Ninguém escapa do TCC

Alunos e orientadora relatam seus depoimentos sobre o tema que é o pavor dos formandos

Maria Júlia Pozzobon
Redação Beta
4 min readNov 20, 2018

--

Livros, computadores e cadernos é a realidade de muitos alunos que estão fazendo o TCC (foto: Maria Júlia Pozzobon/Beta Redação)

Trabalhos, provas e novos conhecimentos são rotinas de todo acadêmico, independente do curso que frequenta. Um deles, porém, tira a noite de sono de muitos universitários. O temido Trabalho de Conclusão de Curso é realidade para quem chega ao final do curso, e conciliar a pressão do dia-a-dia com a data de entrega do TCC não é uma tarefa fácil para ninguém.

Carolina Matos vive nessa realidade desde as férias de junho. A jovem, de apenas 20 anos, entrega o TCC no dia 26 de novembro e se forma no início de fevereiro do 2019, no curso de Publicidade e Propaganda, na Universidade Federal de Santa Maria. Carolina, que ficou 6 meses fazendo um intercâmbio na Espanha, conta que não cursou a cadeira de projeto acadêmico como seus demais colegas. Então quando retornou da viagem, no início de 2018, foi direto para o TCC1. A estudante explica que em relação aos prazos, tudo sempre ficou para última hora: “Eu sabia que teria prazo de três semanas para fazer uma entrega. Eu ficava 2 semanas agonizando e entrando em conflito com aquele prazo e acabava deixando sempre para a última semana para realmente me dedicar”.

Carol, que acredita não ser exemplo de quem está fazendo o TCC, conta que na reta final precisou de dedicação máxima, adequando seu horário de acordo com as partes ainda pendentes — nestes últimos dias, ela pretende se dedicar apenas para as correções e diagramações necessárias. Apesar do nervosismo, ela acredita que as pessoas tornam o problema mais complicado do que ele realmente é.

Dedicação dos alunos é essencial nesses momentos (foto: Maria Júlia Pozzobon/ Beta Redação)

A relação dela com o orientador é muito boa. “Escolher um professor que tu tenhas afinidade dentro da faculdade é essencial. Ter abertura para falar tudo com minha orientadora facilitou muito o andamento do trabalho”, conta Carolina.

A dica que todo orientador de TCC dá é relacionar o tema com algo que o aluno goste muito. Apaixonada pelo teatro, Carolina dedicou seu trabalho para as artes cênicas.

Paola Basso de 48 anos, professora desde os 18, orienta TCCs de graduação há 5 anos e conta que a intimidade que o aluno cria com seu orientador, muitas vezes acaba atrapalhando. “O orientando acaba tendo acesso até ao nosso telefone pessoal e em geral entra em contato em horários e dias totalmente impróprios, como feriados, finais de semana, tarde da noite. Muitas vezes é só ansiedade”, conta a professora.

Paola ainda deixa claro que avaliar os trabalhos é muito pior do que ser avaliado. Para ela, a responsabilidade de interferir nos trabalhos alheios é algo muito sério. “TCC é o trabalho mais difícil pois tudo precisa ser aprendido e tem alunos que não tem nem noção do uso da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) no final do curso”, conta. Para ela, que é professora do curso de artes visuais da UFRGS, seus alunos se mostram poucos afeitos as regras acadêmicas, o que torna um trabalho escrito uma verdadeiro tortura para alguns alunos. A orientadora ainda comenta que muitas vezes a tensão toma muito tempo na vida do estudante — e só termina se o orientador ajudar. “É muito estressante porque há alunos sem dinheiro para pagar um profissional que faça revisões de português. Então como é o nome do orientador que está em jogo, a gente acaba tendo que revisar até as vírgulas”, acrescenta Paola.

Devido a esse fato, Paola destaca que muitas vezes um orientando acaba sendo um problema para seu orientador, onde alguns alunos tendem a ver o orientador como um “servidor” exclusivo dele. “Dois de meus doutorandos orientam TCCs em uma universidade e fiquei sabendo que os estudantes lá assinam termos, concordando que podem ser reprovados”, acrescenta ela contando que quando os TCCs vão para uma banca final com muitas fragilidades, isso acaba protegendo a universidade e os orientadores de processos judiciais. Sendo um caso totalmente diferente, onde trabalho, apesar das normativas para terminarem no tempo, há muitos alunos que ficam pendurados no TCC por anos. “Não há nada, até que sejam jubilados, que possa ser feito e, mesmo assim, há alunos que entram em processos contra isso”, finaliza Paola.

Gabriela Pizutti, 21 anos, entrega até dezembro seu TCC1, se formando em junho de 2019 no curso de direito da Unisinos. A aluna conta que o trabalho está sendo mais tranquilo do que ela imaginava. “As pessoas nos assustam muito quando o tema é TCC, só que eu consegui me organizar bem e acredito que isso foi essencial para o andamento do trabalho”, contou ela. A estudante que já tinha escolhido seu orientador há um bom tempo, desde o início do ano veio realizando leituras para decidir seu tema final. Gabriela também destaca a ótima relação com seu orientador, o qual é bastante acessível, tanto em redes sociais como e-mails no tempo que for preciso. Além disso, a aluna organizou seu tempo, para não acumular provas da faculdade junto com o trabalho final.

Para apoiar alunos nesta fase, a Coordenação de Atenção ao Aluno da Unisinos, organizou um grupo para estudantes, matriculados em TCC II e Projeto Final II de seus cursos, chamado TCCendo sem Estresse. O grupo oferece apoio e auxílio aos estudantes que procuram espaços de acolhimento e estudo. Dessa forma, os alunos debatem sobre assuntos relacionados ao desenvolvimento do trabalho final, além de compartilhar experiências sobre suas atividades com profissionais da Universidade. Os encontros foram realizados nas segundas-feiras, durante os dias 03/09 até 08/10, no Campus São Leopoldo. As vagas foram gratuitas e limitadas.

--

--