“O Estado não tem recurso”, afirma pré-candidato do PP no RS
Ex-prefeito de São Borja, Luis Carlos Heinze acredita no desenvolvimento econômico junto à iniciativa privada
Por Carolina Zeni, Júlia Ramona Michel, Khael Santos, Milene Magnus e Vitor Brandão
Deputado federal pelo Rio Grande do Sul e agora pré-candidato ao Piratini pelo Partido Progressista (PP), Luis Carlos Heinze é o entrevistado da vez da série Futuro do Rio Grande. Engenheiro agrônomo e ex-prefeito de São Borja, o político recebeu a Beta Redação no diretório municipal do partido, em Porto Alegre, e expõe a seguir as expectativas e propostas na disputa pelo governo do Estado. O PP, ultimamente, tem se denominado apenas Progressistas.
Natural de Candelária e radicado em São Borja há 44 anos, Heinze, 67, é produtor rural. Ao final do quinto mandato na Câmara dos Deputados — a última eleição foi vencida como o candidato mais votado do estado, somando 162.462 votos em 472 municípios —, o progressista teve apoio de mais de 80% dos filiados do partido na pré-convenção para disputar as eleições em outubro deste ano.
Depois de 16 anos de vida política, Heinze acredita que a bagagem será importante para a possível atuação no Piratini em 2019. Defensor assíduo da agricultura e dos profissionais da área, o parlamentar também pretende se posicionar acerca de outros assuntos, como segurança e demarcações indígenas. Além disso, ele e o partido em que é filiado já conversam com outras siglas para buscar uma coligação na disputa das próximas eleições.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista e, a seguir, confira a entrevista em vídeo.
O senhor é um parlamentar fortemente ligado às questões agrárias. Mas quais são seus outros temas prioritários na disputa ao governo do Estado?
Luis Carlos Heinze — Apesar de ser um deputado que trabalha com agricultura, a gente vê que a segurança pública é um clamor da população gaúcha. Não apenas de Porto Alegre e Região Metropolitana, mas também do interior. Então, esse é um dos pontos que nós temos já iniciado um debate com pessoas ligadas à Brigada Militar, Polícia Civil e Exército que são estrategistas de segurança. Afinal, a população está carente dessa problemática ligada à segurança pública, e nós vamos ter uma posição firme.
Quais as experiências que o senhor traz dos seus mandatos de deputado e prefeito que possam auxiliar durante uma futura gestão do Estado?
Heinze— Experiência primeiro da iniciativa privada, pois há 44 anos trabalho como agrônomo e tenho uma empresa rural. Também administrei um município por quatro anos. E, agora, experiência parlamentar que também nos ajuda. O Estado é uma grande empresa que tem todas as áreas, e a gente precisa trazer esse aprendizado da iniciativa privada. Vamos ter que apresentar uma saída para não ficar parcelando salários. Ao mesmo tempo, fazer a segurança e atender à saúde que a população precisa. A questão da educação, de investir para que possa se desenvolver e crescer também.
Gerir uma empresa pode ser comparado a governar um Estado?
Heinze— Não é bem a mesma coisa, né. Mas quem administra o seu negócio tem alguma experiência. Quem já fez administração pública, como eu já fiz, também tem experiência. Agora, claro que se traz para um outro nível, como é administrar o Rio Grande do Sul, que tem outras carências e demandas. Afinal, em todas as direções, você tem que focar o que irá fazer pelo estado.
Podemos afirmar que o PP levará essa candidatura até o final, sem a hipótese de uma futura coligação?
Heinze — Nós estamos buscando coligações com outros partidos. Já temos o apoio do Democratas e do PROS. Estamos conversando com o PR, PRB, PTB, PSB, REDE e Solidariedade. Sei que outros partidos já têm seus candidatos e, seguramente, estão trabalhando suas coligações. O PP, hoje, tem a senadora Ana Amélia como candidata preferencial ao Senado. Queremos fazer uma grande bancada de deputados estaduais e federais.
Quais os motivos que o levaram a abrir mão da sua carreira consolidada como deputado federal para concorrer a esta eleição mais disputada que é o governo do Estado?
