O sétimo maior skatista de downhill vive e resiste em São Leopoldo
Yan Bertinati, 25 anos, atua como profissional desde 2014, mas a falta de patrocínio não o permite viver do esporte
Os leopoldenses têm muito do que se orgulhar quando o assunto é skate. Afinal, é em São Leopoldo que vive o sétimo melhor profissional da modalidade downhill, Yan Bertinati, 23 anos. Natural de Portão, o skatista mora no bairro Scharlau e, há dez anos, se apaixonou pelo esporte que hoje carrega seus maiores sonhos.
O amor de Yan pela prática surgiu quando o jovem tinha 13 anos e encontrou um skate atrás da sua porta. Nunca mais o largou. “Eu conhecia o longboard, que é um skate maior, e logo minha família viu minha paixão e percebeu que nem videogame eu jogava mais, tudo para ir para a rua. Então, naquele período começou o incentivo. Eles compraram equipamentos melhores e me levavam a lugares que não tinha tanto fluxo de carro, para que eu pudesse me dedicar. Isso foi me influenciando e comecei a frequentar espaços para a realização da prática. Foi assim que conheci pessoas do meio esportivo que me ajudaram a competir”, relata Yan.
O skatista, leopoldense de coração, se tornou profissional após cinco anos praticando e, quatro, competindo. “Com 16 e 17, fui duas vezes campeão mundial e sul-americano júnior. Em 2014, quando tinha de 17 para 18, me tornei skatista profissional, um dos mais jovens a se profissionalizar. O início da minha carreira aconteceu muito rápido, acho que impulsionado pelo meu fascínio”, detalha o jovem.
Yan já participou de campeonatos importantes como o Maryhill Festival of Speed, nos Estados Unidos, o Whistler, no Canadá e, há poucos meses, de um mundial realizado por duas entidades: a World Roller Games e a World Skate. A competição aconteceu na Espanha, onde cada país levou sua seleção e o gaúcho fazia parte da equipe brasileira. A competição garantiu a ele o título de sétimo melhor skatista do mundo na modalidade downhill. E toda essa quilometragem e conquistas de prêmios ocorreram sem apoio financeiro algum.
Títulos conquistados dentro e fora do Brasil
Apesar da curta carreira profissional e da falta de incentivo, Yan já possuiu sete títulos, além de boas posições em campeonatos significativos. “Como profissional fui duas vezes vice-campeão sul-americano, duas vezes vice-campeão brasileiro e campeão gaúcho. Sem contar os títulos da categoria júnior”, diz o skatista.
Mesmo com uma rotina intensa, Yan não para e o próximo desafio é no final de novembro, no Campeonato Brasileiro de Downhill, em Monte Alegre do Sul, em São Paulo.
Dificuldades na carreira esportiva
Apesar da excelente colocação mundial, Yan enfrenta as mesmas dificuldades de outros atletas brasileiros. “Não possuo patrocínio no momento e apenas consigo fazer projetos, nos quais consigo captar verba, mas somente quando vou competir. Para os treinamentos não há nenhum apoio. Apenas ganho equipamentos, o que me faz continuar firme. Mas, em relação ao restante dos custos, tudo é por minha conta, o que torna mais pesado e mais difícil me dedicar e deixar o skate ser 100% do foco da minha vida. Para me manter, trabalho em uma academia, em uma farmácia e dou monitoria na faculdade para reduzir os custos da mensalidade, pois curso Educação Física”, conta.
O skatista precisa recorrer a ações como rifas e jantares para conseguir bancar os custos de competições, principalmente as disputadas fora do país. “Já fiz jantares típicos, como italiano e espanhol, noite da pizza e hambúrguer, pois meu pai é chef de cozinha. Preciso disso, pois não consigo me manter do esporte. Em 2015, tive o bolsa atleta. Mas, desde 2016 cortaram bolsas para modalidades não olímpicas e, no skate, só duas categorias se mantiveram.
Há a expectativa de que, em 2024, as modalidades downhill e speed passem a integrar os Jogos Olímpicos. Esse é o maior sonho do atleta de São Leopoldo, que pretende ver a modalidade se tornar olímpica e poder fazer parte disso. "Se não puder ser como atleta, que seja como treinador. Por isso faço faculdade”, diz Yan.
O jovem garante que, mesmo com a falta de apoio e incentivo à modalidade por parte de empresas e do Governo, não pretende desistir da prática. “Empresas locais não querem apoiar, pois esse esporte não têm tanta visibilidade, mesmo o atleta tendo uma boa mídia. A gente tenta de tudo que é jeito, mas é complicado e não é de hoje. Há cerca de oito anos me encontro na mesma situação do início. Mas continuo firme e muitas histórias me inspiram a continuar”, conta.
É com esse espirito que Yan segue nas pistas e na expectativa de embarcar rumo a Paris, em 2024.