Jogador Andrés D’Alessandro e Vó Noêmia no Museu do Inter. (Foto: Arquivo pessoal)

Estádio Beira-Rio além da partida de futebol

Museu Ruy Tedesco preserva a história dos 111 anos do Sport Club Internacional

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4 min readAug 27, 2020

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No final dos anos 1960, enquanto o lar do time gaúcho Sport Club Internacional estava sendo construído às margens do Rio Guaíba, em Porto Alegre, Noêmia Martins Fontoura Lago tinha uma missão a cumprir: conseguir tijolos. À época com 33 anos, a torcedora orgulhava-se em participar da construção do estádio, sentimento que carrega até hoje. Por diversas vezes, levava à obra os blocos cerâmicos em sacolas plásticas. Em 1969, enfim, viu sua tarefa cumprida. O Beira-Rio foi inaugurado naquele ano. “Esse clube é do povo porque ele foi construído mesmo com o povo, com as mãos do povo”, destaca a torcedora.

Vó Noêmia mora em frente ao Beira-Rio. (Foto: Arquivo pessoal)

Atualmente com 86 anos, Noêmia, ou Vó Noêmia, como é conhecida nas redes sociais, mora em frente ao estádio. “Eu vivo esse time 24 horas por dia”, diz. Ela recorda com carinho dos artefatos que possui da época da inauguração do Beira-Rio. Considerado uma relíquia, um boné datado daquela época ocupa espaço em uma das vitrines do Museu do Sport Club Internacional Ruy Tedesco. “Lá (no museu) também tenho copo, isqueiro, chaveiro, almofada e duas camisetas infantis dos anos 70”, elenca. Dividindo o espaço de 1.2 mil metros quadrados com taças, camisetas e chuteiras, os itens da aposentada ajudam a remontar a narrativa de uma das épocas mais gloriosas do clube.

O local leva o nome do engenheiro e presidente da Segunda Grande Comissão de Obras do Gigante da Beira-Rio, de 1965 até a sua inauguração, no dia 6 de abril de 1969, Ruy Tedesco. Com 10 anos completos em abril, o museu recebe não só a torcida colorada, mas também visitantes de várias partes do país.

De acordo com a jornalista Juliana Zanatta, que trabalha no setor de comunicação do espaço, em 2019 foram registradas mais de 60 mil visitas ao local. “Temos que reconhecer a importância que ele tem não só para os colorados e para Porto Alegre, mas para o Brasil. Não são todos os clubes que têm um museu. Ter esse espaço é um privilégio”, enfatiza.

Museu do Inter tem 1.200 metros quadrados e completou 10 anos em abril. (Foto: Divulgação/Internacional)

Além dos artefatos de Vó Noêmia e de outros torcedores que confiam aos profissionais do museu seus itens e memórias, o local expõe materiais de ícones como Valdomiro, Tesourinha, Dunga, Carlitos(na estátua) e Claudiomiro. Este último, o centroavante que marcou o primeiro gol colorado no gramado do Beira-Rio. “Temos itens das gurias coloradas também, como a Duda, Tati e Bel”, destaca Juliana sobre as lendárias Eduarda Marranghello Luizelli, Tatiele dos Santos Silveira e Isabel Cristina Nunes, respectivamente, pioneiras no time feminino do Inter.

Outro ídolo importante na história do clube, com destaque na exposição do museu colorado, é Fernando Lúcio da Costa, o Fernandão. Falecido em um acidente de helicóptero, em 2014, o jogador revelado pelo Goiás foi o capitão do time na conquista do Mundial de Clubes Fifa, em 2006. Fernandão foi fundamental nas maiores conquistas da camiseta vermelha. Por isso, no museu, uma das camisetas em destaque é alusiva à conquista do Mundial. Igualmente, é destaque um par de chuteiras oficial, de propriedade da família do atleta, como item que preserva a memória do ídolo.

Thayná, com 13 anos, ao lado de Fernandão. (Foto: Arquivo pessoal)

Para a estudante de jornalismo Thayná Costa, 21 anos, filha de Fernandão, as peças são importantes não só para guardar a memória do pai, mas também para dar acesso a outras gerações de torcedores às lembranças de suas conquistas. Colorada, ela afirma que carrega o sentimento pelo Internacional por influência do pai. “Eu acredito que comecei a torcer pro Inter quando vi meu pai ali (jogando no time). Foi quando comecei a entender. Eu simpatizo muito com o Goiás, até porque eu moro aqui em Goiânia e meu pai também tem história aqui, vou sempre no Serra Dourada. Mas entre Inter e Goiás, eu sou Inter”, pontua. A estudante também atribui créditos ao pai pela profissão que decidiu seguir. Almejando focar sua carreira no jornalismo esportivo, atualmente Thayná comanda o canal do Youtube “9 é a dela”, em que produz vídeos comentando temas vinculados ao futebol.

Thayná Costa, filha de Fernandão, conversou com a Beta Redação para contar sua visão sobre o papel do Museu Ruy Tedesco e sobre a preservação do legado do pai. Confira abaixo.

Funcionamento do Museu

Devido à pandemia de Covid-19, as atividades do Museu e da Visita Colorada (tour pelo Beira-Rio) estão paralisadas. Antes da pandemia, o Museu funcionava das 10h às 18h. Para visitantes externos, o valor do ingresso é 10 reais. Sócios-torcedores são isentos. A comunicação do Museu informa que ainda não há previsão de como será o funcionamento após a reabertura do local.

Visitações ao museu estão paradas devido à pandemia. (Foto: Divulgação/Internacional)

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Jornalista, nascida no Rio Grande do Sul mas com sotaque indefinido. Apaixonada por cachorros, gastronomia italiana, maquiagem, bom senso e empatia.