OPINIÃO: Os segredos da dupla conquista flamenguista

Gustavo Bauer
Redação Beta
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3 min readNov 26, 2019
Flamengo conquistou o título nacional e da Libertadores no mesmo ano, repetindo o feito alcançado pelo Santos de Pelé, em 1963 (Foto: Getty Images)

Quando a fase de um clube é boa, se comemora título até sem entrar em campo. Foi o que aconteceu com o Flamengo no domingo, 24, durante a festa carioca pelo título da Copa Libertadores, conquistada no dia anterior. Isso mesmo, duas taças em um final de semana para ficar pra sempre na memória dos rubro-negros. A primeira foi épica: de virada contra o River Plate, com dois gols em três minutos na finalíssima em Lima, no Peru. A segunda veio de brinde após a derrota do Palmeiras diante do Grêmio, em São Paulo. Nem o mais otimista flamenguista previa isso. Mas aconteceu.

A conquista no Campeonato Brasileiro estava desenhada, era apenas questão de tempo. A distância para os adversários era abissal — não apenas na matemática, mas também dentro das quatro linhas. O estilo de futebol trazido pelo técnico português Jorge Jesus representou uma verdadeira revolução frente ao futebol monótono e burocrático praticado nos últimos anos no país. Em apenas cinco meses, o Flamengo mostrou organização e disposição suficientes para merecer o título brasileiro.

Em razão da disputa da final da Libertadores, o Flamengo havia antecipado seu jogo da 34ª rodada contra o Vasco da Gama. Ao término da rodada, o rubro-negro ficou com 13 pontos de vantagem para Palmeiras e Santos. A dupla paulista pouco ameaçava o clube carioca, mas na matemática ainda tinham a esperança de postular algo maior no campeonato. Quis o destino que as chances fossem enterradas com quatro rodadas de antecedência. Os milhões de flamenguistas que comemoravam nas ruas cariocas agradeceram aos gremistas pelo apoio. Semanas antes, o clube gaúcho foi o responsável pela vexatória derrota por 5 a 0 no Maracanã. Agora, garantiu mais chopp na festa carioca.

Embora a metodologia seja eficiente, cabe destacar que não se faz futebol sem dinheiro. O elenco flamenguista foi escolhido a dedo e custou milhões de reais. Ou será que Jesus faria o mesmo se assumisse o comando do rebaixado Avaí? Acho difícil. Com recursos fica muito mais fácil fazer futebol. Porém, é preciso ser assertivo nas contratações, e nisso o Flamengo deu aula. A começar pela dupla artilheira Gabigol e Bruno Henrique, que juntos somam 40 gols no Campeonato Brasileiro. Sem falar na qualidade técnica com De Arrascaeta e Gérson no meio de campo, os polivalentes Rafinha e Filipe Luís nas laterais, além de Pablo Marí e Rodrigo Caio atuando como exímios defensores. Com o aval da diretoria, Jorge Jesus montou uma seleção e colocou seu nome na história do Flamengo.

Dinheiro é importante, mas não é garantia de vitória. O Palmeiras, por exemplo, segue sem conquistar nenhum título expressivo com um elenco supervalorizado e com o patrocínio da Crefisa. Mesmo assim, o atual Brasileirão nos deixa uma dúvida: teremos um futebol cada vez mais baseado nos altos investimentos, com o topo para quem tem dinheiro e o restante para quem não o tem? Temo que isso ocorra, pegando como exemplo campeonatos europeus, mas ainda acredito na tradição do futebol brasileiro, que surpreende a cada jogo e continua sobrevivendo em todo canto do país.

O fato é que o Flamengo nos mostra uma nova realidade. Prova que é possível jogar bonito na América do Sul - sem pontapé ou simulação, apenas na bola. Podemos estar diante do início de uma nova era no futebol, uma mudança cultural. Desde 1963 um clube brasileiro não vencia o campeonato nacional e a Libertadores no mesmo ano. Na ocasião, foi o Santos de Pelé. Motivos extra para os flamenguistas acreditarem em algo grandioso. Seria o presságio do bicampeonato mundial, repetindo o feito de 1981 contra o Liverpool?

Vamos aguardar.

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