CRÍTICA: Original, mas raiz

Impressões sobre o novo single do Alice in Chains

Alessandro Garcia
Redação Beta
3 min readMay 11, 2018

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No dia 3 de maio, a banda estadunidense Alice in Chains rompeu um hiato de cinco anos sem músicas inéditas, trazendo a público seu novo single. The one you know é a primeira amostra do álbum, de nome ainda desconhecido, prometido pelo grupo para o segundo semestre de 2018.

A nova canção é construída em cima de um riff contundente que dita o andamento da maior parte da composição. Em entrevista concedida para a SiriusXM — uma rádio de Seattle — , Jerry Cantrell, vocal, guitarrista e líder da banda, relatou uma influência de David Bowie na construção desse componente. “Eu estava pensando um pouco sobre David Bowie quando estava compondo. Possui uma mistura de metal da canção de Bowie Fame”.

William DuVall (E), Sean Kinney, Jerry Cantrell, Mike Inez (D). (Foto: Página da Alice In Chains no Facebook)

A hostilidade criada na introdução pelo riff da “guitarra 1” e pelas exclamações da “guitarra 2”, somadas à entrada gradual do baixo de Mike Inez e das linhas de bateria de Sean Kinney, é rompida pelos vocais de Jerry Cantrell e William DuVall, que abrem o primeiro verso da canção.

Esse primeiro contato com a música é um misto de tensão e suavidade. O cenário é do disparo de uma sirene de emergência num ambiente em que o perigo é a normativa. A aflição é constante, porém esperada e amigável.

A estética vocal do primeiro verso é baseada num sistema de pergunta e resposta, onde a voz principal encorpada por um delay (efeito de atraso) dá o primeiro ataque de tensão. Este, por sua vez, é resolvido na resposta combinada de dois vocais desenhados em frequências diferentes.

Quando a música encaminha o refrão temos o clássico Alice in Chains, frases marcantes de vocais estendidos. As quebras rítmicas bem pontuadas e o uso dos silêncios para compor o ambiente musical também são parte do refrão de The one you know, e trazem à memória os álbuns Black Gives Way to Blue (2009) e The Devil Put Dinosaurs Here” (2013), dando a dimensão da contribuição de William DuVall à sonoridade do grupo.

O músico assumiu os vocais na retomada da banda em 2009. Na ocasião, o Alice in Chains estava parado desde 2002, devido à morte do vocalista Layne Staley.

Registro da execução ao vivo do novo single do Alice in Chains.

Após o primeiro refrão, temos a repetição completa da estrutura até então apresentada da música. São executadas uma variação da introdução, segundo verso e refrão.

Na parte do solo instrumental, após esse segundo refrão, temos Jerry Cantrell brilhando com seus solos guitarra. Suas construções melódicas, uma assinatura do Alice in Chains, estão bem representadas por exclamações e frases longas de guitarra.

Outro elemento em destaque são as linhas quebradas e nada previsíveis da bateria de Sean Kinney, que dão, em conjunto ao baixo de Mike Inez, o movimento complexo característico das canções da banda grunge.

Na sequência, temos uma espécie de interlúdio que marca uma quebra na estrutura até então vigente. Essa é, talvez, a parte mais intrigante da canção. Ela é construída em cima de melodias de difícil assimilação. Esse trecho traz uma certa confusão que por fim se traduz em beleza.

Compondo perfeitamente com o instrumental está a letra da canção. Nela, mais uma vez se nota a poética característica da banda. Temáticas sombrias e autorreflexivas. Nesta composição, uma interpretação possível é de que se trata de uma questão interna, das múltiplas faces e nuances da personalidade de uma pessoa. Mas em se tratando de Alice in Chains essa é só uma possibilidade.

Por fim, The one you know é um excelente indicativo do que será o novo álbum da icônica banda expoente do movimento grunge. A canção traz um Alice in Chains maduro e conectado a estéticas sonoras atuais, mas que ao mesmo tempo mantém sua identidade musical, diferencial que a alçou ao sucesso.

Em entrevista, Jerry Cantrell fala à Rádio SiriusXM sobre “The one you know” e o novo álbum.

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