OMBUDSWOMAN: A reciclagem nas manchetes

A Beta Geral se prepara para a produção de um especial sobre um dos processos que mais nos ajuda a cuidar do planeta

Thanise Melo
Redação Beta
4 min readOct 27, 2022

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Informar adequadamente as comunidades também é uma forma de diminuir os impactos causados ao meio ambiente. (Imagem: Reprodução Freepick)

Costumamos pensar que a reciclagem, os catadores e as catadoras estão distantes da nossa realidade, afinal, o preconceito molda ideais e nos coloca em outro lugar; faz acreditar que essa responsabilidade não é nossa, é do outro. E quem são essas pessoas? Estão pela sua cidade? Quais motivos as fazem recolher materiais recicláveis? Como os trabalhadores escolheram essa função para a vida?

Ser uma pessoa preconceituosa é, em alguma medida, ser alguém que não enxerga a realidade em que vive e isso não prejudica apenas quem é atingido por essa conduta, inclui quem a executa. O preconceito nos torna pessoas cada vez mais pequenas dentro da diversidade do mundo no qual estamos inseridos, e há muito o que aprender se não estivermos atentos: o bonde passa, o caminho será outro e nem a janelinha vai sobrar.

Aprender a sentir, a ouvir o outro, discutir sobre diferentes realidades é a melhor forma de acabar com preconceitos. Neste sentido, os alunos e alunas da Beta Geral vêm tendo uma oportunidade única ao abrirmos espaço para as fontes informarem e fazerem refletir antes sobre as pautas e o próprio conhecimento do jornalismo adquirido até aqui. No dia 18 de outubro, a turma recebeu, de forma online, representantes de projetos, consultorias e cooperativas de reciclagem e sustentabilidade.

No encontro, estiveram presentes a coordenadora da Cooperativa Renascer de Canoas, Michele Ferreira e a socióloga, bióloga e cofundadora da Apoena Socioambiental, Daiana Schwengber, que também é auditora certificada pelo Instituto Lixo Zero Brasil/ZWIA — Zero Waste International Alliance, movimento internacional de organizações que desenvolvem o conceito e princípios Lixo Zero no Mundo.

Diretamente de São Paulo, Carlos Thadeu de Oliveira, do projeto Pimp My Carroça marcou presença falando sobre comunicação. Ele é consultor em trabalhos sociais, especialista em segurança de produtos e vigilância de mercado, e consultor em defesa do consumidor, relações institucionais e pesquisa. Foi redator-chefe no Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, em pesquisas com temáticas comunitárias ambientais, e trabalhou também na Editora Abril, Folha de S. Paulo e Agência Carta Maior.

Ainda, Marcos Geovane Pereira dos Santos, mais conhecido como Markão, participou representando a COOMCAT. De Santa Cruz do Sul, a cooperativa de catadores e recicladores iniciou seu trabalho em 2010. Atualmente é autogerida por 54 catadores e catadoras, que executam o Programa Municipal de Coleta Seletiva Solidária da cidade. Os catadores também administram a Usina Municipal de Resíduos do município.

O jornalismo contribui para ampliar vozes e a sustentabilidade nas cidades. (Imagem: Reprodução Freepick)

Estamos prontos para alertar sobre questões ambientais?

Problematizar o jornalismo ambiental é abrir caminho para um posicionamento não só educador, mas de um cidadão e cidadã comprometidos com a ética social, com o meio ambiente e com a vida. Por mais que a profissão passe por tempos de descredibilização, jornalistas ainda são importantes fontes de conhecimento e responsáveis pela difusão de ideias sustentáveis, como por exemplo, a reciclagem — "celebrada", no Brasil, em 22 de novembro.

As aspas na palavra celebração se devem ao fato de que, atualmente, nosso país produz 27,7 milhões de toneladas anuais de resíduos recicláveis, mas segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), o índice de reciclagem no país é de apenas 4%. Por mais que os brasileiros tenham um grande potencial de reciclar, a falta de conscientização e de engajamento social na separação e descarte correto, e a falta de infraestrutura nas cidades, impedem que esses materiais retornem ao ciclo produtivo de reutilização.

O jornalismo independente tem atuado de forma incisiva sobre a temática ambiental. Os profissionais estão dedicados a ir além da parte educativa, mas também cobram de autoridades melhores condições para que o meio ambiente seja recuperado com mais legislações e posicionamentos firmes sobre quem prejudica a preservação, desde os lugares pouco habitados até as grandes cidades. Enquanto isso, o jornalismo tradicional ocupa espaços extremos de informação: tragédias ambientais e descobertas científicas. É preciso refletir: que jornalistas estamos nos tornando quando o assunto é meio ambiente?

Qual será a sua manchete?

Todas as áreas da vida diária e profissional, em algum ponto, estão conectadas com o meio ambiente; logo, debater a temática é uma necessidade de todos nós. No entanto, ainda hoje, falar de reciclagem, da importância das recicladoras ou dos catadores para o cenário ambiental não é um hábito consolidado entre os meios de comunicação.

Mais do que difundir ideias sustentáveis, é preciso comunicar sobre a coleta seletiva, o reaproveitamento de materiais e resíduos, a degradação do meio ambiente, a recuperação, os ecossistemas, as poluições, a atuação do poder público e a educação de crianças e adultos. Produzir reportagens é fortalecer os laços de catadoras e catadores, recicladoras e recicladores com a sociedade e, mais, é dar visibilidade a estas pessoas que são imprescindíveis para a sustentabilidade das nossas cidades.

Os desafios da reportagem estão em questões econômicas, ambientais e sociais, mas também de enquadramento. Justamente por isso é necessário apoiar e contribuir para ampliar vozes e gerar mudanças. Estarmos atentos à qualidade, à responsabilidade e à profundidade ao propormos pautas e realizarmos entrevistas são as bases para influenciarmos no futuro do meio ambiente e, também, para o futuro do jornalismo, a fim de combater a desinformação sobre o que acontece agora.

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