Inseguranças marcam o ensino na rede estadual gaúcha em meio à pandemia

Falta de clareza das orientações governamentais para manutenção das aulas no RS difere da rede escolar do eixo Rio-SP

Renan Silva Neves
Redação Beta
5 min readMay 5, 2020

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Colégios e Escolas da Rede Estadual, como o 25 de Julho de Novo Hamburgo, permanecem com aulas suspensas (Foto: Arquivo Pessoal/Nair Lopes)

O governador Eduardo Leite (PSDB) determinou que as aulas da rede estadual de ensino permaneçam suspensas até o próximo dia 15 de maio. Entre os dias 15 e 31, será antecipado o recesso escolar previsto em calendário, que seria realizado no mês de julho. Na prática, caso não ocorram alterações nos próximos dias, os encontros presenciais nas escolas da rede estadual devem ser retomados no início do mês de junho.

Segundo o Governo do Estado, para que alunos e funcionários das Instituições retomem os espaços escolares com segurança, talvez seja necessária a compra de materiais ou equipamentos de proteção e reforço de recursos humanos, cujos processos de aquisição e contratação podem levar mais tempo. A avaliação das necessidades dependerá das especificidades de cada região. Um levantamento está sendo realizado ao longo do mês de maio.

Para que os alunos não sejam prejudicados durante a suspensão das atividades, a Secretaria da Educação (Seduc) propôs a metodologia das aulas programadas em plataformas digitais e aplicativos. As atividades on-line valem horas/aula. Conforme orientação da Seduc, o planejamento dos trabalhos está sob responsabilidade dos educadores, que devem levar em consideração às possibilidades da comunidade escolar.

Professores, pais e alunos tentam se adequar

Com a determinação estadual, as escolas acabam enfrentando diferentes dificuldades e se organizam de formas variadas.

Nair Lopes é professora de Língua Portuguesa e Língua Inglesa no Colégio Estadual 25 de Julho (Foto: Arquivo Pessoal/Nair Lopes)

De acordo com a professora Nair Lopes, do Colégio Estadual 25 de Julho, de Novo Hamburgo, as orientações do Governo do Estado foram insuficientes até o momento. “No início da pandemia fomos orientados pela equipe diretiva que deveríamos postar atividades em formato on-line para o mês de março e, logo a seguir, para o mês de abril. A coordenadoria apenas enviou e-mails com as orientações. Porém, em nenhum momento fomos questionados sobre nosso acesso à internet ou se sabíamos usar alguma plataforma”, afirma. A professora destaca que recebe solicitações dos alunos. “Alguns procuram, pedindo orientações. Porém, ainda não há um padrão a ser seguido”, comenta.

Na mesma cidade, outras Instituições buscam manter o envio dos trabalhos. Fábio Lima, pai de uma aluna do 6º ano do Ensino Fundamental da Escola Estadual Professor Clemente Pinto, de Novo Hamburgo, explica que a comunidade escolar elegeu líderes entre os pais para o recebimento das atividades. “O professor envia as atividades para um pai que fica com a responsabilidade de repassar o documento aos demais. Cada turma escolheu um responsável para assumir esta condição”, conta. Segundo Fábio, para facilitar o processo, foi criado um grupo no Whatsapp para os pais da turma de sua filha. “Recebemos atividades três vezes por semana e, até o momento, tudo transcorreu de forma tranquila”, destaca. As atividades enviadas neste período deverão ser anexadas ao caderno do aluno e mostradas aos professores na retomada das aulas presenciais.

Para alguns alunos, o ensino à distância e as atividades on-line são novas experiências. É o caso de Neuza da Rosa, 48 anos, integrante da Educação de Jovens e Adultos (EJA) no 8º ano da Escola Estadual Ayrton Senna do Brasil, de Novo Hamburgo. “A escola está enviando vários trabalhos no formato on-line. As atividades são publicadas na página do Facebook. É algo novo pra mim e às vezes sinto falta de um professor ao meu lado para explicar. Porém, quando fico em dúvida, posso contatar professores pelo Messenger. Isso facilita”, diz. A aluna também relata que a direção da Instituição realiza esforços para que todos sejam contemplados. “Para quem não possui acesso à internet, deixam atividades no saguão de entrada do prédio. O aluno pode pegar sem ter contato com ninguém. Também deixam folhas em um mercado próximo à escola para os alunos pegarem”, conta.

A direção da Escola Estadual Ayrton Senna do Brasil publica atividades nas redes sociais oficiais da Instituição (Foto: Reprodução Facebook/Escola Estadual de Ensino Fundamental Ayrton Senna do Brasil)

Situação no eixo Rio-SP

Enquanto o Governo Estadual do Rio Grande do Sul optou por delegar às escolas a responsabilidade do envio das atividades, em São Paulo e Rio de Janeiro as ações para a manutenção do ensino estão sob coordenação dos governos.

Em São Paulo, as aulas presenciais na rede estadual estão suspensas desde o dia 23 de março. A Secretaria da Educação antecipou o período de férias e recesso escolar, e as aulas que contarão como dias letivos recomeçaram em 27 de abril no formato on-line. Para auxiliar os estudantes, foi criado o aplicativo Centro de Mídias SP, onde é possível assistir aulas ao vivo e com interação. As aulas são dadas por professores da rede estadual e outros especialistas. Todos os alunos da rede estadual possuem acesso. Além da ferramenta, o Governo assinou acordo com a TV Cultura, a qual irá transmitir as aulas pela televisão.

Além disso, a Secretaria começou a distribuir, no último dia 28 de abril, kits com material pedagógico e de orientação para este período. Os alunos do ensino fundamental e do ensino médio receberão apostilas conforme seu ano escolar. Ao todo, serão distribuídos 3,5 milhões de kits.

Letícia conta com a colaboração da mãe, Maria Lúcia, para realizar as atividades escolares (Foto: Arquivo Pessoal/Maria Lúcia Pereira)

Estudante do 1º ano do Ensino Médio na Escola Estadual Professor Antônio Lisboa, na capital paulista, Letícia Monteiro, 15 anos, está se adaptando às iniciativas. “Ainda é um pouco complicado de entender. No aplicativo, existe uma espécie de ‘sala gigante’ onde ficam todos os alunos do 1º ano, de todas as escolas. Com o grande número de pessoas, o professor não atende dúvidas específicas”, relata. A mãe de Letícia, Maria Lúcia Pereira, conta que sente preocupação com o formato, mas compreende que o Governo está fazendo o que tem ao seu alcance. “Não é fácil reorganizar tudo às pressas. Claro que me preocupo com o ano letivo da minha filha, mas sei que estão auxiliando da melhor forma possível. Estou a auxiliando no que é preciso também. Temos que nos adaptar”, diz.

Já no Rio de Janeiro, as aulas estão suspensas desde o dia 16 de março. Conforme decreto assinado pelo Governador Wilson Witzel (PSC) no último dia 30 de abril, as aulas seguem interrompidas, pelo menos, até dia 11 de maio. Neste período, a Secretaria Estadual de Educação definiu o ensino remoto por meio da plataforma online Google Classroom. Nesta quarta-feira (06/05) começa a ser exibido na TV Bandeirantes o programa o Seeduc no Ar, que será transmitido de segunda à sexta, das 6h às 7h da manhã para todo o estado do Rio de Janeiro. No turno da tarde, o Seeduc no Ar reprisará das 14h às 15h para toda a Região Metropolitana.

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