Com preços da carne em alta, vegetarianos têm vantagem econômica
Com R$ 35, valor médio do quilo de alcatra comprado por uma família da região metropolitana, pode-se comprar uma cesta de alimentos na feira
O churrasco do final de semana ou, até mesmo, o consumo diário de carne tem se tornado mais caro para a população. Dados divulgados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) constatam que houve um aumento de 0,9% em alimentação e bebidas e, em carnes, de 0,78% em nível nacional, entre dezembro do ano passado e janeiro de 2019. Referente à Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA), a alta nos preços das carnes foi de 0,08% em janeiro, depois de cair 0,26% em dezembro de 2018.
De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), as vendas para o exterior tiveram um avanço de 6,76% no primeiro bimestre de 2019, comparadas aos resultados obtidos no primeiro bimestre do ano anterior. No entanto, quando se trata do comércio local para consumo, os valores, um pouco mais altos, podem ser significativos no bolso. Em uma análise de dados de Porto Alegre, do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NESPro), é possível ver uma diferença de aproximadamente R$ 17 no valor do corte da alcatra de 2015 para cá.
Alexander Lenhardt, 40 anos, consome carne desde sua introdução alimentar. Junto com a mãe, Vera Regina Lenhardt, 70, que mora na mesma casa, em Sapucaia do Sul, os dois consomem algum tipo de carne quatro vezes na semana. Isso gera uma média de 5kg de alcatra ao mês, divididos em oito bandejas de supermercado, com cada porção tendo o valor na faixa de R$ 23, sendo o preço médio do quilo R$ 35. Além disso, mãe e filho também consomem quatro bandejas de iscas de peito de frango, custando, aproximadamente, R$ 12 a unidade.
No mês, incluindo valores extras para eventuais almoços em família, o total se acumula em R$ 350. Já a família de Bianca Costa, 22 anos, de Porto Alegre, gasta R$ 400 mensalmente entre quatro pessoas. Eles consomem 5kg de cortes menos nobres por semana, custando em torno de R$ 16 o quilo.
A distribuição do dinheiro em alimentos
“O que você compra com R$ 35?” foi a pergunta feita pela Beta Redação para a instrutora de ioga Janaína de Paula, 39 anos, que desde 2005 é adepta do vegetarianismo. “Nossa, isso é muito dinheiro”, respondeu, antes de saber que esse é o valor do quilo da alcatra. Segundo Janaína, a quantia é suficiente para fazer a feira quase completa da semana, para ela e seu marido, Felipe Pires Franco, 37, que moram em Porto Alegre. A compra inclui frutas, legumes e verduras. Ao ser informada dos gastos médios mensais em carne das famílias de Alexander e de Bianca, Janaína conta que destina basicamente a mesma quantia a toda a sua alimentação.
“Eu e meu marido temos um combinado de que cada um separa R$ 200 para a feira. Com isso, compramos o necessário para o mês e sempre fica uma sobra para o mês seguinte. Comemos muitos grãos, brotos, saladas verdes e legumes, além de comprarmos frutas e sucos”, comenta Janaína.
Além disso, a instrutora de ioga se diz espantada com os valores das carnes, pois há muitos anos está fora desse mercado. O casal costuma substituir a proteína da carne com grãos e folhas verdes. “Vale citar que nossa alimentação é toda orgânica, porque se fizéssemos feiras convencionais, gastaríamos menos ainda”, ressalta. Para ela, a alimentação é um investimento, uma forma de cuidar da saúde e, assim, poupar com remédios.
“Como eu, gaúcha, morando em um lugar com a cultura do churrasco, poderia não ter boas reações com o consumo do alimento? Demorou muito tempo para eu entender que não tinha uma boa ingestão de carne e parar de comer”, conta Janaína, explicando um dos motivos pelos quais parou de consumir carne.
De acordo com a cotação dos produtos divulgada pela Ceasa, com o valor de R$ 35, que é o preço de 1kg de alcatra, é possível comprar:
- 2 pés de alface
- 2 molhos de couve
- 2kg de moranga
- 1kg de tomate
- 1kg de feijão
- 500g de brotos variados.
Comparação nos valores
Conforme o gráfico acima, os alimentos utilizados para substituir a carne possuem valores bem mais baixos, o que ocasiona uma economia mensal de cerca de R$ 550 para Janaína e seu marido, comparando a alimentação das famílias entrevistadas. Para ela, é uma vantagem que desconhecia. “Eu sabia que tinha uma diferença de valores, mas não sabia que era tanto”, acrescenta. Já Alexander diz que, com os aumentos nos preços, teve que diminuir o consumo de carnes e também substituir a carne vermelha por frango ou porco. Para Bianca, comprar carnes mais baratas, como carne moída, é a solução para tentar economizar.
