(Foto: Fabiano Scheck/Beta Redação)

O bar de música livre

Prestes a completar 32 anos de funcionamento, Odeon é considerado a casa do jazz em Porto Alegre

Fabiano Scheck Ferraz
Redação Beta
Published in
5 min readSep 15, 2017

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“Se eu saio pra ouvir música ao vivo, tem que ser jazz”, afirma Jaqueline Pólvora para a sua amiga Denise Comerlato, que complementa: “Este lugar é uma resistência”. As duas estão na calçada em frente ao Odeon Snack Bar, no Centro Histórico de Porto Alegre, e a noite está apenas começando. Lá dentro, ambiente lotado e as bandas animando o público.

(Foto: Fabiano Scheck/Beta Redação)

Inaugurado em outubro de 1985, o Odeon é um bar de música ao vivo, tipicamente de jazz, com um grupo fixo na programação semanal para executar clássicos do gênero. Aberto de segunda a sábado, tem tango às terças, MPB às quintas e, nos demais dias, o jazz predomina.

Eleito como melhor local de música ao vivo em Porto Alegre três vezes (2010, 2011, 2012) pela revista Veja, o bar é considerado referência no meio. Aos sábados, acontecem noites especiais: “Os músicos me procuram, fazem contato e pedem para tocar. Sempre há alguém querendo se apresentar”, explica proprietário, Celestino Paz Santana.

Tino é o proprietário do Odeon desde a inauguração, em 1985. (Foto: Fabiano Scheck/Beta Redação)

Conhecido como Tino pelos frequentadores do Odeon, ele recebe os músicos e serve o chope para os clientes. “É tudo eu que faço aqui. Minhas ideias, o estilo de música que eu gosto, o atendimento”, declara, exibindo um tímido sorriso.

A proposta do lugar é simples: você entra, pega uma bebida, senta (se ainda houver mesa disponível), aprecia a música e pode ir para o ambiente externo quantas vezes desejar, sendo a calçada da frente quase um anexo do Odeon. É, de fato, um espaço boêmio.

No último sábado (9), o baixista Matheus Nicolaiewsky, radicado na Holanda e em visita ao Brasil, esteve acompanhado do guitarrista Marcio Philomena e do baterista Bruno Braga para tocar no Odeon.

Confira um trecho da apresentação no vídeo:

Marcio e Matheus, respectivamente, possuem formação e carreira internacional. (Foto: Fabiano Scheck/Beta Redação)

Que jazz é esse?

Segundo o trio de amigos, que se reuniu para a apresentação, as músicas tocadas no Odeon faziam parte de um standard, isto é, um repertório básico e mais conhecido.

Bruno Braga é licenciado em Música pelo Centro Universitário Metodista IPA e pós-graduado em Processos Criativos de Música Popular pela Faculdade Souza Lima. (Foto: Fabiano Scheck/Beta Redação)

O gênero é caracterizado pela liberdade na execução das músicas. Ao desenvolver um tema, há muito espaço para improvisação. “O jazz é um espírito de mudar as regras do jogo. Tocar o momento. Tocar o que sente na hora e transformar a música. Mas isso sempre dentro de uma determinada estrutura do gênero. Ainda assim, tocar jazz é ser livre”, explica Bruno Braga.

Bateria, piano, instrumentos de corda e metais como saxofone e trompete são recorrentes no tipo de música que surgiu por volta de 1910 nos Estados Unidos, predominantemente as cidades de Nova Orleans, Nova Iorque e Chicago.

Bruno elaborou, para a Beta Redação, um guia básico de jazz elencando artistas consagrados. Se você ainda não conhece jazz, este é um caminho para começar a ouvir. Abaixo, nomes de músicos considerados referências em cada instrumento.

Trompete: Miles Davis — Dizzy Gillespie — Freddie Hubbard.

Saxofone: Benny Golson — Stan Getz — John Coltrane — Charlie Parker.

Piano: Duke Ellington — Thelonious Monk — Oscar Peterson — Bill Evans — Herbie Hancock.

Baixo: Ron Carter — Eddie Gómez — Charles Mingus.

Bateria: Art Blakey — Philly Joe Jones — Tony Williams — Max Roach — Roy Haynes.

Para os já familiarizados com jazz, o músico tem algumas indicações de artistas contemporâneos, como os israelenses Avishai Cohen, Shai Maestro e Omer Avital, além da japonesa Hiromi Uehara. Dos Estados Unidos, nomes contemporâneos do gênero são Aaron Parks, Brad Mehldau, Nir Felder e Esperanza Spalding.

Jazz dos gaúchos

Segundo Bruno Braga, o Rio Grande do Sul forma bons músicos, mas a maioria desses profissionais decide fazer carreira fora do Estado ou do país. “Pouca coisa permanece aqui. Há poucos lugares para se tocar jazz. Em Porto Alegre há o Odeon, o London Pub, o Café Fon Fon e o Espaço 373, basicamente”, informa.

Braga é baterista na Marmota Jazz, ao lado de André Mendonça (baixo), Leonardo Bittencourt (piano) e Pedro Moser (guitarra). Ele diz que, assim como há poucos locais para se ouvir jazz na capital gaúcha, também há poucas bandas novas do gênero. “A Marmota é uma das poucas bandas ativas de jazz e que possui composições autorais”.

A banda tem influências tradicionais e modernas. Fundada em 2011, lançou o primeiro álbum em 2015, intitulado Prospecto. O lançamento do segundo álbum, chamado Amargem, acontece no dia 5 de dezembro, no Theatro São Pedro.

SERVIÇO

Odeon Snack Bar — R. Gen. Andrade Neves, 81 — Centro Histórico, Porto Alegre. O horário de funcionamento varia de acordo com a atração do dia. Consulte os eventos na página do bar no Facebook e veja os horários. Telefone: (51) 3224–5752.

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