“Os projetos se escolhem”, conta Humberto Gessinger sobre regravações

Em novo trabalho, artista regrava músicas de disco lançado há 25 anos pelo grupo Engenheiros do Hawaii

Thiago Greco
Redação Beta
5 min readNov 30, 2018

--

Humberto retoma o baixo em duas músicas do álbum. (Foto: Túlio Martins/Reprodução, Facebook Humberto Gessinger)

O ano é 1993. Os Engenheiros do Hawaii lançam mais um disco. Com 12 faixas, quatro inéditas, Filmes de Guerra, Canções de Amor estava disponível para os fãs. Agora, 25 anos depois, Humberto Gessinger regrava as quatro músicas que eram novidade naquele álbum no projeto rebatizado com a inversão do nome original: Canções de Amor, Filmes de Guerra.

Quanto Vale a Vida, Realidade Virtual, Mapas do Acaso e Às Vezes Nunca foram regravadas pelo cantor. Nas duas primeiras, Gessinger tocou viola caipira com Paulinho Goulart no acordeon e Nando Peters no baixo. Nas duas últimas, o vocalista voltou para seu bom e velho baixo na companhia de Rafa Bisogno (bateria) e Felipe Rotta (guitarra).

Para falar um pouco mais do novo lançamento e do atual momento da carreira, Humberto Gessinger conversou por e-mail com a Beta Redação:

Em 1993, no lançamento do Filmes de Guerra, Canções de Amor, tu imaginavas um dia regravá-lo? E mais, com a mesma relevância — ou até maior — que lá atrás?

É sempre muito difícil ter uma noção clara do que a gente está fazendo no momento em que faz, no olho do furacão. Mas sempre achei que o compositor poderia transcender o intérprete, que haveria possibilidade de releituras. Em tempos diferentes ou por pessoas diferentes.

Ainda fazendo um paralelo de épocas. Podemos perceber que o público dos teus shows é variado no quesito idade. Na tua opinião, isso se deve a quê?

Além da questão da qualidade, que sempre é subjetiva, acho que meu trabalho é fiel a si mesmo, tem continuidade. Os discos se relacionam, dialogam e lançam novas luzes uns sobre os outros. Mesmo que algumas coisas fiquem datadas, isso faz parte, elas continuam vivas.

Qual o segredo de conseguir viver um auge por mais de três décadas? Normalmente as bandas e as músicas vão e vêm. Tu não. Tu foste e ainda não voltou.

Não é algo que possamos controlar. Não pensar nisso ajuda. Acreditar no que se faz e avançar, seguir sempre buscando refinar sua arte, seu ofício, é fundamental.

As novas plataformas de streaming, YouTube e Spotify, por exemplo, facilitam o contato do público com o artista e a divulgação dos novos trabalhos? Em contrapartida, diminui o acesso dos fãs aos itens físicos como CDs e DVDs?

Sim. Claro que isso influencia, mas são questões mais tecnológicas e industriais do que artísticas.

Tudo Está Parado, Insular, Louco Pra Ficar Legal, Faz Parte, 30 anos da Revolta dos Dândis… tem como escolher o que mais deu orgulho de produzir nesses últimos lançamentos e regravações de 2013 pra cá? E quando tu estás no palco, tem alguma música que quando chega a vez dela tu comemoras por prazer em tocar?

Sim, tem canções que dão mais prazer de tocar. Mas elas sempre mudam, são fases. Às vezes, o que faz com que a música seja a preferida do momento nem é algo importante, pode ser um detalhe, geralmente instrumental. Coisas bem específicas que as pessoas nem notam. Atualmente, Bora e Surfando Karmas e DNA são as músicas que me dão este sabor a mais. Quanto aos trabalhos mais recentes, inSULar é o mais robusto. A versão ao vivo dele é importante por registrar um super show em BH ao lado de gravações mais intimistas na Serra Gaúcha. E o Ao Vivo Pra Caramba tem as quatro músicas inéditas que estão sendo muito importantes no show atual.

Um detalhe que pode passar despercebido para o público geral é o estilo dos clipes que tu manténs desde 2010. Segue um padrão de imagem, takes, fotografia, estética etc. A criação dos clipes, em geral, passa por ti?

Passa por mim, mas devo confessar que não seja algo que me estimule muito. Escolher um single e dar a ele uma leitura visual são coisas que faço por serem inevitáveis.

Como é o processo de seleção das músicas e de álbuns a serem regravados? É um processo coletivo ou do Humberto? E quais os critérios de seleção?

Os projetos se escolhem. Basta ter sensibilidade para captar o que teu o coração tá pedindo e o que pode ser entendido pelo ambiente. Nem sempre os dois fatores andam juntos. Às vezes, o coração pede algo muito difícil de ser entendido. Neste caso, vale a pena acreditar nele.

Além das regravações e últimos lançamentos, os fãs podem esperar autorais inéditas para 2019? Com uma nova turnê após o encerramento da atual?

Em janeiro vou dar um tempo nos shows para dar os últimos retoques na preparação do disco que gravarei em março. Ainda vão rolar alguns shows da tour Ao Vivo Pra Caramba no primeiro semestre. O disco e a nova tour chegam no segundo.

Nas músicas regravadas de 2013 pra cá sempre tem uma palavra ou outra diferente da versão “original”. Como “tu ir embora antes do Gre-Nal enquanto tu surfava”, em Karmas e DNA, como “os garotos não sabem mais português enquanto somos quem podemos ser” e outro exemplos que poderiam ser citados. Mas isso é uma alteração planejada, lá atrás tu tinhas ficado na dúvida do que exatamente colocar na letra ou pode ser mais uma ação natural dos ensaios?

Os dois casos acontecem. Geralmente, pintam de surpresa até pra mim, no meio de um show. Mas mesmo que a versão alternativa já exista antes da gravação, algumas ideias devem permanecer “alternativas” e outras oficiais. Assim rola uma perspectiva mais interessante, um jogo de claro e escuro.

O Grêmio te influencia em algo nas criações?

Diretamente não, mas como faz parte da minha vida, das minhas paixões, algo sempre transborda. Apesar de eu achar que o futebol tá muito estranho hoje em dia. O business tomando conta, agora até torcedor profissional existe! Tá perdendo a espontaneidade.

Já descobriu quanto vale a vida?

Segredos que a gente não conta, perguntas que a gente não faz.

As releituras já estão nas plataformas digitais oficiais de Gessinger no Spotify e YouTube. A venda de forma física é pelo site www.stereophonica.com.br.

--

--