O sétimo maior skatista de downhill vive e resiste em São Leopoldo

Yan Bertinati, 25 anos, atua como profissional desde 2014, mas a falta de patrocínio não o permite viver do esporte

Juliane Kerschner
Redação Beta
4 min readNov 12, 2019

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Yan se tornou profissional em 2014, após cinco anos andando de skate (Foto: Arquivo Pessoal)

Os leopoldenses têm muito do que se orgulhar quando o assunto é skate. Afinal, é em São Leopoldo que vive o sétimo melhor profissional da modalidade downhill, Yan Bertinati, 23 anos. Natural de Portão, o skatista mora no bairro Scharlau e, há dez anos, se apaixonou pelo esporte que hoje carrega seus maiores sonhos.

O amor de Yan pela prática surgiu quando o jovem tinha 13 anos e encontrou um skate atrás da sua porta. Nunca mais o largou. “Eu conhecia o longboard, que é um skate maior, e logo minha família viu minha paixão e percebeu que nem videogame eu jogava mais, tudo para ir para a rua. Então, naquele período começou o incentivo. Eles compraram equipamentos melhores e me levavam a lugares que não tinha tanto fluxo de carro, para que eu pudesse me dedicar. Isso foi me influenciando e comecei a frequentar espaços para a realização da prática. Foi assim que conheci pessoas do meio esportivo que me ajudaram a competir”, relata Yan.

O skatista, leopoldense de coração, se tornou profissional após cinco anos praticando e, quatro, competindo. “Com 16 e 17, fui duas vezes campeão mundial e sul-americano júnior. Em 2014, quando tinha de 17 para 18, me tornei skatista profissional, um dos mais jovens a se profissionalizar. O início da minha carreira aconteceu muito rápido, acho que impulsionado pelo meu fascínio”, detalha o jovem.

Yan já participou de campeonatos importantes como o Maryhill Festival of Speed, nos Estados Unidos, o Whistler, no Canadá e, há poucos meses, de um mundial realizado por duas entidades: a World Roller Games e a World Skate. A competição aconteceu na Espanha, onde cada país levou sua seleção e o gaúcho fazia parte da equipe brasileira. A competição garantiu a ele o título de sétimo melhor skatista do mundo na modalidade downhill. E toda essa quilometragem e conquistas de prêmios ocorreram sem apoio financeiro algum.

Títulos conquistados dentro e fora do Brasil

Evento mundial nos Estados Unidos, guiando Derek Rabelo, atleta deficiente visual (Foto: Arquivo Pessoal)

Apesar da curta carreira profissional e da falta de incentivo, Yan já possuiu sete títulos, além de boas posições em campeonatos significativos. “Como profissional fui duas vezes vice-campeão sul-americano, duas vezes vice-campeão brasileiro e campeão gaúcho. Sem contar os títulos da categoria júnior”, diz o skatista.

Mesmo com uma rotina intensa, Yan não para e o próximo desafio é no final de novembro, no Campeonato Brasileiro de Downhill, em Monte Alegre do Sul, em São Paulo.

Dificuldades na carreira esportiva

Evento brasileiro de skate disputado no Espírito Santo: descida de treino na chuva (Foto: Arquivo Pessoal)

Apesar da excelente colocação mundial, Yan enfrenta as mesmas dificuldades de outros atletas brasileiros. “Não possuo patrocínio no momento e apenas consigo fazer projetos, nos quais consigo captar verba, mas somente quando vou competir. Para os treinamentos não há nenhum apoio. Apenas ganho equipamentos, o que me faz continuar firme. Mas, em relação ao restante dos custos, tudo é por minha conta, o que torna mais pesado e mais difícil me dedicar e deixar o skate ser 100% do foco da minha vida. Para me manter, trabalho em uma academia, em uma farmácia e dou monitoria na faculdade para reduzir os custos da mensalidade, pois curso Educação Física”, conta.

O skatista precisa recorrer a ações como rifas e jantares para conseguir bancar os custos de competições, principalmente as disputadas fora do país. “Já fiz jantares típicos, como italiano e espanhol, noite da pizza e hambúrguer, pois meu pai é chef de cozinha. Preciso disso, pois não consigo me manter do esporte. Em 2015, tive o bolsa atleta. Mas, desde 2016 cortaram bolsas para modalidades não olímpicas e, no skate, só duas categorias se mantiveram.

Há a expectativa de que, em 2024, as modalidades downhill e speed passem a integrar os Jogos Olímpicos. Esse é o maior sonho do atleta de São Leopoldo, que pretende ver a modalidade se tornar olímpica e poder fazer parte disso. "Se não puder ser como atleta, que seja como treinador. Por isso faço faculdade”, diz Yan.

O jovem garante que, mesmo com a falta de apoio e incentivo à modalidade por parte de empresas e do Governo, não pretende desistir da prática. “Empresas locais não querem apoiar, pois esse esporte não têm tanta visibilidade, mesmo o atleta tendo uma boa mídia. A gente tenta de tudo que é jeito, mas é complicado e não é de hoje. Há cerca de oito anos me encontro na mesma situação do início. Mas continuo firme e muitas histórias me inspiram a continuar”, conta.

É com esse espirito que Yan segue nas pistas e na expectativa de embarcar rumo a Paris, em 2024.

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