O que esperam torcedores que irão ao Qatar para a Copa do Mundo

Brasileiros conversaram com a Beta Redação e relatam expectativas em relação ao campeonato cercado de polêmicas

Karolina Bley
Redação Beta
6 min readNov 21, 2022

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Copa no Qatar é a primeira disputada no Oriente Médio. (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Desde que foi escolhido em 2010 como sede da Copa do Mundo de 2022, o Qatar não é unanimidade entre entidades, seleções que participarão do evento e, inclusive, torcedores de futebol. A principal polêmica em torno do país gira em torno da notícia que revela mais de 6 mil mortes de operários durante as obras dos estádios para a competição. Segundo a entidade Human Rights Watch, os trabalhadores viviam em situação análoga à escravidão, morando em lugares sujos, no calor extremo e com passaportes confiscados.

O país do Oriente Médio enfrenta sérias questões de violações dos direitos humanos. As mulheres, por exemplo, são proibidas de tomar decisões por conta própria, estando sob tutela dos homens. Caso façam sexo fora do casamento, a pena é o açoitamento ou apedrejamento.

A homoafetividade também é criminalizada no país. A pena máxima para uma pessoa LGBTQIAP+ que demonstrar de alguma forma sua sexualidade é o apedrejamento.

Diversas seleções europeias anunciaram que iriam se manifestar contra essas ações LGBTfóbicas durante os jogos, usando uma braçadeira da campanha “One Love”, que busca combater a homofobia no futebol. Porém, com ameaças de punição às seleções por parte da Fifa, os europeus desistiram de realizar o ato.

Copa do Mundo teve o mês de início adiado de junho para novembro por conta do calor do meio do ano no Qatar. (Foto: Rowen Smith/Unsplash)

Os patrocinadores oficiais da Copa do Mundo também sofrem as consequências da rigidez de regras no Qatar. O consumo de bebidas alcóolicas no país, por exemplo, é restrito a poucas áreas. A marca Budweiser, que patrocina a Copa da Fifa, recebeu a notícia de que o país havia proibido a venda o consumo de cerveja no entorno dos estádios dois dias antes da jogo de abertura. O único lugar em que torcedores poderão consumir cervejas é no espaço da Fifa Fanfestival, mas em horário pré-determinado e com valores altos.

Expectativas de quem vai ao Qatar

A Beta Redação conversou com três torcedores brasileiros que estão no Qatar para assistir a Copa do Mundo 2022. Matheus, 26 anos, paraibano de João Pessoa, administra a página Um Torcedor Pelo Mundo no Instagram e já visitou 24 países. Essa será sua segunda experiência assistindo a uma Copa do Mundo pessoalmente, mas a primeira fora do país. Matheus pôde ir aos estádios em dois jogos na edição de 2014, sediada no Brasil.

Matheus irá acompanhar sua segunda Copa do Mundo presencialmente, a primeira fora do Brasil. (Fotos: Reprodução/Instagram)

Já a carioca Karoline Rodrigues, 39 anos, e a catarinense Natalia Kroich, 25 anos, estão indo para sua primeira experiência no maior evento de futebol. Os três entrevistados relataram que não conheciam muito da cultura do Qatar, porém, no momento em que confirmaram sua ida ao país, buscaram se aprofundar mais sobre as peculiaridades do país por meio de pesquisas.

Quanto ao choque cultural, os três entrevistados relataram um receio inicial, que foi aos poucos reduzido em função de todas as pesquisas sobre o Qatar. Matheus já está no Oriente Médio e relata que os cataris amam o Brasil e constantemente pedem para tirar fotos com brasileiros.

Karoline diz estar ansiosa para vivenciar as diferenças culturais que a viagem proporcionará. “Como busquei informações, não estou com nenhum medo ou receio. Eu sou a visitante e devo respeitar a casa que visito”, argumenta.

A catarinense Natalia buscou conversar com uma guia turística que vive há dois anos no Qatar. “No início, fiquei mais insegura na questão do dresscode [como se vestir], mas, depois da conversa com a guia, relaxei muito sobre isso”, diz.

