Alunos das oficinas oferecidas pela prefeitura em apresentação no auditório da escola municipal Vanessa Ceconet. (Foto: Jeferson Santos)

Oficinas ajudam a manter a cultura viva

Artur Colombo
Redação Beta
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6 min readDec 12, 2017

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Sapucaia do Sul — Apesar de não contar com Secretaria de Cultura, tendo apenas um setor da área ligado à Secretaria de Educação, Sapucaia do Sul, com 130 mil habitantes, incentiva a cultura através de oficinas. Aulas de música, espaço para teatro e incentivo ao tradicionalismo gaúcho são alguns dos aspectos apontados pelo coordenador do setor cultural municipal, Vanderlei Genro.

O principal ponto de fomento à cultura é o centro de eventos municipal: o auditório da escola de ensino fundamental Vanessa Ceconet, com capacidade para cerca de 600 pessoas. Oferecido gratuitamente à população para a realização de diversas atividades, como apresentações de dança e teatro, o local também sedia o centro administrativo do setor de cultura do município. No auditório são ministradas uma serie de oficinas de arte, rap, cavaquinho, violão, teclado e dança de rua.

Auditório da escola Vanessa Ceconet é utilizado como centro de eventos da cidade. (Foto: Artur Colombo/Beta Redação)

Oficinas

As oficinas são abertas nos três turnos para crianças a partir de 10 anos, adolescentes e adultos. Vanderlei Genro conta que jovens em situação de vulnerabilidade social e idosos participam das atividades. Ele diz que residentes de outros municípios também podem se inscrever, já que a procura fica abaixo da capacidade.

William Mendes é o professor das aulas de rap, oficina mais recente, criada em abril deste ano. Mendes desenvolveu a carreira participando de grupos de rap em Santa Maria, sua cidade natal. Atualmente em Sapucaia do Sul, conta que por meio da música mudou a forma de lidar com as adversidades e que pretende passar isso aos seus alunos. “Não quero que vejam o rap como algo violento e sim como uma força de transformação”, explica.

O músico também revelou que a criação da oficina está gerando frutos para a cena do rap da cidade. No final de novembro foi aprovada na Câmara de Vereadores de Sapucaia a semana municipal do hip-hop, ainda sem data definida. Segundo William, o evento pretende suprir uma necessidade no município de oportunidade e espaços dedicados para quem faz rap.

Instrutores das oficinas de violão e teclado, Nelson Luiz Biana, ao meio, e Paulo Camurça, à direita, e a aluna, Eduarda Zandonai, de 12 anos, à esquerda. (Foto: Artur Colombo/Beta Redação)

Outras oficinas populares entre os alunos são as de teclado e violão, ministradas por Nelson Luiz Biana da Silva e Paulo Camurça. Nelson diz que a procura da oficina de teclado é grande. As aulas são individuais, devido à necessidade de dedicação do professor para aprendizado do aluno. Com mais de 20 alunos matriculados, a prática tem uma lista de 12 pessoas em espera.

Já Paulo Camurça, professor das oficinas de violão, explica que para dar as aulas desenha as cifras a mão no quadro, ensinando passo a passo: desde a posição dos dedos às notas musicais, para acelerar o aprendizado. Marceneiro de formação, ele toca violão e cavaquinho há 12 anos. Graças à vontade de passar a paixão adiante, pôde largar a marcenaria e se dedicar inteiramente às oficinas. “Este ano saí da minha banda, onde a gente toca samba raiz. Foi só dois meses que fiquei fora, mas na primeira semana eu já sentia que faltava algo dentro de mim” , explica sobre o amor que sente pela música.

Centro Tradicionalista Gaúcho

Outro espaço que segundo o coordenador de cultura, Vanderlei Genro, é consagrado no município é o Centro de Tradicionalismo Gaúcho localizado no Parque Municipal de Eventos Jayme Caetano Braun, no Bairro COHAB — semelhante ao Parque da Harmonia de Porto Alegre.

