jéssica também explica que adicionar água fervendo ao mate faz com que a erva queime e perca todas as vitaminas e fitoquímicos que auxiliam na saúde.

Com moderação, o consumo da erva-mate não tem contraindicação (Foto: Gabriel Nunes/Beta Redação)

No caso de grávidas, a nutricionista explica que é vetada qualquer adição de substâncias que causem aumento da circulação sanguínea. “No primeiro trimestre de gestação, chás como gengibre e canela são proibidos na bebida, pois podem causar sangramentos e até aborto espontâneo”, conta.

Por fim, Jéssica avisa que o chimarrão não substitui a água. “Como a erva-mate é diurética, eliminamos minerais e vitaminas na urina, podendo desidratar o organismo se não repormos essas substâncias com água”, revela.

Apesar de não existir comprovação médica, algumas pessoas sentem falta do chimarrão quando não o tomam diariamente. Leda Barbosa, 41, conta que para ela a erva-mate “é um vício bom”. “Tenho dor de cabeça quando fico sem, não sei quanto às outras pessoas, mas eu fico muito mal”, revela ela, que toma a bebida desde os 14 anos.

Zelina Miranda da Rosa, já apresentada no início da matéria, também sofre quando não consegue tomar o chimarrão matinal. “Parece que falta alguma coisa”, explica. Já para Lavoasir Fraga Brum, 62, ficar sem tomar mate não o afeta, embora ele tenha esse hábito desde os 8 anos de idade. A reação varia em cada um.

Mas como pontua Jéssica, com poucos cuidados e moderação, o chimarrão só traz benefícios para o ser humano. Uma boa notícia para os inúmeros apreciadores da erva-mate, que adoram prosear enquanto o “amargo” roda de mão em mão.

Desvendando a erva-mate

A erva-mate é dividida em dois grupos principais: nativa e tradicional/cultivada. (Foto: Gabriel Nunes/Beta Redação)

Mas afinal, o que sabemos sobre as variedades da bebida mais querida dos gaúchos? Existem cerca de 600 espécies da planta Ilex, gênero ao qual pertence a erva-mate. Destas, somente três são utilizadas para o chimarrão: Ilex angustifolia, amara e paraguariensis.

Representante de vendas que trabalha no ramo do chimarrão há mais de 20 anos, Ari Piccoli explica as diferenças entre as espécies. “A angustifolia é mais conhecida como erva-mate periquita, existente na região de Erechim e Sarandi. Já a amara é a erva-mate crioula, um pouco mais amarga do que as outras”, explica. Por fim, ele conta que o gênero paraguariensis é conhecido como erva-mate Argentina, cultivada Brasil afora, principalmente no Paraguai e no país homônimo.

Piccoli ainda explica as diferenças entre a erva-mate nativa e a tradicional. Segundo ele, “a erva nativa é aquela nascida naturalmente, ‘plantada’ pelos passarinhos que comem as sementes e depois as espalham por aí”. Já a erva tradicional, ou cultivada, foi introduzida para suprir a demanda por erva-mate. “Enquanto a erva nativa é podada a cada três anos, a tradicional é podada na metade desse tempo”, explica.

Na questão do sabor, a erva-mate nativa é mais saborosa e possui mais nutrientes do que sua variedade cultivada, justamente por demorar mais tempo para se desenvolver antes da colheita. Ari também conta que “a erva cultivada é muito mais amarga do que a nativa”. Para resolver esse problema, muitas ervateiras estão optando por adicionar outros ingredientes na composição do mate, como açúcar e menta, por exemplo.

Por fim, há a classificação realizada durante a moagem da erva-mate. O infográfico a seguir mostra as principais diferenças entre a erva moída grossa e a fina.

(Infográfico: Gabriel Nunes/Beta Redação)

Há uma grande variedade de marcas de erva-mate no mercado. Segundo Piccoli, só na sua cidade natal, Ilópolis, que tem menos de 7 mil habitantes, há 38 marcas diferentes produzindo erva-mate. Ele completa afirmando que cada vez mais marcas vão surgir, aumentando a competitividade do mercado ervateiro.

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