O dia de votação em dois colégios de Porto Alegre

Eleitores que votaram na Escola Estadual Fernando Gomes e no Colégio Anchieta falam sobre o momento político no Brasil

Renata Simmi
Redação Beta
4 min readOct 8, 2018

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Colégio Anchieta, na zona norte da capital. (Foto: Renata Simmi/Beta Redação)

Renata Simmi e Tina Borba

Neste domingo, 7 de outubro, ocorreu o primeiro turno das eleições 2018, que definiu os cargos de deputados estadual e federal, dois senadores e encaminhou o segundo turno para presidente e governador (em alguns estados, como o Rio Grande do Sul). A Beta Redação visitou dois locais de votação na capital gaúcha para conhecer as motivações e o entendimento dos eleitores sobre o momento de polarização que a política e a sociedade estão vivendo.

A movimentação nas zonas eleitorais de Porto Alegre foi intensa. Pessoas que não votaram nas últimas eleições sentiram a necessidade de se posicionar este ano. Foi o caso da aposentada Ana Rosa Magalhães, que não participou do último pleito, mas agora foi exercer seu voto. “Mesmo que fosse para votar em branco”, afirmou.

Movimentação dos eleitores neste domingo de eleição. (Foto: Renata Simmi/Beta Redação)

No colégio Anchieta, no bairro Três Figueiras, zona norte da capital, o clima aparentava tranquilidade. No local, poucas pessoas manifestavam apoio a candidatos com adesivos, camisetas ou bandeiras. Muitas famílias chegavam com crianças e idosos. Ao mesmo tempo, a preocupação com o futuro do estado e do país era o grande tema do dia, tanto nas intenções de voto quanto na expectativa com os resultados.

A funcionária pública Ivana Schmitz chamou atenção por estar coberta de adesivos e referências a um dos candidatos ao governo estadual. “Minha escolha tem muito a ver com o que o Brasil passou nos últimos 10 anos. Quando circulamos em vilas e locais sem infraestrutura, vemos o quanto foram importantes as ações como Bolsa Família e Prouni”, apontou.

Já para o casal Cláudia Michaelsen, empresária, e Nelsa Cardoso, bióloga, é perigoso utilizar qualquer adereço político no dia de hoje. “As redes sociais nos assustam. As pessoas estão se sentindo habilitadas para fazer e falar o que bem entendem. E isso só alimenta essa fúria”, lamentou Nelsa. Para elas, a representatividade foi a principal questão na escolha dos candidatos. “Decidi por uma deputada mulher e um deputado negro. São pessoas que a gente conhece e acredita na causa deles”, revelou Cláudia.

Há quem esteja desanimado e descrente com a política e com o que está por vir nos próximos quatro anos. O advogado Luiz Carlos Martins, morador do bairro e ex-aluno do Anchieta, pensa ser importante cumprir o seu dever de cidadão, mesmo sabendo que seu candidato não iria se eleger e que, na sua opinião, “iria para o segundo o turno o pior governador da história do Rio Grande do Sul”. Luiz considerou que sempre houve essa polarização, e que hoje a única diferença são os candidatos.

Próximo dali, no bairro Jardim do Salso, na Escola Estadual de Educação Básica Fernando Gomes, a movimentação era grande na última hora do pleito. Algumas pessoas haviam retornado ao local depois de terem tentado votar mais cedo, tendo desistido por, segundo relataram, haver grandes filas no início da tarde. Nesse local de votação, as manifestações de apoio a candidatos e partidos era maior.

Escola Estadual Fernando Gomes. (Foto: Renata Simmi/Beta Redação)

Vestindo camiseta em homenagem a Marielle Franco, vereadora assassinada no Rio de Janeiro em março deste ano, a estudante de Ciências Sociais Thais Pereira Santos, 20 anos, diz que a causa negra foi fator determinante para a escolha dos seus candidatos. “Pautei minhas escolhas não por partidos, e sim por propostas”, contou. Quando questionada sobre o que esperar para os próximos quatro anos, Thais foi enfática. “Minha maior preocupação é que o coiso (referência ao candidato à presidência pelo PSL, Jair Bolsonaro) não ganhe”, disse.

Preocupação com a intolerância e com a falta de espaço para trocas de ideias também foram citadas pelos eleitores. O comerciante Tadeu Souza, 59 anos, acredita que a polarização desabilitou a capacidade das pessoas de dialogar. “Espero que a gente consiga ter mais diálogo entre a população para conseguir fazer as coisas que o Brasil realmente precisa”, analisou.

E apesar de vermos uma grande agitação por parte de alguns eleitores, há aqueles que assumem uma postura passiva. É o caso da bibliotecária Maria Helena Lerrer, 69 anos, que decidiu não votar em ninguém à presidência. “Estou achando essa rivalidade exacerbada, tanto que não votei para presidente, votei em branco. Nunca tinha votado em branco, foi a primeira vez”, afirmou. Ela rechaça o revanchismo daqueles que perdem as eleições e questionam a democracia. “Eu acho que tem que aceitar o que vai ser e se adaptar. Tem que desejar que a pessoa eleita governe bem”, concluiu.

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