Parque Municipal de Eventos Jayme Caetano Braun, inaugurado em 14 de setembro de 2013. (Foto: Divulgação/Prefeitura de Sapucaia do Sul)

O coordenador das atividades tradicionalistas de Sapucaia, Moises Lanes de Almeida, explica que a cultura gaúcha na cidade é forte. Existem seis CTGs e aproximadamente 110 piquetes, além da sede da Associação De Trovadores do Estado Rio Grande do Sul, Luiz Muller. Segundo ele, essa popularidade possibilitou a criação de um espaço maior e permanente para a realização de eventos de incentivo à cultura tradicionalista, com acampamento e montagem dos piquetes na semana farroupilha.

Moises explica a demanda devido à participação da juventude. “Pela primeira vez, este ano, foi realizada uma busca de pequenos cantores. Selecionando nas escolas, e no dia 19 de setembro palco montado no espaço tradicionalista do bairro COHAB, a final. Isso, queira ou não, gerou uma busca de jovens para o movimento muito grande”, conta. E ainda acrescenta que sempre foi uma preocupação sua junto da Secretaria de Educação buscar jovens para o movimento no município e que, hoje, essa preocupação gera frutos, trazendo mais visibilidade ao tradicionalismo gaúcho.

Busca por política de espaços culturais permanentes

Sapucaia do Sul possui ainda espaços novos, como a praça do CEU — Centro de Arte e Esporte Unificado e Praça da Juventude, com subsidio do Governo Federal para a construção e a manutenção realizada pela Prefeitura. A praça do CEU é um espaço de lazer e cultura com oficinas de dança, quadra esportiva, pista de skate, equipamentos de ginástica, playground, auditório, biblioteca e telecentro.

Vanderlei explica que, apesar do movimento do município com relação à criação destes espaços de centralização da cultura, não há ainda uma política permanente para outros segmentos. O coordenador do setor de cultura cita o exemplo dos grafites pintados em um túnel da cidade, que pela falta de manutenção das artes está perdendo as cores.

“Os espaços dos grafites no túnel foram administrados pela prefeitura, mas fazem parte dos processos culturais não permanentes do município. Houveram momentos em que se foi pensado naquele local, mas não há uma destinação de verba especifica para que de cinco em cinco anos haja uma renovação ou uma restauração”, afirma.

Para que sejam criados mais espaços permanentes de fomento à cultura em Sapucaia, Vanderlei explica que “é necessário um conselho de políticas culturais na cidade, que é uma orientação do Ministério Público Federal e que outros municípios possuem”. É necessário trazer vários representantes de seguimentos culturais, discutir a liberação de verbas e garantir espaços de participação e produção cultural na cidade, aponta.

O pode afetar a criação do conselho, além de outros projetos futuros, é o corte de gastos. O maior problema é a cultura estar ligada a uma pasta e não ter verbas próprias. “Nós mantemos este local com a gerencia do gasto. Os municípios em geral estão com uma política de cortes, em função da diminuição das receitas. Não se sabe se no ano que vem não vai diminuir mais”.

Projetos como as novas oficinas de inglês e de produção textual vem sendo postergados em função da falta de verba. A diminuição das finanças também pode afetar os projetos de oficinas musicais nas escolas. “Eu, como professor, acho indispensável a música na formação e no desenvolvimento da inteligência para a vida toda. E acredito que ao longo dos anos se perdeu esse contado da música na escola.”

O coordenador cultural do município ainda explica que, além da centralização da cultura, espaços mais próximos da população seriam importantes. Ele sugere a criação de um centro cultural, disponibilizando ônibus que levasse os alunos das escolas de Sapucaia até o local. “Nós temos a necessidade de levar as pessoas para estes espaços. Acho que se perdeu um pouco o hábito, até por causa do avanço dos meios de comunicação, de frequentar estes espaços”.

Genro lembra que a biblioteca municipal não está localizada no centro da cidade. Ainda assim, de acordo com ele, as ações realizadas até o momento são as melhores possíveis. Apesar das dificuldades, há o esforço para que a cultura se desenvolva em Sapucaia do Sul.

Horários das oficinas:

Dança de rua: quarta, quinta e sextas-feira, entre as 17h e as 21h.

Artes plásticas: terça e quinta-feira, entre as 9h e as 16h.

Teclado, rap e violão: segunda a sexta-feira, entre as 8h e as 14h.

Violão: quinta e sexta-feira, entre as 12h e as 17:30.

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