Depois de boa arrancada, indústria gaúcha desacelera em 2019

Desempenho vai na contramão do país, mas balanço do semestre ainda é positivo

Arthur Menezes
Redação Beta
5 min readOct 30, 2019

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Interior da fábrica da General Motors em Gravataí. Setor de veículos teve alta de 34,8% em janeiro de 2019. (Foto: GM/Divulgação)

A indústria gaúcha enfrenta dificuldades para alavancar. É o que aponta a Pesquisa Mensal Industrial-Regional (PMI), divulgada no início de outubro. Os dados, oferecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram o segundo mês consecutivo de queda do setor no Estado. A resposta do RS em agosto (em marcador que leva em consideração o desempenho frente ao mês anterior) foi a pior no país, e se mostrou contrária ao verificado na conjuntura nacional. Esse descompasso, aliás, vem sendo frequente em 2019.

Apesar da oscilação, a indústria gaúcha ainda soma números positivos no ano. Levantamento feito pela Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (FIERGS) mostrou que o primeiro semestre de 2019 teve crescimento de 2,7% comparado ao mesmo período de 2018. Na mesma divulgação, com base no Índice de Desempenho Industrial (IDI-RS), o crescimento foi de 5,6% na produção industrial no primeiro trimestre deste ano.

Para o economista da Fundação de Economia e Estatística (FEE) Alfredo Meneghetti Neto, há, sim, uma oscilação nos números, mas nenhum evento anormal. “Como houve um crescimento relevante no início do ano, é natural essa desaceleração. Sendo assim, na comparação com outros estados que cresceram menos em janeiro, é normal que eles tenham números melhores ao longo do período, o que dá a impressão de que houve uma queda, quando apenas ocorreu uma estagnada.” Meneghetti ressalta que o Brasil, de maneira geral, não é mais um país industrial: seu crescimento é no setor de serviços. “Porto Alegre, por exemplo, tem 60% do PIB (Produto Interno Bruto) vindo do setor de serviços. A indústria é importante? Sim, mas o setor de serviços é o que movimenta a economia”, garante.

Voltando à perspectiva das pesquisas do IBGE, no que se refere à variação do percentual acumulado nos últimos 12 meses em agosto, a Produção Física Industrial do RS tem um aumento de 6,6%, sendo que o Brasil, se levado em conta o mesmo critério de análise, tem -1,7%, ou seja, um resultado negativo. Já na variação percentual acumulada no ano, o Rio Grande do Sul acumula 4,9%, enquanto o Brasil mantém os mesmos -1,7%. Mas esses resultados já estiveram melhores em 2019 para o RS. Para entender essa oscilação, é necessário fazer uma retrospectiva dos números do Estado em relação a ele mesmo e às outras federações, além da própria média do país.

Janeiro de 2019: veículos em alta

Os dados setoriais no Estado indicaram que o ramo de fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias em janeiro deste ano — quando a indústria gaúcha mostrou o melhor desempenho do país — tiveram a maior elevação em relação ao mesmo mês de 2018, ficando em 34,8%. Depois vieram fabricação de produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (24,0%) e metalurgia (23,1%). Já os setores com maior queda foram a fabricação de celulose, papel e produtos de papel (-29%) e fabricação de produtos de borracha e de material plástico (-8,7%).

Segundo Róber Iturriet, professor de economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), esse crescimento no início de 2019 é resquício da conjuntura política do final do primeiro semestre de 2018. “O melhor desempenho ficou para o setor de fabricação de caminhões e derivados do petróleo, mas tal comportamento tem relação com a recuperação da greve dos caminhoneiros. De um lado, houve retomada de setores que ficaram parados no ano passado e foram muito afetados, como o setor de combustíveis. De outro, algumas empresas decidiram estabelecer uma frota própria de caminhões, para reduzir a dependência do transporte contratado no mercado. Assim, aumentaram as vendas de veículos para empresas. Então, parte desta recuperação é sazonal, relacionada a eventos do ano passado, que não estão se repetindo no segundo semestre”, afirma Iturriet.

Para o presidente do Sindicato das Indústrias Metal-Mecânicas e Eletro-Eletrônicas de Canoas e Nova Santa Rita (Simecan), Roberto Machener, mesmo com essa oscilação nos números, é preciso olhar com otimismo para o Estado. “Nossa economia está ascendente, só que como é muito variada e tem pontos mais fortes no setor de veículos, que engloba também caminhões e reboques, a variação nestes itens é logo notada”, apontou. Segundo Machener, para haver uma melhora expressiva, é necessário que o governo faça uma série de ajustes, como a redução dos juros, facilitação da instalação e ampliação de empresas, assim como das contratações e finalizações de contratos de trabalho, mudanças na carga tributária. “Esses itens têm custos muito altos”, finalizou.

Agosto de 2019: o RS comparado a outros estados

Houve aumento na produção da indústria em 11 dos 15 estados levantados na pesquisa realizada pelo IBGE na passagem de julho para agosto deste ano. A pesquisa aponta que o maior avanço ocorreu no Amazonas (7,8%) e o maior recuo no Rio Grande do Sul (-3,4%). Outros locais que registraram expansão foram Pará (6,8%), São Paulo (2,6%), Ceará (2,4%), Pernambuco (2,1%), Rio de Janeiro (1,3%), Mato Grosso (1,1%), Minas Gerais (1%), Paraná (0,3%) e Goiás (0,2%). Assim como no RS, três locais tiveram queda: Santa Catarina (-1,4%), Espírito Santo (-1,4%) e Bahia (-0,1%).

Comparados a agosto de 2018, oito estados apresentaram queda, com destaque para o recuo de 16,2% do Espírito Santo. Sete tiveram alta: 13% no Pará e 12,8% no Amazonas são exemplos.

Voltando a agosto de 2019, no acumulado do ano, nove locais tiveram queda, sendo a maior delas no Espírito Santo (-12,8%). Dos seis locais com alta, o melhor resultado foi observado no Paraná (6,5%). Já no acumulado de 12 meses, 10 locais tiveram queda, a mais acentuada no Espírito Santo (-7,2%). Dos cinco locais com alta, o maior avanço ocorreu no Rio Grande do Sul (6,6%).

Segundo Meneghetti, as comparações entre os estados não são precisas quando se fala no segmento de produção industrial, pois há uma desigualdade. “Os estados menores têm mais capacidade de alavancar e crescer, pois eles não têm uma base tão ampla, como São Paulo, Minas Gerais e o Rio Grande do Sul, que têm um acervo industrial muito grande. Isso torna muito difícil competir e comparar com estados do Norte e do Nordeste, que são estados pequenos e têm mais capacidade de crescimento”, conclui o economista.

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