OPINIÃO: VAR é a maior revolução da história do futebol
Das três grandes mudanças do esporte, o árbitro de vídeo é a mais decisiva
“Interferência mínima, máximo benefício”, essa foi a frase utilizada pelo presidente da Fifa, Gianni Infantino, sobre o uso do VAR na última Copa do Mundo. Aplicado pontualmente até junho de 2018, o árbitro assistente de vídeo (do inglês video assistant referee) cravou sua bandeira no evento disputado na Rússia neste ano. O VAR corrigiu decisões equivocadas dos árbitros de campo e trouxe 100% de justiça à Copa. O recurso consolida-se, assim, como a terceira e maior revolução da história do futebol.
Em 1970, na Copa do Mundo do México, o uso de cartões como forma de punição foi introduzido ao esporte. Tudo porque, quatro anos antes, na Copa de 1966, disputada na Inglaterra, os donos da casa enfrentaram a Argentina nas quartas de final. O árbitro era da Alemanha, ou seja, três idiomas em campo: inglês, alemão e espanhol. Ninguém se entendeu e o capitão argentino, Antonio Rattin, injustamente, foi expulso de campo. Não bastasse isso, Rattin, na saída do gramado do Estádio de Wembley, sentou na cadeira reservada à Rainha da Inglaterra, que não estava presente no estádio, e ainda quebrou a bandeirinha de escanteio. Foi o estopim para o chefe dos árbitros à época, o inglês Keen Aston, criar o uso de cartões no futebol.
Quarenta e quatro anos depois, em 2014, outra novidade chegou ao esporte mais popular do mundo: line goal technology, a tecnologia da linha do gol. A Copa do Mundo do Brasil foi a primeira a ter o recurso. Resumidamente: quando a bola ultrapassa, por inteiro, a linha de baixo do travessão, instantaneamente aparece a palavra GOL no relógio do árbitro. A ferramente digital elimina qualquer dúvida se a bola entrou ou não. A própria Inglaterra, em 1966, teve um gol assinalado mesmo com a bola não entrando. Já em 2010, uma Copa antes da criação desta tecnologia — que, assim como o VAR, foi testada pontualmente em outras competições com a chancela da FIFA — , a Inglaterra teve um gol legítimo, do meio-campista Frank Lampard, anulado de forma incorreta. Na primeira oportunidade, os ingleses acabaram campeões do mundo, na segunda, foram eliminados.
Presente em competições oficiais de menor importância, como o Mundial de Clubes de 2016, o auxílio do árbitro de vídeo também foi usado nas finais da Libertadores 2017, da Recopa Sul-Americana 2018 e em campeonatos europeus, como o italiano e o alemão. Na Europa, das cinco principais ligas nacionais, Espanha, Inglaterra, França, Itália e Alemanha, as duas últimas já estão atuando com o mais novo recurso tecnológico. A Uefa ainda não implementou o VAR na Liga dos Campeões, nem na Liga Europa.
Na Copa do Mundo da Rússia, o sistema foi usado 335 vezes. Contudo, somente em 17 oportunidades o árbitro principal interrompeu a partida para consultar o vídeo e reverter um erro ou ter convicção de um acerto. Ou seja, em 17 ocasiões ao longo da Copa do Mundo, que teve 62 jogos, o árbitro de campo prejudicaria alguma seleção em benefício de outra. Quantas histórias poderiam ser mudadas com esses erros, não é mesmo?
Finalmente, não haverá mais injustiças no futebol, como a bola que não entrou na final de 66, o passinho à frente de Nilton Santos em 62, la mano de Dios de Maradona em 86, o gol anulado da Espanha em 2002, entre outros escândalos. Isso citando apenas Copas do Mundo. Teremos um esporte com total transparência. A frase clichê de “que vença o melhor” nunca fez tanto sentido. Só falta o futebol brasileiro aderir totalmente ao VAR para que erros da nossa arbitragem amadora sejam diminuídos.
O VAR é absoluto. Soberano. Não erra. Quem erra são os juízes na interpretação de cada lance. Mas não adianta dar a melhor guitarra para alguém que não sabe sequer uma nota: enquanto houver árbitros ruins, haverá erros de interpretação. Mas o VAR, que não se engana, é o futuro do esporte, ou melhor, já é o presente.