Em relação às violações de direitos humanos no país, Natalia menciona que não possui poder de julgamento sobre a cultura do Qatar, apesar de não compactuar com as ações machistas e LGBTfóbicas. “Existem diversas questões humanitárias, preconceituosas e machistas que me incomodam, mas talvez a Copa seja um evento que traga um pouco mais de abertura para novas culturas e seja uma oportunidade para eles vivenciarem em massa a realidade de outros países”, coloca.

Brasileiros estão ansiosos para conhecer a cultura catari. (Foto: John Simmons/Pexels)

Matheus também não concorda com as regras impostas no Qatar. O paraibano acredita que a Fifa cometeu um erro ao escolher o país do Oriente Médio para sediar uma Copa, pois é um local fechado a costumes corriqueiros na maioria dos países do mundo.

Já Karoline pensa que teriam países menos intolerantes e mais aptos a receberem um evento desse porte. Porém, diz estar impressionada com a estrutura construída no Qatar e que esse não é o momento de criticar a cultura catari.

Comparando às últimas Copas realizadas pela Fifa — na África do Sul, em 2010, no Brasil, em 2014, e na Rússia, em 2018 — , Matheus acredita que, em um contexto geral, a edição de 2022 não irá superar as anteriores e será pior.

A carioca Karoline pensa o oposto. “Estou acreditando que vai ser melhor. Não sei se a Copa deixou algum legado na África e na Rússia, se as infraestruturas estão funcionando ou se viraram elefantes brancos como aqui no Brasil. No Qatar, eu vejo que a Copa vai deixar um legado”, aponta.

Já Natalia não sabe dizer se essa Copa será melhor ou pior que as anteriores, mas diz que, com certeza, será diferente por se desenrolar em um local com uma cultura muito particular.

Com o cronograma de viagem apertado, Karoline acha que não poderá visitar todos os pontos turísticos que gostaria no Qatar. No entanto, acredita que conseguirá ir a uma mesquita e ao Souq [mercado tradicional de Doha, capital do país].

Matheus também pretende fazer turismo para além dos jogos da Copa do Mundo. O paraibano pretende visitar o deserto e outros pontos importantes do país, assim como Natalia, que criou um ‘Top 10’ dos locais que pretende conhecer.

Seleção Brasileira está entre as favoritas ao título da Copa do Mundo de 2022. (Foto: Lucas Figueiredo/CBF)

Quando o assunto é a Seleção Brasileira, Natalia acha que o Brasil estará na final da competição. Porém, seu “sexto sentido” indica que a Argentina será a grande campeã por ser a última Copa do Mundo de Lionel Messi. A catarinense pensa que o jogador merece esse título.

Karoline se diz supersticiosa e que grandes títulos do Brasil, como as Copas de 1994 e 2002, vieram após momentos de sofrimento do brasileiro - como a morte de Ayrton Senna e o racionamento de energia no país, respectivamente. Ela acredita que o mesmo pode ocorrer em 2022, não só pela pandemia que atingiu cruelmente o Brasil, mas também pela divisão política que o país enfrenta. “Acredito que o título venha para trazer alegria ao nosso povo e acalmar os ânimos da galera”, diz.

Matheus também pensa positivo. “O Brasil não chega tão forte desde 2006. Vejo como favorito ao título”, aponta.

Jogos da Seleção Brasileira

A Copa do Mundo de 2022 iniciou no domingo, 20, com a partida entre a seleção do país sede, Qatar, e o Equador. O placar final foi 2 a 0 para os latino-americanos, sendo o Qatar a primeira seleção a receber uma Copa e perder no jogo de estreia.

O Brasil entra em campo pela primeira vez na fase de grupos da competição — pelo Grupo G — na quinta-feira, 24, às 16h, contra a Sérvia. As outras duas partidas acontecerão na segunda-feira, 28, às 13h, contra a Suíça, e no dia 2 de dezembro, às 16h, contra Camarões. Se o Brasil confirmar a classificação para a próxima fase, jogará as oitavas de final no dia 5, caso seja o primeiro de seu grupo, ou 6 de dezembro, se ficar em segundo lugar no Grupo G.

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