Heinze — São desafios. Tenho uma carreira bem constituída e é um desafio governar o Rio Grande do Sul. Nos achamos capacitados e temos um currículo de realizações pelo estado e do que podemos fazer. Eu quero servir ao meu estado e acho que temos condições. Quero colocar essa experiência da vida particular e privada também à disposição do RS e de seu crescimento.
Em entrevistas, vemos que o senhor é bastante atuante nas questões de demarcações indígenas. Por conta disso, muita gente o intitula de “contrário aos índios”. Pode explicar essa situação?
Heinze — Não sou contra os índios. Somos contra movimentos indigenistas que estavam fazendo não só no Rio Grande do Sul, mas em todo o Brasil, processos de expropriação, que é tomar a propriedade de alguém para colocar alguns índios no seu lugar. Só no RS são quase 100 hectares, são 7 mil famílias que seriam expulsas de suas propriedades para colocar um grupo de índios em cima dessas terras. Hoje nós temos projetos junto com eles, queremos ajudá-los. Imagina eu chegar na sua casa e te expulsar. Você comprou a casa, tem a escritura. Isso podia acontecer com qualquer cidadão, porque qualquer parte do Brasil já foi terra indígena. Não podemos aceitar laudo antropológico fraudulento, que foi o que fizeram.
Você cita o fator “ideológico” como um dos principais problemas para discutir determinados assuntos. Hoje, tendo em vista essa polarização que enfrentamos, é possível governar e deixar de lado questões ideológicas?
Heinze— Tem. Não tenho essa ideologia. O que eu vejo são coisas positivas que temos que trazer para o Estado e fazer acontecerem. O que não pode é a ideologia superar qualquer coisa, como no caso dos indígenas. A minha ideia é apresentar soluções para o Rio Grande do Sul e buscar a convergência. Quando eu fui prefeito de São Borja, buscava a oposição e discutia com todos os lados projetos interessantes para minha comunidade. Em Brasília, a gente trabalha com todos os campos.
Em 3 de agosto de 2017, uma publicação da revista Exame acusou o senhor de “traição ao presidente Michel Temer por ter votado contra o arquivamento da denúncia por corrupção passiva ao presidente”. O que você tem a dizer sobre isso e qual sua opinião acerca do atual governo de Temer?
Heinze— Eu quero dizer que isso é coerência. Votei pra cassar o presidente do meu partido, Pedro Corrêa. Veio o Eduardo Cunha, a Dilma Rousseff e, depois, em todos os processos que apareceram na Câmara, fui coerente com a minha posição e com a posição que os eleitores do Rio Grande querem que o seu parlamentar tenha. Da mesma forma, entendia que o processo presidencial de Temer tinha que ter continuidade. Se alguns entenderam como traição, eu não entendi assim.
No início do governo Temer, o senhor foi cogitado para ser ministro da Agricultura. Você aceitaria esse cargo? Como se veria trabalhando dentro de um ministério?
Heinze — Várias pesquisas de produtores do estado e do Brasil, nos governos Lula e Dilma, apontavam meu nome. Se viesse o convite, eu tentaria ver, estudaria lá atrás. Não veio o convite e só fui citado. Pra nós é um orgulho a lembrança do setor em que trabalho e dedico a minha vida há mais de 40 anos. Houve a opção dentro do meu próprio partido, com Blairo Maggi, que é senador hoje pelo Mato Grosso, foi governador daquele Estado, grande produtor, que está ocupando esse cargo.
Nota-se que o senhor tem um discurso bastante otimista em relação à governabilidade do Estado. Caso o senhor seja eleito, tem a ciência das condições do Estado que vai assumir e não vai ter nenhuma surpresa durante a sua administração?
Heinze — Estamos estudando a situação das dívidas do Estado, ainda como deputados que somos, e como honrar esse compromisso. Vamos trabalhar fortemente na educação, já tenho vários fatos que, mesmo sendo da agricultura, ajudaram quase 300 creches do Rio Grande do Sul. Temos que centralizar um trabalho em hospitais e em obras importantes com foco nas rodovias. O Estado não tem recurso. Está carente para fazer grandes investimentos de estrutura. Temos discutido que o Estado pode se desenvolver junto com a iniciativa privada para mostrar que o RS tem jeito. Se funciona em Santa Catarina e no Paraná, por que não pode funcionar aqui? Temos que fazer funcionar.