O preço do miojo aumentou quase 18% no último ano em Porto Alegre, segundo o IBGE

Milla Lima
Redação Beta
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4 min readMay 4, 2023

O economista Presley Vasconcellos explica o porquê desta subida tão expressiva

O miojo é considerado ruim para saúde pela quantidade de sódio e, principalmente, de conservantes. (Foto: Reprodução/Experimenta Isso)

Sal, orégano, manteiga, presunto picado e tomate, é a receita da auxiliar de Departamento Pessoal, Laura da Luz, 29 anos, para o seu miojo. Já Madu Neves, que trabalha como analista de marketing e tem 23 anos, faz o seu macarrão instantâneo com os temperos que estiverem à disposição no armário, como requeijão, queijo mussarela, milho em lata, ketchup e batata palha, para a “crocância”. A refeição rápida escolhida por muitos jovens porto-alegrenses é uma opção apetitosa sem doer o bolso.

Não faz muito tempo que comprar qualquer marca de macarrão instantâneo saia por menos de um real. Segundo dados do IPCA, principal índice inflacionário brasileiro, o aumento dos preços do miojo registrados está em constante crescimento. De março de 2022 a março de 2023, o preço do miojo variou 17,9% na capital gaúcha, cidade de Madu e Laura.

“Senti o impacto do aumento do preço, eu comprava por 99 centavos. Hoje em dia está três reais um básico. Antes, esse era o preço que eu pagava por um melhor, como a marca Talharim”, conta Madu. Já Laura mostra não entender porque um alimento "que não oferece nada de bom para a saúde" está tendo um aumento tão considerável enquanto outros, com valores nutricionais maiores, não têm o mesmo índice de crescimento. “O miojo sempre foi a escolha mais barata para uma refeição, então não tem como passar despercebido que, um produto tão pobre em valor nutricional, e em quantidade também, esteja com o valor maior do que considero justo. Mesmo que ainda seja um valor baixo, antigamente se podia encontrar no mercado por 90 centavos”, fala Laura.

Existem múltiplos fatores para que ocorra a inflação de alimentos, e nem sempre tem relação com o valor nutricional. O economista Presley Vasconcellos, que mantem uma conta no TikTok e Instagram para traduzir problemas econômicos dos brasileiros, falou para a Betaredação na semana passada. Segundo ele, “o frete é um custo que afeta qualquer tipo de alimento. Quando você tem um aumento do dólar, que vai impactar o aumento do preço do combustível, esse preço é repassado para o consumidor final”. O economista produz conteúdos a fim de educar a população sobre economia e como entender a inflação.

Presley tem 114 mil seguidores no Instagram e 231,3 mil no TikTok. (Foto: Reprodução/Presley Vasconcellos).

O caso do miojo tem, também, outro fator a ser analisado, segundo ele. O macarrão instantâneo é uma novidade entre os ítens pesquisados pelo IPCA, tendo entrado apenas em 2020. Parte deste aumento está ligado à guerra da Ucrânia — país que é um dos maiores fornecedores de fertilizantes para o Brasil. O conflito no leste europeu acaba resultando em uma maior dificuldade na plantação do trigo e no consequente aumento desses preços. “O trigo teve um aumento muito forte no ano passado, ele acabou sendo impactado pelos problemas relacionados à guerra da Ucrânia, por causa do fertilizante. Então, se isso não for absorvido pelo produtor, acaba sendo repassado para o consumidor. O que explica o nosso problema atual. Infelizmente, o miojo é um símbolo de alimentação rápida e barata e está passando por um período complicado por conta desse fator”, explica o tiktoker.

No mês de fevereiro, o aumento do produto chegou a 24, 43%. Em março, a subida ficou 6,48 pontos percentuais a menos, mesmo assim, ainda alta. Para Laura e Madu, esta diminuição não foi notada. “Acredito que para nós, consumidores, hoje em dia não faz tanta diferença uma queda tão baixa (17,95%), ainda mais porque envolve outros produtos para fazer o miojo, e esses estão com valores quase sempre em alta", diz Laura. Já Madu foi sucinta quando questionada por esta queda. “Pra mim ainda tá caro. Enquanto não voltar a ser 99 centavos, eu não vou achar barato”, comenta.

O influenciador de economia confirma o que as consumidoras trazem. A queda é pequena demais para ser notada. “Nós temos, na economia, o processo inflacionário como um fenômeno comum, ele acontece de uma maneira sazonal por vários motivos. E é aí que vem a importância do brasileiro comum entender o que é inflação, o que afetou naquele processo inflacionário em questão, para que a gente entenda se, de fato, é geral, ou se é um caso isolado”, fala.

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